Ainda Escuto Álbuns #13: poesia, homenagens e arte marcam “Moraes Moreira”, de 1975

Quase todo mundo conhece o Moraes Moreira por causa dos Novos Baianos. Bom, não tive esta mesma graça. Na verdade, você pode não acreditar (considerando meus textos aqui enaltecendo a música brasileira), mas eu não saco muito dos Novos Baianos.

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Conheci o Moraes Moreira por causa de uma música chamada Chinelo do meu avô, que não lembro como foi que ouvi, mas aquela música me marcou – ela é a 4ª faixa do álbum Moraes Moreira, do próprio.

Capa de Moraes Moreira, de 1975 (Foto: Divulgação).

Esse álbum é de 1975, um ano depois da saída do cantor e compositor do grupo Novos Baianos. É o álbum de estreia dele como um ser único que sempre foi e sempre será. Não sei se era moda, mas era bem comum um álbum de estreia de alguém levar o nome desse alguém.

Os Novos Baianos (Foto: Divulgação).

Pois bem, é o primeiro e o meu trabalho favorito do Moraes Moreira: Moraes Moreira, dele mesmo. É um dos meus álbuns favoritos também.

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Esse LP virou um CD avulso em 2018 (até então, só era encontrado como CD num box chamado Moraes Moreira-anos 70). Dizem que este não é um dos melhores trabalhos dele, mas eu acho que já dá o tom do que ele queria fazer.

O cantor e compositor brasileiro Moraes Moreira (Foto: Divulgação).

Começa com Desabafo e Desafio, com um violão frenético e sutil – e a voz de Moraes Moreira em destaque. Só na segunda parte é que todo o restante do conjunto aparece, e o que começa falando do interior, de uma paz que vem do campo, vai se arrastando pro rock. Começa a guitarra tão característica desse álbum todo e do próprio Moraes.

A segunda faixa é Guitarra baiana. Antes de Gilvan Silva aparecer com guitarrinha solta a pisadinha lá nas terras de Alagoas, Moraes Moreira já mostrava o que a gente chama de guitarrada baiana, mas sem gracinhas, é claro. A faixa inclusive fez parte da novela Gabriela, na época.

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Depois vem Sempre Cantando, uma das minhas músicas favoritas. Aquela mistura boa de meter uma guitarra num samba que só ele conseguia fazer. Inclusive, está no meu repertório de “como viver em uma pandemia”. Essa música traz uma mensagem de positividade e desapego que eu espero ter em minha vida o máximo possível de dias. É ela que diz:

Sei que a dor não tem lugar permanente no coração de ninguém.

Em seguida, temos Chinelo do meu avô, que foi a música que fez eu me apaixonar por ele de primeira. Até outro dia, a bio das minhas redes sociais era a pergunta que ele me fazia e que eu gosto de fazer a todos: “se lhe disserem que uma caixa de fósforo pode incendiar o mundo?”. Chinelo do meu avô é pra ouvir sem entender: você nem precisa. É só se deixar levar pela melodia e pela voz de Moreira, depois você reflete.

Chuva no Brejo Nesse mar nessa ilha são músicas que falam sobre o cotidiano: ouvir a música no que é comum, se apaixonar. A segunda, em especial, tem um trecho que sempre me toca:

“Cale a minha voz e até meu violão, só não queira mudar meu coração.”

Dom Som PS são homenagens musicais. A primeira faz uma referência à grandiosidade de Jackson do Pandeiro e reverencia a classe musical como um todo. PS, por sua vez, é uma parceira com ninguém mais ninguém menos do que Luiz Gonzaga e ela que tem aquele refrão delicioso que eu sempre amei – e agora faz mais sentido do que nunca:

“Do vírus, menina, se faz a vacina!”

As últimas quatro faixas do álbum são Loucura Pouca é Bobagem (que não é a d’Os Mutantes), Anda NêgaSe você pensa e Violão Vagabundo. Se você pensa é, na minha opinião, uma das melhores versões deste clássico de Roberto Carlos e Erasmo Carlos.

Anda Nêga é uma das canções mais tranquilas até aqui, é pra dar um respiro já quase no final: “anda, nêga, os caminhos difíceis estão abertos…”, e, por fim, Violão vagabundo, que é quase uma autobiografia:

Meu violão vagabundo me pegou, me tocou, me jogou no mundo


O cantor e compositor brasileiro Moraes Moreira (Foto: Divulgação).

Mais da metade das músicas deste álbum são de autoria dele mesmo, inclusive a minha favorita, Sempre cantandoMoraes Moreira, o álbum, é um trabalho lindo, que hoje, especialmente, vai ficar tocando o dia inteiro, em homenagem a este músico incrível que marcou toda uma geração e inspirou tantas outras. Ele é ponto de referência e de reverência.

Que a alegria de Moraes Moreira nos lembre sempre que tudo o que é difícil passa, que a gente tem que seguir sempre cantando, que é do vírus que se faz a vacina e que todo violão vagabundo pode te jogar mundo afora! Você pra sempre vivo, Moraes! Muito obrigada.


Abaixo, segue uma homenagem que a equipe do Festival BR 135 fez ao cantor:

https://www.instagram.com/p/B-7hj3gDzbG/?igshid=zc4qrrznn0b9

Steffi de Castro é psicóloga. Atua em São Luís como designer instrucional e escritora. É redatora no SobreOTatame, escreve e estuda sobre música, feminismo e comportamento. É estudante de tarô, dançarina amadora, podcaster, adora ASMR e a vida offline.

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