Foto: Daryan Dornelles/Divulgação.
A cantora Roberta Sá não tem pouco tempo de estrada, quase 15 anos de carreira e alguns álbuns já no currículo. O último foi lançado recentemente e eu estava degustando-o por esses dias para ter o que falar: ele (o disco) traz uma mistura de MPB, samba e bossa e até um xote ‘delicinha’ pra ouvir sem pretensões, mas com atenção.
Primeiro, estava muito ansiosa porque sou muito fã do Gilberto Gil e de toda a família dele: imagina a alegria que eu tive então de ver, em um clipe só, Roberta Sá com Gilberto Gil e Jorge Ben Jor? Foi assim que o novo álbum começou a dar seus primeiros passinhos, com o lançamento do single e do clipe de Ela diz que me ama:
Pensei que Gilberto seria apenas uma participação especial nessa música. Qual não foi a minha surpresa ao ouvir o álbum inteiro e me dar conta de que muitas músicas tinham sido compostas pelo próprio Gilberto Gil. Tá, muitas não: TUDO. Tudo teve um dedo, se não a mão toda, do Gilberto Gil (viva a nova funcionalidade do Spotify, de mostrar os créditos).
O que era para ser um álbum para homenagear canções do Gilberto Gil virou um álbum com composições inéditas de Gilberto Gil, algumas feitas exclusivamente à voz doce, sem muitos floreios e muito bem disciplinada de Roberta.
Não à toa, a capa do álbum é Roberta Sá aparecendo num espelho pelas mãos de Gil. É isso que Giro faz: mostra a cantora moldada pela mão talentosa de um dos maiores artistas do Brasil e do mundo. Não é pra qualquer pessoa!
Faixa a faixa em poucas palavras
Giro: a impressão que eu tenho ao ouvir essa música é que uma mulher está se apaixonando, só não sei se por um homem ou pela cidade em que está, fica pelo gosto do cliente.
O lenço e o lençol: umas das minhas favoritas! Sem muita gritaria, é só uma mulher dizendo que posição quer ocupar e o que aceita ou não: “Sou quem sou vou fazendo o que eu bem queira/ Sem eira nem beira nem protocolo/ Quem me quiser que descubra a maneira/Não me bote no bolso e sim no colo”.
Cantando as horas: no início, a gente pensa até que a música fala de um fim de relacionamento, mas é só uma historinha de como às vezes é super saudável deixar um tiquinho de saudade de quem a gente ama pra poder botar um fogo a mais quando o reencontro chega.
Ela diz que me ama: além de Gil, temos Jorge Ben Jor participando. Que puta participação! Basicamente, fala da paixão, caramba, dá até vontade de se apaixonar: “As coisas começam simples/E depois vão crescendo, ai, ai/A gente vai vivendo/A gente vai se envolvendo/Até descobrir que está feliz ou sofrendo/Coração, coração/Aguenta mais essa meu irmão/Aguenta mais essa”.
Nem: é uma canção de recusa, não sabemos o que o eu lírico se recusa a parar, mas se recusa, não ouve as vozes de alerta (ou de agouro) que evocam no ouvido sem parar. Que importa é ir em frente, “Nem que alguém queira parar o trem”.
Fogo de palha: embora o nome seja “fogo de palha”, a música fala mais de algo que, não importa distante ou perto, resiste, existe, em algum momento é ou pode tornar-se sólido: “Se a paixão não pega/É o amor que pega sim/Mesmo que ‘cê” vá embora/O xodó nunca terá fim/Sempre há de chegar a hora/De ver você de novo aqui no meu jardim/É assim com todo mundo/Com nós dois também será/Quando o amor é verdadeiro/Quando o afeto é bem sincero/Não há como se livrar”
Autorretratinho: é, como já diz o nome, um autorretratinho, ao longo da letra você vai sendo levado a desenhar mentalmente a imagem de um rosto, e, embora toda a descrição deste rosto, o que faz, no fim mesmo, parte de uma boa descrição são uns olhos de pintor e as singelezas que só um poderia perceber.
A vida de um casal: sem rodeios, é exatamente disso que a música trata: sobre o casamento, sobre os altos e baixos de uma relação, das necessidades de ambos fazerem as concessões. A música me lembra muito uma frase de um teólogo católico chamado G.K Chesterton: “A coisa mais extraordinária do mundo é um homem comum, uma mulher comum e seus filhos comuns”. Afinal, não é a mesma coisa de dizer que “O céu real nós vamos construindo aqui no chão”?
Xote da modernidade: como eu já disse, um xote delicinha pra dançar tranquilo e compreender que a modernidade é “uma verdade dura de enxergar”, mas diante de tanto mar, de tanto rio, de tantas verdades nessa modernidade, dá pra gente dançar — ainda.
Outra coisa: é pra você aprender a diferença que carne é carne, amor é amor. Puta que pariu, embora na teoria a gente saiba, na prática é só confusão.
Afogamento: fala sobre o amor, mais que isso, fala sobre se afundar nesse sentimento, sobre se afogar em sentimentos e nem sempre sair ileso. Basicamente sobre o que é amar e perder.