10 discos nacionais interessantíssimos lançados em 2020.2

(Foto: Reprodução).

Nem parece, mas 2020 já se foi…

Enquanto esperamos pela vacina chegar em nossos braços ansiosos e protegidos, não podemos deixar de ver que o ano deixou uma lista extensa de bons discos lançados nos últimos 12 meses.

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Não sei se você lembra, mas, em agosto do ano passado, eu listei aqui no site 10 discos nacionais interessantíssimos lançados no primeiro semestre de 2020. Cá estou eu, para trazer para cada leitor viciado em música, a lista com 10 discos nacionais interessantíssimos lançados no segundo semestre de 2020!

Mais uma vez, não estarei trabalhando com compilados que tenham menos de 7 faixas (os famosos EP’s) e também não incluí registros ao vivo nessa lista. Foi realmente um achado cada um desses que inclui o top 10 de discos lançados entre 1º de julho e 30 de dezembro de 2020.

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Ah, e por questões práticas, a lista está aqui em ordem alfabética. Vamos conferir?


1. Alegria, de Breno Ruiz e Roberto Leão

Numa conexão Brasil-Portugal, o pianista Breno Ruiz se une ao cantor português Roberto Leão no disco Alegria – que garimpa o tema da melancolia na música brasileira dos últimos 100 anos. O disco é uma travessia pela música de Heitor Villa Lobos, Tom Jobim, Dorival Caymmi e Breno Ruiz – no chorar e no cantar do duo voz e piano. Em tempos de tantos distanciamentos, Alegria é um deleite sincero e sofrido dos além mares que nos cercam e nos libertam.

Não deixe de ouvirViola de Bem Querer, Por Causa de Você e O Que Tinha de Ser.

2. Amor Delivery Vol. I, de Tiago Máci

O segundo disco de Tiago Máci, cantor e compositor maranhense, nos serve agora o conceito do amor via entrega. Esse serviço de delivery tem samba, tem bossa, tem reggae, tem batucada, tem participações especiais (cantando e compondo) e tem uma produção primorosa da Casaloca. Sustentando o discurso do amor em tempos sombrios, Tiago Máci nos mostra que é possível continuar pedindo por isso, na esperança de que alguém venha nos entregar; na falta dele (o amor), nós vamos à sua busca e, te digo mais: ouvir Amor Delivery Vol. I é um ótimo começo!

Não deixe de ouvir: Tá Vendo Baby, Magma e À Musa.

3. Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água, de Luedji Luna

Em seu segundo disco de estúdio, a cantora e compositora baiana Luedji Luna nos conta, nos reconta e nos desmonta sobre o amor em Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água. Nesse disco, Luedji abraça o jazz, o blues e a baianidade de seu som já tão característico. É poderoso quando podemos ouvir as narrativas ditas e benditas de uma mulher preta – que não vem só! Ao longo do trabalho, podemos ouvir as vozes de Conceição Evaristo e Tatiana Nascimento, duas referências advindas da literatura. Esse é um disco para se degustar a cada pedaço, a cada gota, até que estejamos todos submersos debaixo d’água junto com a Luedji.

Não deixe de ouvir: Chororô, Lençóis e Goteira.

4. Cinco, de Silva

Chegando ao seu quinto disco de inéditas, Silva lança Cinco e já inicia o disco dizendo que, quando cansa – adeus. A cada trabalho, Silva se sente mais confortável para cantar (e encantar) o Brasil que há dentro dele e o Brasil que ele sente. É um disco assentado nas raízes da música popular brasileira, com uma mistura elegante de reggae, bossa nova e samba. As composições nos permite entender porque hoje o capixaba é um dos grandes nomes da música brasileira, contando ainda com as versáteis companhias de Anitta, João Donato e Criolo no álbum. Cinco é um disco descontraído e confortável em sua pele, o que deixa a escuta (ainda mais) deliciosa!

Não deixe de ouvir: Sorriso de Agôgô, Você e Soprou.

5. Do Lado de Flora, de Flora Matos

Do Lado de Flora é um apanhado de rimas ricas e um flow versátil da rapper Flora Matos, natural de Brasília. Produzido, composto e gravado pela própria Flora, esse disco mostra a versatilidade da artista enquanto arquiteta de beats e letras versadas. Acertando em todos os encaixes, o disco fala sobre as relações de amor consigo mesma e com os outros que lhe rodeiam. O lado de Flora é, na verdade, bem dentro dela mesma enquanto mulher e rapper – o disco é a prova disso!

Não deixe de ouvir: Toca discos, Conversar com o Mar e Água de Coco.

6. Do Meu Coração Nu, de Zé Manoel

O novo trabalho do cantor, compositor e pianista Zé Manoel se chama Do Meu Coração Nu e nos conta, com riqueza de melodias e profundidade composicional, a história de seus antepassados, sendo elas sociais, políticas e musicais. “A música brasileira é afrobrasileira”, como é dito no disco. O piano sofisticado serve à lírica de Zé Manoel, que traz consigo vozes de mulheres que com ele colaboram em sua estrada e em sua vivência. Do Meu Coração Nu é um canto suave e profético sobre onde podemos chegar entoando o nosso coração sem amarras: à nudez que abre as possibilidades para o novo – que nem é tão novo assim.

Não deixe de ouvir: História Antiga, Pra Iluminar o Rolê e Não Negue Ternura.

7. Galinheiro, de Hiran

Hiran lança aqui seu primeiro disco e já chega metendo os 2 pés na porta do híbrido entre o rap e o funk de um cara que é natural da Bahia. Com beats arrojados, Hiran fica livre no disco para passear nas letras românticas e nas políticas quase ao mesmo tempo. A música que dá título ao disco deixa claro: Hiran chegou cedo no cenário, cantando com as galinhas, mas sem medo algum de cantar de galo e entrar na rinha que é o rap game. O resultado é um disco ousado e diversificado, que conta ainda com participações de Majur e Tom Veloso, entre outros.

Não deixe de ouvir: Galinheiro, Gosto de Quero Mais e Desmancho.

8. O Líder em Movimento, de BK’

BK’, como é conhecido Abebe Bikila, é um rapper carioca que chega em 2020 ao seu terceiro disco – O Líder em Movimento. Com traços de afrofuturismo nas rimas e nos beats, o disco passeia pelo rap, pelo jazz e até por samples consagrados, contando a história de vitória de um líder que está em constante movimento em busca de suas raízes pretas. O Líder em Movimento é impecável e já é um dos melhores discos do ano, narrando um pouco sobre sua vivência, sua intelectualidade e sobre a quebrada que é esse Brasil que nos contorna.

Não deixe de ouvir: Movimento, Poder e Visão.

9. Olorum, de Mateus Aleluia

Líder do histórico grupo musical Os Tincoãs, Mateus Aleluia chega à sua terceira obra solo aos 76 anos de idade – o disco Olorum. Com a brasilidade pulsante, Mateus invoca o que há de mais inovador e mais arraigado na música brasileira – a África. O trabalho percorre em acordes pulsantes de violão, as mais diversas linhas percussivas e de sopros, advindas da África que habita em Mateus e em cada um de nós. Destaco ainda as participações das Pastoras do Rosário, João Donato, Lenna Bahule e Thiago França. É impossível não se sentir atravessado(a) pela espiritualidade que o disco provoca – assim mesmo, numa provocação de que há tanto a ser descoberto e aqui está Mateus, nos permitindo ouvir um pouco de sua experiência.

Não deixe de ouvir: Olorum, Canta Sabiá e Pimenta Mumuíla.

10. The Fine Line Between Loneliness and Solitude, de Gustavo Bertoni

A linha tênue entre o palpável e o etéreo se presentifica no terceiro disco da carreira solo de Gustavo Bertoni – vocalista da Scalene. A imersão no disco provoca um deslocamento de espaço-tempo no ouvinte e nos transporta para esse lugar desconhecido que é, na verdade, a fina linha entre a solidão e a solitude. Canções tristes nos envolvem em meio a um folk experimental de altíssima qualidade. The Fine Line Between Loneliness and Solitude é um mergulho de cabeça nas emoções que a música (a arte!) pode causar em cada um de nós.

Não deixe de ouvir: Waves, Mirror in the Room e Rabbit Hole.


Com essa matéria, eu encerro aqui minha temporada de audições de discos nacionais de 2020, deixando vocês com os 20 discos mais interessantes que escutei durante esse ano. É uma prática que começou sozinha e hoje posso compartilhar com vocês aqui no SobreOTatame!

A largada para a música nacional em 2021 já foi dada e nos vemos mais aqui, ao longo do ano!

Amanda Drumont é produtora e roteirista em formação. Atua em São Luís como produtora, curadora, redatora, crítica e roteirista. Escreve conteúdos voltados para música e cinema, além de produzir audiovisual em diversos formatos. Foi uma das juradas do V Rota Festival de Roteiro do Rio de Janeiro. Assume os eixos de produção e financiamento do SobreOTatame.com e sonha em ter um podcast pra chamar de seu.

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