Ainda Escuto Álbuns #14: sintonize em “Frequência Rara/Ao Vivo”, novo álbum de Dani Black

Fotografia: Marcos Hermes

Não é novidade para ninguém que sou uma tremenda fã do Dani Black e já faz alguns anos que estou ansiosa esperando por um novo álbum.

Dilúvio, seu último álbum e aquele que podemos dizer que foi o responsável por levar Dani Black ao Brasil todo, foi divino: a sensualidade, sensibilidade e a infinita capacidade de nos levar além com suas letras marcaram o trabalho que contava com participação de, ninguém mais ninguém menos, Milton Nascimento, o grandioso Bituca.

Desde então, multidão de fãs acompanham Dani Black em suas redes sociais, curtindo suas “brincadeiras musicais” de composição em frente às telas, ao vivo, brincando com palavras, sons e memórias de pessoas que lhe atravessavam… Já víamos aí o nascimento de Frequência Rara e talvez não nos demos conta. Mas, enfim, Frequência Rara/Ao Vivo nasceu.

Fotografia: Marcos Hermes

Nasceu subvertendo toda a lógica a qual estamos acostumados: o lançamento foi no Youtube, no dia 30 de abril, do show completo. Um álbum ao vivo, gravado em um show onde Dani Black interage com seu público, que mais parece ser composto apenas por amigos (realmente vários amigos, inclusive a galerinha do 5 a Seco <3).

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Essa é uma sensação que tenho quando ouço o Dani: parece um grande amigo conversando com a gente. Consigo até chamar de “Dani”, desse jeito, como se fôssemos íntimos.

A versão de estúdio de Frequência Rara ainda deve ser lançada esse ano (talvez com outras músicas inéditas que não apareceram aqui), por enquanto, podemos nos deliciar com o Ao Vivo, que é um show belíssimo.

Frequência Rara já vinha sendo preparado desde o ano passado. Inclusive, na conversa que tivemos com o Dani Black em São Luís, na passagem do cantor pela edição 2019 do Lençóis Jazz e Blues Festival, conversamos brevemente sobre o disco.

Acontece que todo o planejamento e produção desse trabalho certamente não contavam com uma pandemia que estremeu todos os chãos possíveis: a economia, nossas emoções, relações, nossa espiritualidade, nossa música, a arte. Mas parece que tudo tem um propósito, não é?

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Em meio a uma pandemia este álbum é lançado e apesar dos pesares, me parece que foi certo ser assim. Frequência Rara é um trabalho singular, de uma sensibilidade incrível. Particularmente, posso dizer que ouvir tem sido uma parte da minha terapia durante esses dias que temos ficado mais sozinhos, mais silenciosos, pensativos e preocupados, até.

O álbum começa com Feitos de Luz, uma música que dá o tom de alegria e boas energias que a gente tanto precisa e tanto vem buscado (pelo menos alguns de nós). É um álbum que fala muito sobre amor, responsabilidade e autoconhecimento também.

A segunda música é Você sorrindo, uma dessas que com certeza várias pessoas já estão enviando para seus pares. Se você recebe uma música de Dani Black, sinta-se privilegiado(a). É meio complicado ouvir essa música sem sentir vontade de se apaixonar, sem sentir vontade de que alguém (ou você mesmo) um dia possa dizer: “Sem medir ou conter, eu vou seguindo, e por que não? Acho lindo ver algo simples mudar tudo, algo assim como você sorrindo”.

Pode ser piegas, mas por que não? Algo assim piegas tão lindo e chegar mudando tudo dentro de ti? Algo assim igual essa música. Piegas igual Ser amado, faixa que conta com a participação de Mariana Nolasco, essa é realmente aquela música que galera vai entrar nos seus casamentos. É linda e clássica.

Junto com Esperando você chegar, a tríade romântica desse disco está formada: seria estranho termos Dani Black e não rolar de ter uma boa dose de romance e paixão. Aí, com as pitadas de Ú, Linha tênue e Areia, fica tudo bem: amor e sexo é tudo que a gente quer.

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Agora vamos partir para o núcleo “senta e vamos conversar sobre tua vida” desse disco.

Rancor é quase um puxão de orelha, um combinado que você faz consigo mesmo, que te leva a se perguntar por que guarda o que guarda, por que está tão obcecado com as coisas ruins que já te aconteceram, o que precisa melhorar na sua relação com outras pessoas ou consigo mesmo talvez. É provável que eu ainda demore um tempo para conseguir ouvir ou cantar essa música com sinceridade comigo mesma.

Ah, é aqui nessa música que Dani começa a fazer suas “brincadeiras” vocais que tanto nos prendem a atenção. Nunca é tarde pra elogiar e dizer que é incrível a capacidade vocal dele.

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Temor Estranho é, com certeza, a minha inédita favorita desse álbum, com participação de Fábio Brazza. Sabe quando você tenta ajudar alguém e não consegue? Sabe quando você quer fazer o outro se ver como um ser precioso como você o vê? Sabe quando você mesmo quer se ver assim e talvez não consegue? Essa música foi sem dúvida a que mais me tocou e a que mais me fez pensar bastante essas últimas semanas.

O verso “Foi você mesmo que deixou esse tumor crescer, agora tem que se livrar desse temor estranho e aceitar ter o tamanho de ser o que é” é um soco no meu estômago, um puxão de orelha daqueles que você não esquece. “Você que vive me dizendo que não quer sofrer, você que vive me dizendo que não quer chorar…”.

Fotografia: Marcos Hermes

A gente vive dizendo isso, não é? E o quanto a gente não acaba sendo responsável do mesmo jeito? É a reflexão que você é levado a fazer e que de alguma forma, de um jeito mais leve, em O que você criou acaba fixando. A gente aprende que somos capazes de criar as coisas mais incríveis, absurdas, positivas ou negativas para gente mesmo.

Só Sorriso e Bem Mais não são inéditas, mas cabem perfeitamente ao conceito deste álbum. Bem, eu não posso dizer qual é o conceito, mas pra mim é como uma conversa, sabe?

Eu sempre comentei com as pessoas que ouvir Dani Black é uma coisa terapêutica pra mim, mas agora, é realmente difícil não fazer uma comparação com um processo psicoterapêutico mesmo. A gente é convidado, chamado a fazer reflexões sobre nós mesmos, sobre o que estamos querendo, como estamos pensando, sobre como nos cuidamos (ou não nos cuidamos, na verdade).

Bem mais especificamente conta com a participação apaixonante de Maria Gadú, que descalça entra no palco nos levando bem mais longe, de fato, em uma nova versão muito delicada, quase uma canção de ninar para jovens adultos perdidos e com medo.

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Os trabalhos de Dani Black refletem seu percurso, não só musicalmente, mas espiritualmente, como pessoa. Suas músicas e a forma como elas vão se entrelaçando revelam seu caminho e sua busca por autoconhecimento, paz, a importância de se compartilhar coisa boas e de tentar evoluir constantemente.

Quando Dani está no palco, acompanhado de sua voz e de sua guitarra, fazendo aqueles passinhos, fechando os olhos enquanto entoa as notas altas mais altas e cheias de vibrações, só nos resta voar junto e esperar ser arrebatado.

Ano passado estive com Dani Black por uns momentinhos e conversamos rapidamente sobre seu processo de composição e parcerias. Encerro essa edição do Ainda Escuto Álbuns com esta entrevista para vocês:

Steffi de Castro é psicóloga. Atua em São Luís como designer instrucional e escritora. É redatora no SobreOTatame, escreve e estuda sobre música, feminismo e comportamento. É estudante de tarô, dançarina amadora, podcaster, adora ASMR e a vida offline.

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