Texto de Naíra Flores, em colaboração ao SobreOTatame.com – Cena do filme O Ódio que Você Semeia (Foto: Divulgação).
O assassinato brutal do segurança George Floyd em Minneapolis, nos Estados Unidos, no mês passado, chocou o mundo – e vem marcando uma série de manifestações e protestos em diversos países.
Os protestos lembram também outros assassinatos e injustiças cometidas com outras pessoas negras, inclusive no Brasil, como, por exemplo, o assassinato do menino João Pedro, no Rio de Janeiro, há algumas semanas.
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O movimento Vidas Negras Importam está crescendo e nós, do SobreOTatame, apoiamos o movimento e somos contra qualquer tipo de apologia ao fascismo, racismo e nazismo.
Reservamos neste post mais um espaço para aprender sobre racismo e as desigualdades apontadas e escancaradas pelo movimento Vidas Negras Importam.
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Aqui, a colaboradora Naíra Flores selecionou cinco produções, entre filmes e séries, para que você possa aprender e discutir sobre o assunto.
Queen and Slim (2019)
Dirigido por Melina Matsoukas (Formation, Insecure) e roteiro da atriz Lena Whaite (Jogador Número 1, Master of None), Queen and Slim foi considerado “o filme mais negro do ano” pela Indie Wire, em 2019.
Após serem abordados por um policial branco, um casal vê a noite do seu primeiro encontro ter consequências fatais. Enquanto buscam refúgio, um vídeo do incidente viraliza, tornando-os famosos nas redes sociais.
Em meio a discussão do uso abusivo da força policial contra negros, justiça e estereótipos, Queen (Jodie Turner-Smith) e Slim (Daniel Kaluuya) viram símbolos, atraindo fãs e algozes por onde passam, numa espécie de Boonie e Clyde do século XXI.
O Ódio que Você Semeia (2018) – Telecine Play
Baseado no best seller da escritora Angie Thomas, o filme traz Starr (Amandla), que vive uma vida dupla. Em casa, mora em um bairro humilde, rodeado por violência e drogas. Sua família, em especial seu pai, explica desde cedo para os filhos como funciona a vida real para quem é preto, desde os mandamentos dos Panteras Negras a como reagir em caso de abordagem policial. A outra Starr frequenta uma escola particular em um bairro nobre com seus irmãos, evita parecer muito “do gueto” para não ser tratada de forma diferente com os colegas, tenta se misturar.
Mas quando seu melhor amigo é morto na sua frente por um policial, a realidade de Starr vira do avesso, e ela vai precisar se redescobrir, se entender e tomar a frente de um movimento que mudará a vida de todos para sempre.
Dear White People – Netflix
A série da Netflix inspirada no filme de 2014 é extremamente necessária e pouquíssima comentada por aqui. Do meu círculo social, somente eu e minha irmã assistimos. Aqui, acompanhamos jovens negros que frequentam uma universidade conceituada majoritariamente branca.
Após uma festa blackface realizada por alunos brancos, as tensões raciais explodem, levantando debates e instaurando um verdadeiro clima de guerra no campus.
Dear White People fala do uso do negro como fantasia, objetificação da mulher negra, privilégios, ataques velados, ataques de fakes…O racismo escancarado, tim tim por tim tim para você. Ah, a primeira temporada foi dirigida pelo vencedor do Oscar Barry Jenkis (Moonlight). Tem na Netflix.
She’s Gotta Have It – Netflix
Baseada no filme escrito e dirigido por Spike Lee, a série She’s Gotta Have It (Ela Quer Tudo) estreou na Netfix em 2017. A produção tem como foco Nola Darling (Dewanda Wise), um mulherão da porra.
Negra, artista, ativista, sem medo de ser ousada e defender suas ideias e/ou justificar quem deita em sua cama. Resumindo, não tem medo de ser ela mesma. Além dos amores de Nola, a série é uma carta de amor à comunidade negra. A narrativa de Lee passa pelo racismo, apropriação cultural, feminismo, música, arte e religião.
She’s Gotta Have It não é muito falada por aqui, sofrendo do mesmo mal que a familiar Dear White People. Mea culpa da própria Netflix, que parece sofrer de corte de verbas quando o assunto é divulgar tais produções. Será que a nudez negra incomoda mais? Produções em que sua maioria é negra e não faz parte do mainstream, mesmo pela gigante do streaming, ainda ficam no limbo.
Olhos que Condenam – Netflix
Olhos que Condenam é de longe uma das melhores produções da Netflix. A história real sobre os 4 jovens acusados injustamente de estupro e agressão em 1989 é até hoje um momento que a polícia de NY gostaria de esquecer.
Para o espectador, os nós na garganta e no estômago são frequentes durante os 4 episódios da minissérie vencedora do Emmy.
A produção é assinada por minha musa pessoal Ava DuVernay, um grande nome que luta por profissionais negros na indústria do cinema. Também são dela: Selma (2014) e o documentário A 13ª Emenda (2016).
Bônus: Horror Noire – Livro Darkside Books
Quando pensamos em protagonismo negro em filmes de terror, os pôsteres de ‘Corra’ e ‘Nós’ são imediatos. Porém, antes de Jordan Peele dar as caras, George A. Romero, lá em 1968, com a ‘A Noite dos Mortos Vivos’, colocou um negro como protagonista.
Um negro em um filme de terror que não era o primeiro a morrer, não dizia frases como ‘damn / holy shit / mother fucker/’, nem usava drogas, nada disso. Era o herói.
Horror Noire: A Representação Negra no Cinema de Terror (Darkside Books) inclui grandes produções de Hollywood, filmes de arte, blaxploitation e as emergentes produções de horrorcore inspiradas pela cultura hip-hop.
O livro é escrito pela Dra. Robin R. Means Coleman, que desenvolveu uma pesquisa profunda com a análise das imagens, influências e impactos sociais dos negros nos filmes de terror desde 1890 até o presente.
Nota editorial: o SobreOTatame.com é um site que produz conteúdos de cidadania, comportamento e cultura. Por meio dos conteúdos que publicamos, acreditamos na informação como força de educação e discernimento, desta maneira, abrimos espaço para profissionais que possam tratar de temas mais especificamente.
Naíra Flores é formada em comunicação e gostaria de ter a vida dirigida por John Hughes. Anota todos os filmes que vê, tá com o TV Time todo atrasado, acha que é profiler do FBI e adora música ruim. Troy and Abed in the mooorning.