A pomba branca. A Santa Coroa. Os Altares, a coroação de Imperadores/Imperatrizes. A distribuição de esmolas. Cantos, tambores, cores, doces e licores. O Festejo do Divino Espírito Santo, que ocorre na cidade histórica de Alcântara, é uma verdadeira resistência cultural e religiosa.
Sendo um dos mais tradicionais do Estado, a festa se inicia anualmente na quinta-feira de Ascensão ao Senhor ao Domingo de Pentecostes, quando se faz a leitura do pelourinho para os festejos do ano seguinte e entrega dos postos aos novos festeiros (que se comprometem por devoção ou pagamento de promessas).
O Império é constituído por 1 Imperador ou Imperatriz, uma vez que cada ano é alternado, 1 Mordomo-Régio ou Mordoma, 5 Mordomos-Baixos e 6 Mordomas-Baixas, sendo representados por crianças numa faixa etárias de 4 a 14 anos, trajando vestimentas da época.
Imperador. Foto: Ingrid Barros
Mordomo. Foto: Ingrid Barros
A casa do Imperador e as casas de Festas dos Mordomos chamam atenção por suas cores e decoração. Cada casa possui uma cor. Na rua, é sinalizado por bandeirolas em frente. Algumas oferecem licor aos visitantes. E é proibido a entrada na sala onde fica o altar, se o visitante estiver de bermuda/short ou blusas de alça, correndo o risco de ser “preso” por crianças que ficam responsáveis por essa fiscalização. Caso o contrário, o visitante tem que pagar uma prenda – geralmente um valor simbólico em dinheiro. Para as crianças, é uma verdadeira diversão, ficando sempre atentas a espera de um “vacilão”.
Outro personagem central da festa do divino são as caixeiras. Mulheres idosas que tocam tambores e entoam cânticos em louvor ao Divino Espírito Santo. O ritmo dos toques e as vozes dessas mulheres são algo que realmente encantam. Há certa força e resistência em suas atuações. No cortejo, quando os músicos param, elas começam. Na visita do Império à cada dos Mordomos, há uma dança feito em conjunto com as bandeirinhas em frente ao altar. Há uma verdadeira sincronia entre elas.
As mesas fartas também são características do festejo. Durante à visita do Império a casa dos Mordomos, todas elas tem que estar preparadas para os receber com uma mesa especialmente preparada para a corte. Os típicos doces de espécie fazem parte do cardápio, assim como bolos, pudins e chocolates quentes, distribuídos depois aos turistas e visitantes do festejo.
É durante a visita do Império, que outra parte também rouba a cena: os músicos. Enquanto, a corte realiza sua visita, os músicos ficam na parte externa realizando um verdadeiro “Jam Sessions”, por assim dizer. E para aguentar as 6 ou 7 horas de cortejo pela cidade – entre pedras e ladeiras – cada casa de festa tem que oferecer cervejas aos músicas, que só tocam, se houver.
Segundo alguns estudiosos, a festa surgiu em Portugal no século XIV, pela rainha Isabel Aranhão. No Brasil, ela foi trazida pelos missionários no inicio da colonização e se espalhou por diversas partes do território, assumindo em cada canto característica próprias, preservando elementos comuns de símbolos e rituais. O festejo rico em cores, história e tradição, encanta a todos que vivenciam o evento.