Ainda Escuto Álbuns #11: Black Alien chutando a porta com “Abaixo de Zero: Hello Hell”

O retorno do Gustavo que a gente gosta e sentiu falta para um caralho! (Foto: Roncca/Divulgação).

Daqui a pouco faz 1 ano que esse álbum foi lançado. De lá para cá, honestamente, ainda não escutei nenhum outro que tenha me emocionado tanto quanto esse. Facilmente “Abaixo de Zero: Hello Hell” tornou-se, ao longo deste ano, um dos meus álbuns favoritos. Por diversos motivos, que inclusive vão além do produto musical em si, mas pela própria figura de Black Alien.

Só pra ressaltar, eu tenho alguns critérios para definir, sob a minha perspectiva, claro, o que eu considero um “bom” álbum ou mesmo favoritar algum:

  • Colocar no repeat e não enjoar;
  • Gostar mais de uma música, de preferência gostar de mais músicas além do single (nem precisa gostar do que é chamado hoje de “single”);
  • O fim de uma música leva imediatamente à próxima de maneira perfeita!;
  • Sabe quando tu escuta um dia inteiro um álbum, tanto que tu aprende naturalmente as letras e quando uma termina tu já sabe até o tempo de início de outra?;
  • Sentir vontade de ir atrás do que cada música está querendo dizer;
  • Pegar o “ritmo” da coisa.

Abaixo de Zero: Hello Hell é um álbum que passou por tudo isso ileso. Com título e subtítulo, o retorno de Black Alien é, pra mim, um dos melhores lançamentos de 2019. Ainda no início do ano passado, conversei com um amigo, querido Hislla (conheçam o trabalho do mano, por favor), e comentei que até aquele momento, o álbum de Black Alien, pra mim, tinha sido o melhor. Fim do ano passado, a Associação de Críticos de São Paulo (ACPA) também considerou o álbum o melhor do ano. Eu gosto de sentir que não me enganei rs

Abro o aplicativo do Spotify no meu celular e na barra de pesquisa já era comum aparecer o Gustavo: Babylon By Gus volumes 1 e 2 (que têm, de um para outro, mais de 10 anos de diferença), álbuns pelos quais já sou apaixonada há tempos. “Abaixo de Zero: Hello Hell” é um álbum completamente sóbrio: Gustavo fez tudo completamente consciente do que estava fazendo, é o talento e a criatividade pura.

Ouvir Black Alien pra mim sempre foi regra, apesar do sumiço que ele teve. PÁ, de repente um álbum novo! Black Alien lançou, desse álbum, só um single de prévia, Que nem o meu cachorro (diga-se de passagem, bem no dia do meu aniversário (14/3), o que entendi como um sinal!)

Consigo ouvir o dia inteiro sem parar, sem enjoar e sem nunca deixar de me chocar com um verso ou outro que passara despercebido por mim.

Gosto muito da voz do Black Alien, da sua dicção (desculpem minha frescura, mas AMO entender sem dificuldades o que as pessoas estão falando/cantando), os beats não são “100% inovadores”, mas Papatinho é Papatinho, um dos nomes mais influentes no hip hop no momento atual e responsável por fazer as músicas grudarem. É um álbum novo com cara de clássico e o que é clássico não morre nem fica ruim. Como ele mesmo diz: “É pra quem gosta de apreciar”. O quarentão voltou muito bem.

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Sem dúvida, umas das minhas favoritas é Vai Baby, acho até que ela é o verdadeiro single do disco, mas é Que nem o meu cachorro e Take Ten as duas músicas que dizem a motivação desse trabalho, são elas que mostra quem é o Gustavo de agora.

Daqui há alguns anos, espero ainda ver Gustavo aparecendo com um novo trabalho incrível e tenho certeza que mesmo assim vou achar Abaixo de Zero: Hello Hell uma preciosidade, pois tudo o que está envolvido nesse universo do hip hop e da música como um todo está aqui.

Black Alien fala sobre a dependência química e sobre o quanto o uso atrapalhou sua produtividade e criatividade (Aniversário de SobriedadeCarta Pra Amy, Take Ten), critica ferozmente a onda de rappers jovens que “chegam de mala” no movimento, ressalta sua experiência, afinal, com quase 50 anos, é um dos rappers brasileiros com mais tempo na cena (Que Nem O Meu CachorroJamais Serão) e, óbvio, sempre tem um espacinho pra falar de sexo e amor, afinal todo mundo gosta (Vai BabyAu Revoir).

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Abaixo de Zero: Hello Hell não é um lançamento qualquer. É um retorno de quem passou por poucas e boas devido às drogas, dificuldade de se recolocar criativamente na produção, perda de amizades, enfim, uma série de vários momentos conturbados.

A gente tá vendo o retorno de um cara que está se curando, se transformando, reconhecendo sua história, buscando as coisas em paz, buscando ficar em paz. Isso é incrível. Ouvir Black Alien falando sobre seu trabalho, suas experiências de vida, sua espiritualidade é revigorante, e é dolorido também. Recomendo muito, muito mesmo, essa entrevista dada em julho do ano passado onde Gustavo fala por quase uma hora sobre esse trabalho e tudo o que o envolve, é bonita demais:

Vai fazer um ano que eu estou ouvindo esse álbum sem parar e refletindo sobre minha vida, sobre meus vícios, vivenciando as dificuldades de ter que contar cada dia sem álcool mesmo todo mundo me oferecendo o tempo todo. Ouvir “Abaixo de Zero: Hello Hell” e ouvir Black Alien abrindo o coração e a cabeça pra falar sobre isso, é, sem brincadeira, a melhor coisa que eu faço pra mim mesma em dias difíceis.

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“O cochilo da tarde é o meu xodó do momento”. E é isso.

Todas as músicas são grudentas. E grudam de um jeito bom.

Steffi de Castro é psicóloga. Atua em São Luís como designer instrucional e escritora. É redatora no SobreOTatame, escreve e estuda sobre música, feminismo e comportamento. É estudante de tarô, dançarina amadora, podcaster, adora ASMR e a vida offline.

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