Primeira chuva de dezembro. 2016 indo embora. Que puta ano! Cheio de baixos, devo admitir. Mas rolaram uns altos que trouxeram um afago gostoso no meio do turbilhão – o SoT, por exemplo –. Fiquei procurando uma analogia que abarcasse o Feeling, do momento e do ano. Lembrei de uma cena do filme Clube da Luta. A cena em que Tyler entorna soda cáustica na própria mão, quando diz a si mesmo que não pode fugir para suas defesas, que ele precisava sentir. Porque se até agora foi uma história. Daqui para a frente será outra história. Esse é o momento mais importante da nossa vida. Eis 2016!
Nas simbioses que criamos, vivemos sempre em torno de vários desejos. No coletivo desejamos teoricamente o bem maior. Um país sem corrupção, 2016 trouxe o oposto, foi um banho sangrento e sem previsão de fim. Um mundo menos machista e misógino, 2016 trouxe uma pesquisa dizendo que 30%, UM EM CADA TRÊS, considera as mulheres culpadas pelos estupros sofridos. Queríamos um pouco mais de tolerância e respeito, e observamos atônitos uma transexual ser espancada a chutes até morrer. O ano de 2016 foi treta grande e tivemos que ter estômago.
Mas o que incomoda é saber que a mão queimando em terceiro grau com o ácido, é nossa. Mas não sentimos a dor real e flamejante, não percebemos a carne sendo queimada e consumida até só sobrar o oco (se não captou a referência, entenda aqui!). Encontramos um lugar seguro em nossas cabeças com projeções de uma realidade que não existe. O mundo anda mal, e 2016 veio jogar isso em nossas lindas faces. Cobramos essa conta de quem? Não diga que é do Estado, nem da igreja, de Deus ou Diabo. Essa conta é nossa e o preço tem sido alto.
Mas nem tudo foi caos.
Na contramão do sistema, observamos maravilhados uma nova geração cheia de vontade por mudanças e trabalhando duro nisso. Campanhas com toda forma de amor quebrando o preconceito e a intolerância no meio. Coletivos, culturais, movimentos e gente sendo gente como bem queira SER. Um cenário mais otimista, um pouco de equilíbrio em meio ao caos. O mundo anda mal, sim. Mas há quem lute por algo que ultrapasse o próprio umbigo e se permite sentir tudo. Nunca antes foi tão importante ser empático, se colocar no lugar do oprimido e lutar contra a opressão, seja ela qual for. Gratidão a 2016 por trazer luz sobre esses – G R A T I D Ã O –.
“E sobre 2017, Joceline?” Esperei como quem espera inconscientemente os primeiros passos, a primeira queda, o primeiro amor. Esperei porque 2016 tem me preparado para viver ele. E como quem não tem medo de se apaixonar, mesmo com o coração todo remendado, estou indo de peito aberto. O mundo não vai melhorar tão cedo, o Brasil então, nem se fala. É preciso ter coragem para olhar embaixo da cama e saber se o bicho papão vai estar lá, apesar do medo. Em todo caso, precisamos lembrar de acender a luz, sempre haverá de existir luz.
A gente se vê por aí no próximo ano!
Gratidão, aprendizado, e coragem pra seguir em frente acendendo luzes com esperança…
Se 2016 foi dor e cicatriz, que 2017 seja foco, persistência e vitória. (Em algum lugar, de alguma forma real).
Excelente texto e reflexão!
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