Professora Helley, eu não te conheci, mas ao olhar a tua foto reconheci a luz que enxergo no semblante de professoras que se doam de forma corajosa à missão da sala de aula no Brasil. No domingo passado liguei a TV e me deparei com a notícia do incêndio que aconteceu na Creche Gente Inocente na cidade Janaúba, Minas Gerais. Fiquei sabendo que antes da tragédia, a senhora estava realizando uma aula especial para mostrar às crianças a magia do cinema. Diversão interrompida por uma cena de filme de terror e desespero coletivo ao ver o fogo se alastrar por todo espaço. Imaginei gritos, lágrimas e dor. Registros que quero apagar da memória. Entretanto, acredito que jamais vou esquecer o seu ato de entrar e sair três vezes da sala de aula entre as labaredas de fogo e com o seu corpo sendo incendiado para salvar as crianças que conseguiram sobreviver. A sua atitude se tornou símbolo da existência de muitos(as) professores(as) que doam as suas vidas por cada aluno(a) nesse país.
A sua postura me faz pensar que ser professor não é escolher uma profissão e sim ser escolhido. Ser professor é compreender a vocação, acolher o Chamado e abraçar a missão. Ser professor significa acreditar, apesar de todos os apesares.
É respirar fundo para nadar contra a correnteza do mar da ignorância. É sobre ser firme na convicção e leve na expressão. É conexão profunda que transcende o espaço sagrado da sala de aula.
É ter a consciência da desvalorização salarial e muitas vezes olhar para o valor do contracheque no final do mês para entender a razão da pergunta que algumas pessoas fazem: “Mas você ‘só’ dá aula?” É pensar muitas vezes em abandonar a função, mas permanecer em nome da missão.
Ser professor é fazer da utopia uma estrada a ser percorrida. É conservar o espírito dos versos inspirados no personagem Dom Quixote:
“Sonhar mais um sonho impossível
Lutar quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender”
Ser professor é muitas vezes ser chamado de louco por conservar um coração utópico. É colocar em prática o conselho que um dia o Galeano nos deixou: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”. Enxergo em você, Helley, esse desejo de nunca parar de caminhar.
Um professor nunca deixa de caminhar. Até mesmo quando ele para, uma legião de alunos(as) caminha levando as marcas de suas pegadas pela estrada e semeando os frutos de tudo o que um dia aprenderam com sua raiz.
Dedico esse texto à professora Helley Abreu. A senhora é eterna, pois, “uma professora sempre afeta a eternidade. Ela nunca saberá onde sua influência termina”. Gratidão por resgatar a fé na humanidade ao renunciar a si mesma para colocar em prática o entendimento de que prova de amor maior não há que doar a vida por alguém.