Às mães solo, com amor e empatia

Cena do filme ‘Mulheres do Século 20’ (Foto: Reprodução)

Não sou mãe. Sou filha de uma mulher que criou a mim e a minha irmã sozinha. E é nesta posição que, hoje, escreverei sobre a maternidade solo, na perspectiva de filha que me compete. Mas antes de começar, acho importante frisar que, assim como somos múltiplas mulheres, também somos diferentes mãe e filhas, com experiências que podem ser semelhantes ou completamente diferentes entre si.

A minha vivência

Cresci vendo a minha mãe ser cobrada e se cobrar da figura masculina dentro de casa. Cresci sendo cobrada de ter uma afetividade com a figura paterna, ou mesmo de representar o modelo no qual esta figura se torna uma lacuna evidente em minha vida. Muitas vezes, acho que a sociedade esperava ver em mim “defeitos” que demarcassem a clara ausência paterna na infância ou juventude. Homens, sobretudo, sempre se incomodaram quando eu defendia que não poderia sentir falta daquilo que nunca vivi. Parecia-me contraditório que eles não façam questão de estar presentes, mas, quando a ausência não é sentida, aí é uma ofensa.

Acho tudo isso muito irônico. A mesma sociedade que não acolhe a mãe, que faz vista grossa para a paternidade compulsória, quer que o filho ou filha seja a evidência clara da ausência paterna, para apontar a importância da figura masculina no modelo familiar tradicional, idealizado e nunca problematizado.

E sabe nos ombros de quem todo esse medo dos possíveis impactos da ausência paterna recaem? Nos da mãe, claro! Única e exclusivamente. Vi a minha mãe carregar essa angústia e vejo muitas amigas arrastando os fardos de lidar com pais que não sabem o real significado de serem responsáveis por outra vida.

Na prática

Vejo as amigas que de 15 em 15 dias saem para se divertir serem perguntadas nas festas onde estão seus filhos e filhas, mas não vejo os pais serem questionados disso nos 15 dias que passam longe dos seus. Ao mesmo tempo, observo a paternidade quinzenal ser celebrada nas redes sociais, mas a maternidade diária esquecida.

Ser filha de mãe solo é ver que a sociedade não olha com gentileza alguma para aquela pessoa que está ao seu lado, nos sorrisos e nos choros, aquela que passa a noite acordada medindo a tua febre e levanta pela manhã para trabalhar como se tivesse dormido. É ver que as pessoas olham com cara feia quando sua mãe não encontra ninguém para ficar com você e tem que te levar para o trabalho.

Ser filha de mãe solo é perceber o quanto essa maternidade é um processo muito mais árduo para algumas mulheres e isso não se dá só pela comum ausência dos pais. Muitas mulheres conseguem dar conta disso, minha mãe é um exemplo. O que dói é ver o quanto a nossa sociedade dificulta, ainda mais, a vida da mãe solo, cobrando, apontando, negligenciando e torcendo contra. Muitas vezes, a minha mãe teve que escutar que eu não teria um bom futuro. Sim, pasmem, as pessoas não têm pudor algum em dizer isso para uma mãe solo.

Um último recado

Mães solo, como filha, o que posso dizer a vocês é: nós percebemos. Observamos os seus esforços para dar conta de tudo e a tristeza quando não conseguem. Não importa se vocês, às vezes, não conseguem ir na reunião de pais da escola. Nós sabemos o porquê da ausência. Não importa se um dia vocês brigaram por estarem estressadas. Nós observamos a sobrecarga. Não vamos deixar de amá-las nem por um segundo, independentemente dos percalços nessa nossa trajetória. Sim, ela é nossa!

Pais ausentes, o que tenho a ver.

Iniciativa Elas SobreOTatame

Este texto faz parte do Elas SobreOTatame: uma iniciativa do SobreOTatame que aborda temas do universo feminino ao longo do ano, em textos, podcasts, encontros presenciais e convidados especiais. Tudo isso sob o comando da mulherada do site.

Neste segundo bloco, a temática é sobre Maternidade. A medida que os materiais forem saindo, iremos listá-los sempre ao fim dos textos para que você possa acompanhar. O primeiro foi:

Cada bloco dura três meses com uma temática escolhida, o primeiro foi sobre Prazer Feminino e Autoconhecimento. Durante os meses de janeiro a março vários materiais sobre esta temática foram publicados:

E tudo isso culminou em um encontro presencial que você pode conferir no vídeo a seguir:

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Jornalista por paixão e formação; doutoranda em Jornalismo, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); e mestre em Ciências Sociais, pela Universidade Federal do Maranhão (UFSC). Fascinada por imagens, lugares e pessoas. Feminista desde criancinha!

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