Ainda Escuto Álbuns #7: O Futuro Não Demora — BaianaSystem

(Foto: Divulgação/BaianaSystem).

O ano já está quase acabando, mas ainda dá tempo de escrever sobre o último lançamento do BaianaSystemO futuro não demora.

BaianaSystem é uma banda baiana que já está há cerca de 10 anos na estrada, mas que, de 2016 para cá (desde Duas Cidades), vem ganhando mais espaço e notoriedade.

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A Bahia, cidade famosa pelo Axé, tem BaianaSystem como um referencial musical que mistura o som da guitarra forte presente em todas as músicas junto com os batuques de uma percussão marcante em todas as faixas.

Além disso, em O Futuro Não Demora, um climinha “futurista” realmente aparece com todas as intervenções eletrônicas que só enriqueceram o trabalho.

O grupo BaianaSystem (Foto: Divulgação).

Não tem como ficar parado ouvindo BaianaSystem. Não sei você, que está lendo, mas eu, que instintivamente me mexo com um tambor tocando, não consigo ficar quietinha ouvindo O Futuro Não Demora. Eu tenho alguns critérios pra definir quando gosto de um álbum (algo muito diferente de gostar de uma música, claro): colocar no repeat e não enjoar, gostar mais de uma música, o fim de uma música leva imediatamente à próxima.

Sabe quando tu escuta um dia inteiro um álbum, tanto que tu aprende naturalmente as letras e quando uma termina tu já sabe até o tempo de início de outra?

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O Futuro não Demora passa ileso por todas essas “provas”. Consigo ouvir trabalhando, lendo, enquanto escrevo este texto e para dançar enquanto eu estou me arrumando. Só não dá pra ouvir antes de dormir, porque se não você dorme. É um álbum dançante, político, de denúncia e que, ao mesmo tempo, mostra toda a alegria e força do povo brasileiro.

Faixa a faixa

Capa do disco “O Futuro Não Demora”, de BaianaSystem (Foto: Divulgação).
  1. Água
    “H2o é ouro em pó”. Essa faixa é um “aviso” sobre o futuro em relação ao recurso natural mais destratado desse planeta. Feita junto com a Orquestra Afrosinfônica, a música tem toda a cadência do ritmo afro, o que tem tudo a ver, pois são esses ritmos os que estão mais ligados à natureza, representados em suas divindades.
  2. Bola de cristal
    Essa é pra tu segurar teu par e rodar com ele pelo salão! Uma mistura de ritmos caribenhos com a conhecida guitarra baiana por trás. Bola de Cristal também tem uma mensagem positiva que grudou nos meus ouvidos: “Você tem poder para mudar o mundo/O que é superficial vai ficar mais profundo/Pra se ver, pra flutuar”.
  3. Salve
    Basicamente a explicação de por que as músicas de BaianaSystem grudam e fazem dançar: “Quando toca ijexá tu não se cansa/Pedi pra tocar, tu se balança!”. A banda menciona outras bandas importantíssimas do mesmo movimento que conseguem fazer o fogo queimar em você, assim como queimou neles.
  4. Sulamericano
    Música cantando a situação atual da América Latina, com participação de Manu Chao, que apesar de ser francês, tem uma história com a música latina alternativa bastante interessante. Gosto muito dessa música porque nós brasileiros não temos muito essa consciência de que fazemos parte da América Latina e tá tudo acontecendo: “Nas veias abertas da América Latina/Tem fogo cruzado queimando nas esquinas/Um golpe de estado ao som da carabina, um fuzil/Se a justiça é cega, a gente pega quem fugiu”.
  5. Sonar
    Aqui a gente volta a ouvir o reggae que já faz parte da história de BaianaSystem, mas que até agora, neste álbum, ainda não dava as caras: “Somos só um grão de areia, fragmentos de uma distante estrela”.
  6. Melô do Centro da Terra
    O som dos berimbaus nessa música, junto com a brincadeira com os outros instrumentos, é uma das experiências mais relaxantes que existe… Com uma letra viajada mesmo.
  7. Navio
    Música que faz uma saudação às raízes afro do povo brasileiro, do povo baiano (um dos estados com maior população negra do país) e que homenageia Mestre Moa, mestre de capoeira assassinado durante o período eleitoral, em 2018. Nessa música, também é marcante o som que conhecemos pelo Olodum, junto com nuances eletrônicas. “Voa, voa, voa, mestre vive!”
  8. Redoma
    O som inicial de uma embarcação, um som ligado a uma raiz tradicional junto com o eletrônico pulsante, uma analogia entre a vida, a resistência e os caminhos pelos rios. Pra isso, nada melhor do que as vozes do Samba de Lata de Tijuaçu, da comunidade quilombola de Tijuaçu: samba de lata
(Foto: Marcos Cesário).

9. Saci
Não sei muito o que dizer sobre essa música, sinceramente, mas ela é uma das que mais dá vontade de dançar e talvez seja isso: uma ode à dança e ao som! “O saci pererê vai dançar de uma perna só/Quem ‘tá só, fica junto, quem ‘tá junto, fica só!”.

10. Sambaqui
“Cada cabeça tem seu mundo, é como as concha na beira do mar”.

11. Arapuca
Arapuca é uma denúncia política e é bom demais, pra dançar e se irritar ao mesmo tempo. “A crise avisou que na previsão/Não vai ter trégua nenhuma/A televisão mediu com a régua no Cunha/Cavalo de troia, vestígios na unha/Levantou de vez/Helicóptero capotou/Rolé de motoca pra entregar propina/Pro filho do rei Momo”.

12. CertopeloCertoh
Participação de Vandal. E você tem que conhecer o Vandal, cara.

13. Fogo
A música que leva a estrofe que intitula o álbum. E aqui a gente escuta de novo: “Já aconteceu com você, já aconteceu comigo, o fogo que queima em você, também queima comigo”. E talvez o fogo seja algo espiritual, algo palpável como o racismo e algo lindo como dançar automaticamente ao som de batuques. É isso.

Steffi de Castro é psicóloga. Atua em São Luís como designer instrucional e escritora. É redatora no SobreOTatame, escreve e estuda sobre música, feminismo e comportamento. É estudante de tarô, dançarina amadora, podcaster, adora ASMR e a vida offline.

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