Catharina Bravin em cena do clipe de Prevejo, dirigido por Sunday James (Foto: Divulgação).
Dando continuidade ao trabalho de crítica exercido por mim (Amanda Drumont) na 3ª edição da Mostra Novo Cinema Maranhense – hoje (20), você confere na íntegra os selecionados e minhas críticas da categoria videoclipe.
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Dividida em duas partes, aqui você confere a primeira metade da lista dos clipes selecionados na mostra.
Paulão – TQT
Crítica: A dupla que divide a direção de TQT é Arthur Rosa e Ingrid Barros, dois fotógrafos sensíveis que mostram toda a sua personalidade artística dentro desse trabalho. TQT tem uma premissa aparentemente simples: duas pessoas se conhecendo e aprendendo a dançar reggae juntos, uma conduzindo a outra.
O que não estava no script era, sem dúvidas, que esse seria um caso bem sucedido de “menos é mais”. Com um único cenário e uma única dupla de protagonistas que dividem a tela com Paulão, TQT nos teletransporta automaticamente para uma casa de reggae onde a única regra é sentir a batida da canção que toca na radiola.
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Destaco o casal que protagoniza o clipe, a direção de arte que criou uma ambientação muito bonita e a direção que conduziu cada segundo do clipe como quem conduz um reggae à dois.
Catharina Bravin – Prevejo
Crítica: Dirigido, fotografado e editado por Sunday James, o clipe de Prevejo mostra a versatilidade do Sunday quando o assunto é audiovisual. Com Catharina cantando cada verso da música diretamente para a câmera, Sunday consegue extrair as mais diversas emoções da cantora e, consequentemente, coloca o espectador na mesma posição.
Com um trabalho de pós-produção com sobreposição de imagens e cores, o clipe prevê uma verdadeira viagem pela composição da música. Quando Catharina diz “meu corpo se move ao som”, ela fala com a câmera também e ela responde – reflexo da fluidez de um excelente trabalho de direção.
Enme – Killa
Crítica: Killa é, antes de tudo, uma celebração. Desde o seu momento inicial, a ambientação do clipe já nos transporta para uma confraternização entre conhecidos. O tema? É a cultura maranhense em sua mais alta patente – as radiolas de reggae.
Jéssica Lauane aqui dirige na companhia de uma fotografia feita por Jefferson Carvalho, com cores quentes e vibrantes. A montagem dá atenção para cada peça que forma o videoclipe, sem deixar escapar qualquer detalhe. Enme é a protagonista dessa narrativa e mostra uma possibilidade outra de conexão da juventude a partir das artes e culturas periféricas.
Tiago Máci Feat Zeca Baleiro – Beijo À Queima Roupa
Crítica: O divertido clipe de Beijo à queima roupa tem direção e roteiro de Arthur Rosa França. Num apelo à São José Ribamar, Tiago Máci pede um beijo à mulher (Nádia D’Cássia) que lhe visita os olhos. Zeca Baleiro, o santo em questão, observa e se diverte com a situação – fazendo também o papel do público.
A direção de Arthur é dinâmica e refrescante, diante de uma fotografia solar que é impressa no clipe e abre nossos olhos para essa orla marítima por onde habita a música. A direção de arte brilha na composição de cada personagem e coloca cada um deles em destaque no momento certo.
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Beijo à queima roupa é um belo exemplo de clipe que é criado em cima de um roteiro que serve à música e não ao desconhecido – é tão acertado que acaba com o desejo de querer mais.
Baré de Casco – Kumbaya
Crítica: Kumbaya é uma assumida e desnuda canção de amor e é esse desnudamento que encontramos no clipe dirigido por Dani Lopes. Larissa Ferreira e Tiago Andrade formam o casal que se despem diante da câmera e contam com os olhos, as mãos e o corpo inteiro, a história dessa canção.
A composição do clipe, desde a fotografia até a direção de arte, servem exclusivamente para enaltecer a performance dos dois atores em cena. Cada plano, cada detalhe, cada objeto de cena… tudo conversa com o que eles são ali dentro daqueles seis minutos de videoclipe.
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Destaco aqui o trabalho sensível e apurado da Dani Lopes, que soube transitar pelo clipe e pela música de tal modo que, agora, ambos se tornam um só.
Marco Gabriel Part. Débora Melo Prod. Ufami Beats – Chato
Crítica: O primeiro videoclipe do rapper Marco Gabriel é um estudo sincero e profundo de quem é São Luís e de quem forma e vive essa cidade. Chato é dirigido por Jéssica Lauane e tem direção de fotografia de Jonas Sakamoto, cujo resultado dessa junção é um clipe cheio de referências à cultura negra, à cultura da periferia e ao trabalho impecável do Marco na música.
Ao passo que vamos entrando nos bairros de Fátima e Bom Milagre, o clipe nos ambienta no poder que o jovem preto tem de se ressignificar todos os dias, mostrando figuras conhecidas do circuito cultural da cidade. O livro Quilombismo, nas mãos do Marco, enquanto outras mãos enlaçam suas tranças, não passa despercebido.
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A organicidade das ruas da periferia dão vazão à cena final, que parece uma mistura de sonho, delírio e epifania: Débora Melo te encara e diz “toda mãe preta carrega o dobro de treta” e encerra o ciclo narrativo de um videoclipe poderoso e impactante.
A 3ª edição da Mostra Novo Cinema Maranhense é uma iniciativa da Jirau Filmes e da IPECINE, contemplados através de edital emergencial da Lei Aldir Blanc. O evento ocorre on-line e gratuitamente no site novocinemamaranhense.com.br, entre os dias 19 e 22 de dezembro.