Quem me conhece sabe: sou encantada pelas formas de interação entre espaço público e comunidade. Defendo a ocupação de centros urbanos, bairros antigos, e espaços abandonados com arte e cultura. Tudo de maneira livre e gratuita.
Bem, o Centro Histórico de São Luís, Maranhão, é um dos lugares mais democráticos da cidade. Está sempre fervilhando de cultura, arte e história. Com seus bares, shows na praça, vez ou outra um cortejo de maracatu ou de uma peça teatral, resistência em ocupações, convívio com os moradores do local, seja de rua, seja de casa, ouve-se do reggae ao brega, do tambor ao samba. Gente de todo jeito, pra todo gosto. De todo lugar.
Mas mesmo diante de toda essa diversidade – e talvez por ela – o Centro Histórico ainda carrega uma carga de marginalização. Visto por muitos que estão do outro lado da ponte (quem é da cidade sabe o porquê disso) como lugar de “alternativos”, de “hippies”, de “moradores de rua”, de “maconheiros”, um lugar “perigoso” e “sujo”, em que acaba sendo subjugado e até mesmo abandonado, pois não alcança a população da maneira que deveria. Tudo isso devido ao estigma, a um subjetivismo e preconceito. Em verdade, há uma marginalização do outro, e com isso, a segregação de um determinado local.
Discorro sobre essa minha visão pessoal para poder falar do Festival BR 135 e Conecta Música. Trata-se de um projeto que ocupa, que fomenta e que integra a comunidade a esse espaço de interação e de vivência com a cultura, com a arte, com a cidade e que, portanto, além de promover uma cadeia produtiva da música, consequentemente também promove um exercício de cidadania. Mais informações você pode conferir clicando aqui!
Organizado pelo Coletivo Criolina, o BR135/Conecta Música, que está em seu quinto ano, ocorrerá nesta quinta (24), sexta (25) e sábado (26) no Centro Histórico da capital maranhense e integra o programa Vivo Transforma, com patrocínio da Vivo por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura.
O evento segue na estrada de som ocupando o Centro Histórico como forma de resistência cultural por meio da arte. “Além da música, nesta edição 2016 outras linguagens estarão nos palcos e na rua em um amplo painel das várias linguagens e formas de expressão. Nossa ideia é mostrar que a estrada do festival está aberta para os artistas que resistem fora da indústria cultural”, explica Luciana Simões, realizadora do evento ao lado de Alê Muniz.
São 18 shows confirmados. Além da etapa de formação com palestras, oficinas e encontros entre artistas, produtores e jornalistas de várias cidades brasileiras debatendo sobre arte, cidadania, música, cultura digital e jornalismo cultural.
É diante desse cenário que listamos os motivos pelo qual você não pode perder o FESTIVAL BR135/CONECTA MÚSICA. Vamos lá?
1 -É de graça, na praça.
Oportunidade de assistir ao vivo os shows de Liniker e Os Caramelos (SP), com seu Black e Soul, brincos, batom e poder, ao Nação Zumbi (PE) e o manguebeat, Di Melo (PE), O Imorrível, Dusouto (RN) com suas misturas dançantes, Venga Venga (SP) e Bruno Batista (MA), tudo isso na Praça Nauro Machado e na Praça da Criança, totalmente gratuito. Só leva teu trocado pra cerveja, pro vinho barato ou pra’quela velha garrafa de fogosada (bebida popular da capital maranhense).
2 – GIRL POWER!
Na sexta-feira (25) rola o “Palco das Piquenas”, na praça Nauro Machado que será tomado pela voz e força feminina. Com suas propostas autorais, teremos no palco a voz marcante de Núbia (MA) com seu reggae de protesto e empoderamento, a Tássia Campos (MA), 15 anos de carreira em multiplicidade de sons e ritmos, a MC Lei di Dai (SP), coroada Rainha do Dancehall Ragga no Brasil pela Revista “Rolling Stone”, bem como a poderosa Nathália Ferro que irá aproveitar o Festival para apresentar um novo show chamado de “Selvagem/Transcendental”, em parceria com o projeto Pea.cemarkers, que surge de uma observação tanto externa quanto pessoal na necessidade de dar voz a pulsão selvagem e feminina, como forma de transcender a submissão patriarcal.
“Eu observo que o que o sistema buscou enfraquecer e deturpar, não foi o feminino nas mulheres, mas em toda e qualquer pessoa, fazendo com que uma energia inerente do ser humano, que nos abre janela para incríveis potências, fosse reduzida a fraqueza e melindre, diante da sociedade patriarcal. E hoje o que eu vejo é que sem o feminino selvagem a gente é escravo, iludido, incapaz de lidar com nosso lado mais escuro, sendo que contemplar a nossa sombra é essencial pra cultivar a sanidade e o respeito ao outro”, conta Nathália.
Em sua musicalidade, o show trará beats eletrônicos bem marcados, junto a formação de baixo e guitarras, e terá como ponto alto um manifesto chamado “A Revolução das Bruxas”. Além do Pe.ace, Nathália também conta com André Grolli, João Simas e Marlon Silva, mesma formação do disco Instante.
3 – Valorização de bandas autorais
A ideia central do BR 135 é o desenvolvimento e valorização do que há de novo no mercado da música. No intuito de movimentar e fortalecer a cena local, o festival também promove um intercâmbio ao trazer bandas e artistas de outros estados. Mais de 300 artistas puderam se inscrever por meio de uma plataforma digital e participar de uma curadoria realizada por Paulo André (Abril Pro Rock, PE), DJ Pedro Sobrinho (MA) e Diego Pires (Movimento Sebo no Chão, MA). Foram 14 bandas selecionadas na qual, além das já citadas mulheres acima, estão também:
Pedeginja (MA)
Royal Dogs (MA)
Strobo (PA)
O vórtice (MA)
https://www.youtube.com/watch?v=KxOHDYIEMcI
Beto Ehongue & Canelas Preta (MA)
Portanto, se você ainda não conhece o que anda sendo produzido em sua cidade, esta é uma bela oportunidade pra ficar por dentro do que há de melhor por aqui. Valorize!
4 – O melhor samba que você respeita.
O festival, também, abre espaço para o tradicional samba de feira. Entre os temperos, as cachaças e as cervejas nos copos de plástico, a incrível e sarcástica Patativa, juntamente com a Turma do Vandico, se apresenta no sábado, dia 26, a partir das 15h, no Mercado das Tulhas.
5 – Mescla de arte e Cultura popular
Além da indústria musical, o BR 135, também, realiza uma mescla de outras linguagens, juntamente com a cultura local. Dentre eles o projeto O Circo Tá na Rua, um coletivo de arte circense que realiza treinos abertos, gratuitamente, todas as segundas na Praça Nauro Machado, a partir das 18h e que atuará com suas performances. Representando os ritmos da cultura popular maranhense, haverá a apresentação do Boi de Santa Fé e do Tambor de Crioula do Mestre Felipe.
6 – Intercâmbio de conhecimento e produção com o Conecta Música
O Conecta Música é a etapa de formação do evento que abrange palestras, oficinas e encontros entre artistas, produtores e jornalistas de várias cidades brasileiras debatendo sobre arte, cidadania, música, cultura digital e jornalismo cultural, com programação entre as tardes do sexta (25) e sábado (26), com o objetivo de aprendizagem e apresentação de projetos à produtoras e gravadoras pelos artistas maranhenses. Os nomes confirmados são Roberta Martinelli (TV Cultura e Rádio Eldorado), Alexandre Mathias (blog Trabalho Sujo), Marcelo Costa (blog Scream&Yell), Maurício Garcia (Virada Cultural SP), Júlio Barroso (Ocupa Minc RJ), Alexandre Rossi (Circo Voador RJ), Marcel Arêde (Amplicriativa).
Dentre as palestras desenvolvidas terá a “Como entrar nos pequenos e grandes circuitos da música independente e na Virada Cultural de São Paulo” e “A força dos festivais culturais no Brasil: Quem faz, quem financia e quem ganha”.
7 – Feirinha Criativa
Fora do palco a arte, também, estará em exposição na feira criativa, que reunirá no entorno diversos pequenos negócios que representam a economia criativa relacionada ao mundo da música e ao universo dos shows de rua, como comércio de camisetas, brechó, foodtruck e cervejas artesanais.
BÔNUS: Você pode encontrar o amor da sua vida.
História real. Enquanto escrevia essa matéria, perguntei pra uma amiga uma sugestão de motivo para não perder o BR135, que me respondeu: “Foi no festival que eu encontrei o grande amor da minha vida”, brincou ela.
Portanto, fica a dica. O evento vai estar cheio de crushes pra você dar aquele super like e quiça, um match 😉
O que não falta no BR135 é amor, da cabeça aos pés.
Em verdade, o principal objetivo desta publicação não é alcançar aqueles que já possuem relação e amor pelo projeto, mas sim aos que ainda permanecem distantes da cultura e a música autoral produzida em nosso Estado.
Assim, fica o convite. Venha ocupar e ser ocupado com musicalidade e arte, promova a resistência cultural e a economia criativa, conheça suas praças e seus centros de cultura, viva a cidade e embarque nessa estrada do som que é o Festival BR-135/Conecta Música.
Pra entender melhor, fique com os vídeos das duas últimas edições:
2014
2015