O casal largou tudo e iniciou uma viagem ao redor do mundo desde 30 de março de 2015. A viagem rendeu várias histórias, ideias e, é claro, grandes obras-primas em formato de videoclipe.
Uma imersão musical. Assim definem o casal Leo Longo e Diana Boccara sobre o projeto Around the World In 80 Music Videos, que levou a dupla a viajar ao redor do mundo com a meta ousada de gravar 80 videoclipes em 80 cidades diferentes e com um ponto semelhante: todos os vídeos deveriam ser feitos em plano sequência (sem cortes na câmera).
“Nos entregamos para o mundo”, comentou Diana Boccara ao SoT. De fato: o casal vendeu tudo o que tinha, saiu batendo de porta em porta atrás de apoiadores e deram a cara a tapa. E funcionou!
Ele, diretor de TV, e ela, roteirista, seguiram com a meta desde março do ano passado e, depois de um período gravando em cidades brasileiras como Campos do Jordão e São Sebastião, ambas no Estado de São Paulo, seguiram rumo para outros pontos do mundo, como Europa, África, Oceania, América do Norte e Ásia.
Retornando para a América do Sul, o casal abriu inscrições para selecionar uma banda ou artista brasileiro, de produção autoral, para gravar o último videoclipe do projeto.
Ficou curioso sobre a história do projeto? O SoT conversou com o casal por e-mail, e descobriu um pouco mais sobre toda a jornada deles, sobre como foi sobreviver à toda essa jornada Pokémon, sobre as dificuldades em manter o projeto e a repercussão dos videoclipes. Leia:
Sobre O Tatame – Como surgiu o projeto?
“Tivemos a ideia de fazer o projeto depois de voltar de uma viagem de férias pelo Sul dos Estados Unidos. Alugamos um carro e fomos de Nashville (TN) até New Orleans (LA), passando em várias cidades importantes pra música! Foi uma imersão musical. Quando voltamos ao Brasil, em março de 2014, ficamos com uma vontade de continuar essa viagem musical, só que fazendo o que amamos: filmmaking. Foi aí que começamos a criar o ATW80. Um projeto que une música, viagem e filmmaking.”
Sobre O Tatame – Qual o objetivo do projeto?
“Criamos o projeto com muitos objetivos. É um projeto muito ambicioso, de longa duração e altamente trabalhoso. Além de dar a volta ao mundo para gravar 80 clipes em plano sequência, com bandas dos quatro cantos do mundo, um dos nossos objetivos com o ATW80 é repensar a forma que se trabalha com música e filmmaking, usando a colaboração como alicerce de criação em cada um dos vídeos, em cada ideia, em cada nova gravação”.
Sobre O Tatame – Quem são os apoiadores do projeto e como eles foram surgindo no decorrer do processo?
“Como o nosso projeto é feito realmente por nós dois, fomos batendo de porta em porta, apresentando o projeto pra inúmeras marcas e empresas, do Brasil e do mundo. Inicialmente, ninguém acreditou que o ATW80 era possível. Mas assim que o colocamos em prática, o mercado viu que não éramos um casal que estava querendo rodar o mundo e que sim, nosso projeto era sério e possível.
Ao longo do caminho, tivemos marcas que participaram do projeto com a gente, das mais variadas formas. Jack Daniel’s, SWISS, Airbnb, Adidas, Victorinox, Evoke, HP, Smirnoff, Premium Assistance, King55 foram alguns dos nomes que acreditaram num projeto inovador como este e se uniram a nossa viagem pelo mundo”.
Sobre O Tatame – Como são escolhidos os artistas que terão videoclipes gravados pelo projeto?
“Durante todo o projeto, nós escolhemos a dedo os artistas que convidamos para fazer parte de ATW80, baseados em alguns critérios estipulados por nós mesmos. Mas antes de convidar, é preciso encontrar os nomes certos. Cerca de dois meses antes de chegar aquele país, começamos uma longa pesquisa sobre a cena musical da cidade que vamos. Revistas, blogs de música, line-up de festivais, calendários de casas de show são a nossa base de pesquisa. Selecionamos centenas de nomes que transitem pelo universo do rock e começamos a escutar os álbuns das bandas e assim, vamos selecionando os que mais nos encantam, as bandas que tem identidade própria, que estejam fazendo um som diferente, que tenham contato ativo com seus fãs via redes sociais. E assim, selecionamos os nomes de cada país”.
Sobre O Tatame – A publicação dos vídeos são semanais, seguidas, ainda, de um making of mostrando a produção. Esta sempre foi a ideia do projeto? Algo foi mudando durante o percurso das gravações?
“Desde o começo do projeto, nós temos a mesma estrutura: segunda-feira lançamos os clipes e em seguida, um novo episódio de Behind the Trip, nossa webserie que conta os bastidores de cada clipe e da nossa viagem. Mas durante o percurso, devido as intensas diárias de trabalho, tivemos semanas que os episódios de making of não estavam prontos pra serem publicados juntos com os clipes e acabaram estreando alguns dias depois. Mas basicamente, nossa estrutura segue a mesma desde o princípio”.
Sobre O Tatame – Vocês chegaram a pensar em desistir do projeto? Quais foram as maiores dificuldades que vocês passaram pelo caminho?
“Durante a viagem, nunca pensamos em desistir. Mas antes de começarmos o projeto, quando ainda estávamos buscando patrocínio no Brasil e só recebíamos respostas negativas e desencorajadoras, pensamos sim em desistir. Afinal, sem recursos financeiros, o projeto realmente seria impossível. Mas a ideia de ATW80 era tão real pra gente, que já estava trabalhando nele há quase um ano, que não quisemos desistir. A solução foi vender tudo que tínhamos – casa, carro, bike, móveis – juntar isso com nossas economias e dar o passo inicial. E foi assim que começamos. E assim que aqui estamos, 17 meses despois do primeiro clipe gravado”.
Sobre O Tatame – Como é a rotina de gravações na estrada? Quais são as etapas mais complicadas?
“Cada novo clipe é um novo desafio. A partir do momento que uma banda confirma sua participação e que temos a música escolhida, começamos a trabalhar em ideias para o clipe. Depois, começamos a produzir a ideia escolhida pela banda, sempre com a ajuda deles e de amigos e conhecidos em cada lugar que vamos. Aí, escolhemos um dia e rodamos o clipe. Em paralelo, editamos os clipes e os making ofs, escrevemos as ideias dos próximos clipes, fazemos contatos com as mídias locais, buscamos parceiros, pesquisamos bandas e novos Airbnbs dos próximos países. É trabalho que não acaba mais. O mais trabalhoso sempre é criar as ideias, produzir os clipes e editar os making ofs”.
Sobre O Tatame – Existe tempo para descanso e turismo, entre as gravações?
“Adoraríamos dizer que sim, porém foram raros os dias que tivemos em 18 meses sem trabalhar. Muitos raros. Se não estamos em casa, trabalhando, estamos gravando. Rodamos o mundo e não fomos a quase nenhum ponto turístico de cada país que visitamos. É uma pena por um lado, mas por outro, vivemos em cada uma das cidades que visitamos e para nós foi uma experiência extremamente rica”.
Sobre O Tatame – Vocês tem um videoclipe preferido?
“Temos muitos clipes que gostamos demais, porém escolher o favorito é como escolher o filho preferido…”
Sobre O Tatame – Qual foi o videoclipe que mais deu trabalho de ser gravado? E qual o mais prazeroso?
“Tivemos muitos clipes complexos de serem executados. Muitos mesmo. Um dos que foi mais trabalhoso e que envolveu o maior número de pessoas foi o da banda Irlandesa The Coronas, onde só tínhamos uma chance de acertar o take. Outro que foi extremamente complexo foi o clipe da banda californiana The Lonely Wild, onde rodamos quatro takes em plano sequência no meio do deserto, com a necessidade de acertar todos os timings do roteiro, que era em reverso. A lista é bem longa…
Sobre o clipe mais prazeroso, é difícil dizer pois foram muitos mesmo, principalmente quando a banda e o artista participa ativamente da gravação com a gente”.
Sobre O Tatame – Como será feita a seleção das bandas que encerrará o projeto?
“A seleção da última banda do projeto será feita da mesma forma que fizemos a seleção das outras 79 bandas e artistas. Só que desta vez, escolheremos cinco nomes dentre todos os inscritos e um júri irá escolher realmente a última banda/artista a participar do projeto”.
Sobre O Tatame – Com o encerramento das gravações, existem ainda outros planos para o Around the World in 80 Music Videos?
“Depois de concluirmos os 80 clipes, vamos escrever um livro sobre a nossa jornada pelo mundo, assim como um documentário e uma série”.
Sobre O Tatame – Vocês fariam uma segunda parte do projeto (passando por países que ficaram fora da rota)?
“Nós faríamos sim uma segunda parte do projeto, já que acabamos deixando de fora alguns países que gostaríamos muito de explorar musicalmente. Mas para isso, teríamos que bolar uma nova forma de fazer o projeto, pra que tanto para o público, como para a gente, ele ainda seja fresco, desafiador e interessante”.
SoT – Como tem sido a recepção do público para o projeto, tanto no Brasil quanto ao redor do mundo? Era o que vocês esperavam?
“Nos surpreendemos com a recepção que tivemos por todo o mundo. Não imaginávamos que seriamos tão bem aceitos, respeitados e assistidos. Hoje, conversamos com gente do mundo inteiro, já que fomos cultivando amigos e seguidores por onde passamos. E isso é uma das coisas mais lindas do projeto. Não temos mais a distinção de país, de povo, de raça, de religião. Aprendemos que somos todos iguais e nos unimos por causa da música, do filmmaking e de uma viagem.
Sobre O Tatame – Alguma ideia nova surgiu para vocês durante as gravações? Algum possível novo projeto para 2017?
Temos muitos projetos já criados para os próximos anos e, em breve, vamos começar a trabalhar neles.
Sobre O Tatame — Por fim, como é essa experiência de estar longe de casa? E o que mudou para vocês, do início do projeto até agora?
“Vendemos tudo que tínhamos no Brasil pra fazer o projeto. Então, nós não temos mais uma “casa”. Sim, somos super desapegados a bens materiais e estamos há mais de um ano vivendo em uma casa diferente a cada mês. Nos entregamos para o mundo no momento que resolvemos colocar o ATW80 em prática e essa decisão só nos trouxe bons frutos. A experiência de viajar o mundo durante um ano e meio, de conhecer novas pessoas, outras culturas, problemas e soluções tão diferentes das que estamos acostumados, fez com que a gente crescesse muito, pessoalmente e profissionalmente”.