Acho que isso começou lá na adolescência, numa fase de transição e mudança de casa e amizades novas. Lembro que me juntei com caras que viraram amigos e alguns estão comigo até hoje, nas alegrias e nos perrengues. Cada um já passou por desilusões, mas hoje gozam de uma fase boa da vida, com namoradas e esse mix de calmaria e tempestade que existe entre os 20 e os 30 anos. Mas eu, às vezes, sinto coisas que me fazem voltar lá naquela fase. Pode parecer imaturidade, mas, quando vejo, lá estou eu de novo: sentindo demais.
Há algumas semanas, auxiliei um amigo de trabalho como cinegrafista em uma entrevista e, certa altura, um dos entrevistados falou sobre a tragédia do tsunami no Japão em 2011 e como isso mexeu muito com ele. E me identifiquei, lembrei da melancolia que senti e do sentimento de incapacidade de poder fazer algo enquanto via tudo pela TV.
Mas essa simples frase e memória dessa tragédia me atingiu bem mais lá dentro, que nem imaginei, e me atentei que, talvez, eu tenha essa mania de sentir demais. De, às vezes, querer salvar o mundo.
Falar disso me remete, também, às coisas que tentei fazer genuinamente e não pude desfrutar da ação em prol do outro. Lembrei de um grupo de amigos que “juntei” e hoje acabei sendo o “descartado”. São pessoas que ajudei em momentos difíceis e ao primeiro suspiro de “mares calmos e ventos favoráveis”, zarparam em direção à parte boa da vida, me deixando por aqui. E, no fundo do meu coração, não os culpo. Vai ver as frequências não são mais as mesmas do que naquele primeiro momento.

E isso não se resume ao meio social, mas profissional também e até mesmo de relacionamentos. Lembro da vez que tive com alguém que sabia que o que ela queria não ia de encontro ao que eu prospectava, e assim deixamos de ter laços e acabei assumindo a capa que remetia a sentimentos ruins.
Apesar disso tudo, tenho consciência de que algumas atitudes não foram propositais e muito menos para fazer algum mal e sim que a vida tem dessas coisas. Esses momentos finitos.
Não que eu seja um anjo em absoluto ou citei alguns exemplos com o objetivo de me mostrar como uma pessoa de bem, até porque tenho um histórico como qualquer um, de coisas às quais não se orgulhar. Na vida real é assim. Mas o que quero dizer com os exemplos, é a respeito do turbilhão de sentimentos que passou por mim durante cada uma dessas e tantas outras situações. E não, não foi fácil, apesar de saber disfarçar melhor com o tempo. E te digo com todas as letras: tem horas que é foda!
Porque em momentos assim tu te coloca em xeque, pensa em agir com mais cautela e, inevitavelmente, sobra pra quem não tem nada a ver com isso. Sem contar às vezes que nos blindamos.

Ao mesmo tempo me pego pensando que, quem sabe, a vida é assim mesmo e a melhor saída é tentar não pensar muito (ou sentir muito?).
Enfim, sei lá, não tenho resposta concreta para isso, apenas algumas breves suposições. E é inevitável fugir do clichê, mas, talvez, o melhor seja ouvir o coração e trazer junto um amigo sábio: a razão.