(Foto: Divulgação/BaianaSystem).
O ano já está quase acabando, mas ainda dá tempo de escrever sobre o último lançamento do BaianaSystem: O futuro não demora.
BaianaSystem é uma banda baiana que já está há cerca de 10 anos na estrada, mas que, de 2016 para cá (desde Duas Cidades), vem ganhando mais espaço e notoriedade.
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A Bahia, cidade famosa pelo Axé, tem BaianaSystem como um referencial musical que mistura o som da guitarra forte presente em todas as músicas junto com os batuques de uma percussão marcante em todas as faixas.
Além disso, em O Futuro Não Demora, um climinha “futurista” realmente aparece com todas as intervenções eletrônicas que só enriqueceram o trabalho.
Não tem como ficar parado ouvindo BaianaSystem. Não sei você, que está lendo, mas eu, que instintivamente me mexo com um tambor tocando, não consigo ficar quietinha ouvindo O Futuro Não Demora. Eu tenho alguns critérios pra definir quando gosto de um álbum (algo muito diferente de gostar de uma música, claro): colocar no repeat e não enjoar, gostar mais de uma música, o fim de uma música leva imediatamente à próxima.
Sabe quando tu escuta um dia inteiro um álbum, tanto que tu aprende naturalmente as letras e quando uma termina tu já sabe até o tempo de início de outra?
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O Futuro não Demora passa ileso por todas essas “provas”. Consigo ouvir trabalhando, lendo, enquanto escrevo este texto e para dançar enquanto eu estou me arrumando. Só não dá pra ouvir antes de dormir, porque se não você dorme. É um álbum dançante, político, de denúncia e que, ao mesmo tempo, mostra toda a alegria e força do povo brasileiro.
Faixa a faixa
- Água
“H2o é ouro em pó”. Essa faixa é um “aviso” sobre o futuro em relação ao recurso natural mais destratado desse planeta. Feita junto com a Orquestra Afrosinfônica, a música tem toda a cadência do ritmo afro, o que tem tudo a ver, pois são esses ritmos os que estão mais ligados à natureza, representados em suas divindades. - Bola de cristal
Essa é pra tu segurar teu par e rodar com ele pelo salão! Uma mistura de ritmos caribenhos com a conhecida guitarra baiana por trás. Bola de Cristal também tem uma mensagem positiva que grudou nos meus ouvidos: “Você tem poder para mudar o mundo/O que é superficial vai ficar mais profundo/Pra se ver, pra flutuar”. - Salve
Basicamente a explicação de por que as músicas de BaianaSystem grudam e fazem dançar: “Quando toca ijexá tu não se cansa/Pedi pra tocar, tu se balança!”. A banda menciona outras bandas importantíssimas do mesmo movimento que conseguem fazer o fogo queimar em você, assim como queimou neles. - Sulamericano
Música cantando a situação atual da América Latina, com participação de Manu Chao, que apesar de ser francês, tem uma história com a música latina alternativa bastante interessante. Gosto muito dessa música porque nós brasileiros não temos muito essa consciência de que fazemos parte da América Latina e tá tudo acontecendo: “Nas veias abertas da América Latina/Tem fogo cruzado queimando nas esquinas/Um golpe de estado ao som da carabina, um fuzil/Se a justiça é cega, a gente pega quem fugiu”. - Sonar
Aqui a gente volta a ouvir o reggae que já faz parte da história de BaianaSystem, mas que até agora, neste álbum, ainda não dava as caras: “Somos só um grão de areia, fragmentos de uma distante estrela”. - Melô do Centro da Terra
O som dos berimbaus nessa música, junto com a brincadeira com os outros instrumentos, é uma das experiências mais relaxantes que existe… Com uma letra viajada mesmo. - Navio
Música que faz uma saudação às raízes afro do povo brasileiro, do povo baiano (um dos estados com maior população negra do país) e que homenageia Mestre Moa, mestre de capoeira assassinado durante o período eleitoral, em 2018. Nessa música, também é marcante o som que conhecemos pelo Olodum, junto com nuances eletrônicas. “Voa, voa, voa, mestre vive!” - Redoma
O som inicial de uma embarcação, um som ligado a uma raiz tradicional junto com o eletrônico pulsante, uma analogia entre a vida, a resistência e os caminhos pelos rios. Pra isso, nada melhor do que as vozes do Samba de Lata de Tijuaçu, da comunidade quilombola de Tijuaçu: samba de lata
9. Saci
Não sei muito o que dizer sobre essa música, sinceramente, mas ela é uma das que mais dá vontade de dançar e talvez seja isso: uma ode à dança e ao som! “O saci pererê vai dançar de uma perna só/Quem ‘tá só, fica junto, quem ‘tá junto, fica só!”.
10. Sambaqui
“Cada cabeça tem seu mundo, é como as concha na beira do mar”.
11. Arapuca
Arapuca é uma denúncia política e é bom demais, pra dançar e se irritar ao mesmo tempo. “A crise avisou que na previsão/Não vai ter trégua nenhuma/A televisão mediu com a régua no Cunha/Cavalo de troia, vestígios na unha/Levantou de vez/Helicóptero capotou/Rolé de motoca pra entregar propina/Pro filho do rei Momo”.
12. CertopeloCertoh
Participação de Vandal. E você tem que conhecer o Vandal, cara.
13. Fogo
A música que leva a estrofe que intitula o álbum. E aqui a gente escuta de novo: “Já aconteceu com você, já aconteceu comigo, o fogo que queima em você, também queima comigo”. E talvez o fogo seja algo espiritual, algo palpável como o racismo e algo lindo como dançar automaticamente ao som de batuques. É isso.