Aceitação do sofrimento: quando o choro é a saída

Will Smith no filme “À Procura da Felicidade” (Foto: Reprodução)

Engole o choro!“, provavelmente você já ouviu essa frase quando criança, e não uma nem duas, mas muitas vezes. Eu mesma ouvi essa e outras frases que logo cedo me fizeram entender que chorar é fraqueza, e que se eu puder não demonstrar essa fraqueza, melhor para mim.

Fomos ensinados a querer passar incólumes pelas circunstâncias que machucam.

Então, a gente acabou crescendo criando barreiras e nos endurecendo contra nós mesmos, contra o que sentimos, contra o que pensamos, contra o que vivemos, a fim de nos mantermos a salvo da dor, como se fosse possível, a quem vive, não sofrer.

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Aos poucos, nos tornamos especialistas em auto-engano, a fingir que não vimos, a seguirmos a diante, a sorrirmos quando queremos o choro, e a colocarmos nosso choro em conta-gotas: somente chore por motivos “aceitáveis”.  Desenvolvemos maneiras cada vez mais eficazes de como fugir dos sentimentos ruins que nos abalam o peito, e a calar as emoções classificadas como indesejáveis.

Ilustração de Giovanna Toffoli.
Ilustração de Giovanna Toffoli.
Quantos nós na garganta você amarrou até aqui? Quanto você já engoliu de si mesmo? Qual foi a última emoção que você estrangulou?

Essa fuga do choro, essa repulsa por sofrer, a não aceitação dos erros, o não se permitir fraquejar, ao contrário do que se possa pensar, não nos fortalece, e sim nos desampara! 

A permanente esquiva dos problemas e sofrimentos dificulta o desenvolvimento de repertórios de enfrentamento dos nossos conflitos e angústias. Dar um passo adiante na resolução dos nossos conflitos nos exige reconhecer e vivenciar o sofrimento envolvido neles.

Por isso, perceber de onde vem o teu choro é um importante e primeiro passo para compreender o que precisa mudar. Esse movimento auxilia no autoconhecimento, e consequentemente no autocuidado. Então, amigos, deem espaço ao choro.

O choro é mais que o ato de chorar, é se permitir sentir, e isso liberta!

E tudo o que nos torna mais livre, nos fortalece.

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Um dia desses, uma amiga me mandou o link de uma música interpretada pelo Erasmo Carlos, e de autoria do Teago Oliveira (vocalista do Maglore), com o título: “Não existe saudade no cosmos”. Naquele dia, essa música me trouxe uma singela epifania através do verso: “Se você quiser chorar / Então chore, então chore!

Uma música simples, de versos curtos e aparentemente inacabados. Uma melodia tristonha, mas reconfortante, com uma voz amena, dizendo pacientemente que vai ouvir sem julgar. Um acalanto para os que estão cansados de calar.

O fato é que “Não existe saudade no cosmos”, me lembrou das 3 lições que quero compartilhar aqui:

1 – é preciso aceitar nossas emoções e sentimentos negativos e entrar em contato com eles;

2 – é preciso exercitar o perdão (não só perdão para o outro, mas antes dele, o AUTOPERDÃO)

3 – é preciso ter por perto quem te ouça sem te julgar.

“Faça o que quiser /  Encare o que vier / E aceite se doer demais”

Dá um play no Erasmo, e pensa a respeito de quais sentimentos você anda fugindo, ou do que você precisa se perdoar para seguir adiante. Isso pode ajudar a desatar alguns nós ou desatar naquele choro preso que está te afogando.

E o mais importante nisso: Peça ajuda!
A dor é sua, mas você não é obrigado a chorar sozinho.

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Ludovicense. Psicóloga.Professora de Filosofia da rede pública de ensino.Poetisa por capricho. Ajudo a construir histórias, enquanto vou fazendo a minha.

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