Cena de Terminal Praia Grande, filme dirigido por Mavi Simão (Foto: Reprodução).
Chegamos ao último dia do evento e eu não poderia deixar de falar sobre os dois longas-metragens selecionados para a 3ª edição da Mostra Novo Cinema Maranhense.
Guriatã (dir. Renata Amaral) e Terminal Praia Grande (dir. Mavi Simão) foram os selecionados e você confere a seguir como foi a minha experiência assistindo-os.
Terminal Praia Grande (Dir. Mavi Simão)
Crítica: O primeiro longa-metragem dirigido e roteirizado por Mavi Simão, Terminal Praia Grande nos posiciona numa São Luís sombria e misteriosa, ambientando o espectador no cotidiano de Catarina. Catarina (Áurea Maranhão) é quem conduz a história com a fluidez de seu andar mesclado com a densidade de seu olhar.
A primeira metade do filme é quase que inteiramente sustentada pelo belo trabalho de imersão de Áurea Maranhão e pela montagem translúcida de Lucas Sá.
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A segunda metade de Terminal Praia Grande estabelece os mistérios do filme: é um horror contemplativo sobre a finitude da vida e das coisas. É adornado de alegorias e discute implicitamente os limites da nossa consciência e do nosso inconsciente, ao passo que reflete em que pé o destino nos encontra.
Na tentativa de elevar os adornos alegóricos, a narrativa se esconde atrás de uma boa direção técnica. É tanta metáfora visual em pouco mais de uma hora de filme que, na ausência de diálogos, corre o risco da narrativa se tornar aberta às suas infinitas possibilidades.
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O trabalho de Mavi Simão dirigindo é bem denso, transmitindo o seu olhar para as lentes das câmeras que filmam o longa com sucesso. Terminal Praia Grande é, também, um exercício de imersão numa São Luís que contrasta com o que você (acha que) vê todos os dias.
Guriatã (Dir. Renata Amaral)
Crítica: Guriatã é como se chama um pássaro que possui um canto brilhante: esse é Humberto de Maracanã, figura emblemática do bumba-meu-boi maranhense. O documentário musical Guriatã traça uma linha do tempo da trajetória de Humberto dentro do boi de Maracanã e as raízes indeléveis que ele fincou na tradição popular maranhense.
Dividido em atos demarcados pelas revoluções que Humberto promoveu no Boi de Maracanã, o espectador certamente se surpreenderá com os anseios pessoais e íntimos do toador. Desde cedo questionando seu lugar dentro dessa cultura popular, Humberto é atravessado pelo desejo de estar ali, mesmo que racionalmente não preferisse. É assim que ele se torna, não apenas toador, como líder de uma era.
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A direção de Renata Amaral é clássica, mesclando as entrevistas e as apresentações do Boi, junto às toadas que embalam a trilha sonora do filme. Em alguns momentos o enredo se arrasta (o filme tem pouco mais de uma hora e vinte minutos), mas é rapidamente posto de lado frente a figura carismática e magnética que é Humberto.
A 3ª edição da Mostra Novo Cinema Maranhense é uma iniciativa da Jirau Filmes e da IPECINE, contemplados através de edital emergencial da Lei Aldir Blanc.
O evento ocorre on-line e gratuitamente no site novocinemamaranhense.com.br, entre os dias 19 e 22 de dezembro, com o objetivo de fomentar o circuito audiovisual maranhense.