Ainda Escuto Álbuns #9: “Eu não morreria sem dizer”, primeiro disco de Troá

A dupla carioca Troá (Foto: Gabriel Castilho/Divulgação).

A minha atenção foi chamada, primeira, pelo nome: Troá. Nome pequeno, forte, não dá pra confundir com outra palavra. Não tive dúvidas de que, na verdade, não dá pra confundir com mais nada.

A banda carioca é formada por Carolina Mathias (baixo/teclado/guitarra) e Manuela Terra (baterista). Juntas há mais de 10 anos, a dupla vem mostrando todo o potencial criativo em arranjos, composições e posicionamentos. A poesia cantada tem voz, som e motivo.

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Em 2018, lançaram um EP chamado Miolo, com 7 faixas, uma “amostra” do que podemos ver agora com mais robustez em Eu não morreria sem dizer, álbum lançado em outubro de 2019.

capa do disco Eu não morreria sem dizer

As músicas são relativamente “longas”, uma média de 4 minutos cada, 13 músicas; parece muito, mas ouvir foi tranquilo, quando dei por mim, tinha acabado e eu gostaria de mais.

Escolhi 3 músicas para você conhecer Troá. Vamos ouvir?

1 Você me dá vontade de morrer antes da hora

A voz grave, firme e cortante de Carolina já deixar o olho de tantas de nós marejados: os dias passam por cima de mim/e mesmo quebrada/mesmo aqui/eu deixo o mar quebrar em mim/deixo você me partir/eu vou te invadir pra ver se resta um pedaço meu. É forte, triste e doloroso. Quase um pedido desesperado de alguém por si mesmo depois de tantas dores, um abismo que é meu, só meu, eu procuro fundo, eu procuro fundo e não acho não.

Terminei de ouvir e só conseguir pensar que ora só, o processo de se conhecer e de buscar um preenchimento existencial (que sequer existe) é exatamente assim: uma busca profunda, dolorosa, a gente se invade e mesmo quebrada continuamos.

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A batida da bateria dá o tom pros sentimentos e epifanias que podem surgir. Aproveite.

2 Ímpeto

É a primeira mais dançante e tem a participação de Chico Chico (sim, o Chicão, filho da Cássia Eller, que inclusive esteve aqui em São Luís ano passado).

A música é um grito, dizem por aí naquelas imagens de Instagram que a gente gosta de compartilhar, que uma mulher, depois que descobre o que ela e o que ela pode, não tem pra ninguém.

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Ímpeto é o nome disso, é um hino: eu tô aqui pronta de novo pra comer esse mundo feito um touro/ e de grama em grama abre espaço pra eu passar/ passei/ eu não vou deixar você subir em mim/ eu não vou deixar você me quebrar assim/ tá pra existir o que me leve de onde eu tenho que estar/ meu caminho é dor, mas também é luz… Estamos todas aqui pra comer esse mundo!

 3 Nasce morre só

A música lenta e dolorida, me lembrou uma frase/versinho (não sei) de Rachel de Queiroz: “a gente nasce e morre só, talvez por isso mesmo é que se precisa tanto se viver acompanhado”; aqui nessa música, o que é retratado é finalmente o encontro com esta verdade: nascer e morrer são fatos solitários.

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O que está entre isso é que depende de nós. A música tem participação de Dedé Teicher.


O álbum de estreia de Troá é também bastante politizado e com muitas experimentações. Recomendo muito ouvir inteirinho, Tobogã, Eu tenho Raiva, Luz Só do Sol, são outras faixas muito interessantes e bem trabalhadas. Ouça todinho aqui: Spotify / YouTube.

duas mulheres com roupas na cor marrom, de costas para o mar olhando para o lado esquerdo
O duo Troá (Foto: Gabriel Castilho/Divulgação).
Steffi de Castro é psicóloga. Atua em São Luís como designer instrucional e escritora. É redatora no SobreOTatame, escreve e estuda sobre música, feminismo e comportamento. É estudante de tarô, dançarina amadora, podcaster, adora ASMR e a vida offline.

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