Você já teve aquela sensação de assistir um filme e o personagem principal ter traços similares ao seu? Nos últimos dois meses, senti isso em pelo quatro filmes que vi. Em Entre Abelhas, longa nacional estrelado por Fábio Porchat, pude relembrar uma fase antiga minha – o egoísmo. No estranho Cala a Boca, Philip, consegui enxergar escancaradamente o meu pessimismo – este, contudo, persiste até hoje. Já em Fora de Controle, drama de 13 anos atrás, o personagem estrelado por Samuel L. Jackson traz uma ingenuidade que tento deixar no mesmo lugar que meu egoísmo – ou seja, no passado. Mas a reflexão deste post vêm de uma característica que me acompanha desde criança: a de pensador. E os pensamentos, ou melhor, estar perdido no meio deles é o “objeto de trabalho” de A Vida Secreta de Walter Mitty, longa dirigido e estrelado pelo ator Ben Stiller.
“Ele é um homem tímido, levando uma vida simples, perdido em seus sonhos”, diz uma das descrições sobre o filme que encontrei na internet (no AdoroCinema). Não precisava desta descrição para me identificar ainda mais, mas confesso que Mitty é um daqueles personagens necessários para aqueles estalos da vida. Mais que o personagem, o interessante nele, principalmente no início do longa, são os momentos que ele divaga – momentos que são mais interessantes que os que ele vive. Ora, afinal, é isso que geralmente acontece: nossas fantasias são bem mais interessantes que nossa realidade, não é mesmo? Não é?….É?
Bom, Mitty tenta provar que não. Que o mundo fantástico que ele tanto imagina – e que nunca se propôs a viver – pode estar na vida real. Basta viver.
Porém, viver não é fácil.
Mas ele tenta. Arrisca. Ele passa dias indo atrás de uma fotografia que pode lhe custar o emprego. Ele passa horas tentando encontrar alguém que ele mesmo nunca viu pessoalmente. Ele entrega o seu tempo por uma busca que, às vezes, se demonstra desnecessária. Mas ele tenta.
E o “saber tentar” e o “conseguir arriscar” são valores que adquiri recentemente – e os quais não devo abrir mão tão cedo. Por mais que Mitty inicie como um ser que se perde em seus próprios pensamentos, ele percebe que ainda há tempo para o tempo – e para a forma que ele decidir gastá-lo – , seja cantando David Bowie, bebendo em copos em formatos de botas, escalando montanhas, avistando animais raros, e por aí vai.
A Vida Secreta de Walter Mitty traz vários diálogos interessantíssimos. Mas, talvez, o mais significativo para mim seja o da mãe de Mitty para ele, nos minutos finais do longa – em que o personagem sempre teve uma informação ao seu alcance, mas nunca havia lhe dado a devida atenção. Ao mesmo tempo, o filme acaba nos mostrando que Mitty é um dos perfis mais comuns que temos hoje na sociedade – com uma ingenuidade preocupante, um egoísmo fantasioso e um pessimismo exagerado. Todos eles lhe causam inércia – o que resume-o a um eterno sonhador.
Até o momento de ruptura, essencial para ele – e necessário para todos nós.
#Viva
Esse filme parece interessante, e realmente é um mal secular, o tal mundo dos sonhadores. Otimo texto
Apesar de não ser uma pessoa tímida (os introspectivos não são necessariamente tímidos), sinto que preciso assistir a esse filme. Sonho acordada constantemente e me pego presa nessa armadilha de que meus sonhos são mais interessantes do que o que tenho pela frente de fato. Preciso de uns empurrõezinhos pra mudar isso. Valeu a dica!