Um dia desses eu acordei achando o mundo chato, vazio e me perguntei o que eu estava fazendo por aqui. Mergulhei um pouco mais fundo e me questionei acerca da minha função no planeta, como as pessoas me viam e como eu gostaria que elas me vissem quando eu não estivesse mais aqui. Pensei nos filhos que ainda não sei se eu quero ter, na namorada que ainda não sou, na professora universitária que ainda não me tornei. Me imaginei daqui a 20 anos. Daqui a 40.
Me imaginei abandonando o real e me tornando lembrança para os próximos e os não tão próximos. Me imaginei me perguntando: “Será que eu contribuí de alguma forma para este mundo que eu acabei de deixar?”
E foi então que, depois de todo esse encontro com o desconhecido, eu resolvi escolher. E eu escolhi fazer o bem, principalmente por conta dos cinco motivos abaixo, os quais atravessaram minha vida revirando tudo do avesso, mas deixando tudo muito melhor do que estava.
1 – Uma desilusão: foi amorosa e ao som da Joss Stone
Não sei se a pessoa responsável por isso vai ler esse texto, mas, cara, eu vou te amar (de amor pra valer, saca?) eternamente por ter passado pela minha vida, ter se tornado meu amigo e, sobretudo, por ter virado um belo dia pra mim e ter dito que não podemos cobrar do outro mais do que aquilo que ele pode oferecer.
Essa frase transformou minha vida a partir do momento em que me dei conta de que há um limite no outro que, muitas vezes, não buscamos conhecer. Julgamos os atos alheios, as falas alheias logo de primeira instância sem ao menos nos perguntarmos. Avaliarmos se, realmente, a pessoa já lidou com aquela situação, se ela sabe encarar os entraves da vida de modo confortável, se, na verdade, ela não está precisando de ajuda.
Um dia desses me certifiquei disso ao ler uma frase no Facebook:
E tive vergonha por todas as vezes que eu julguei (e continuo julgando) todo e qualquer deslize de alguém. Só apontamos e não ajudamos – ou somos crucificados e não ouvidos também. Criamos, sociedade, a avenida das negações em via de mão dupla. Só que dá pra virar na próxima esquina e tentar novos caminhos. E por esse motivo eu resolvi mudar.
E quanto ao carinha lá, não foi um relacionamento, mas ele foi aquele tipo de pessoa que veio na hora certa, de um modo meio torto, sacudiu tudo, deixou legado e fez história – e deixou amor. Hoje somos amigos e eu A completamente agradecida pela bagunça que ele fez – e torcendo muito para que ele faça outras bagunças dessas por aí.
2 – Profissão Professor
Não tenho filhos. Não pelos meios naturais (e deliciosos) de concepção, mas sou professora e, sim, há muito envolvimento e muito amor nisso tudo. Recebemos diariamente uma carga excessiva de sentimentos porque não lidamos com um tipo específico de ser humano: são muitas pessoas, muitos alunos, muitos problemas, muitas histórias, muito tudo. É um compêndio único, singular de pessoas que, de alguma maneira, te afetam. A parcimônia com a qual devemos trabalhar nos leva a acreditar que o outro precisa ser sentido para que o trabalho aconteça e os objetivos sejam alcançados. Nesta esteira a gente descobre que quem promove a transformação é quem mais se transforma e eis que a vida passa a fazer sentido e, por conseguinte, amar o próximo vira vício.
3 – A Igreja interna que cada um de nós carrega
Não tenha religião, mas tenha fé: seja em um Deus, em deuses, ou no Cosmos. Mas ter um lugar onde possa se firmar e onde se possa direcionar as energias transformadoras é necessário para que estejamos alinhados. É a vontade de mantê-las, intensificá-las que nos impulsiona a continuar fazendo determinas ações e, por conseguinte, impactar o mundo. Segui-las passa a fazer parte de nossa missão.
4 – Amor pela Literatura
Ler significa percorrer lugares e pessoas desconhecidos e, como em toda viagem, a volta já nunca é como a partida. Quando lemos, nos apossamos de identidades e situações que até então desconhecíamos. Ao passo que nos envolvemos, aprendemos a reconhecê-las no mundo real e tudo o que foi lido-vivenciado passa a interferir na maneira pela qual nossos olhares e concepções se baseiam. É como se nos tornássemos psicólogos do mundo sem sê-los. E, entendendo o mundo de fora, melhoramos o mundo aqui dentro da gente.
5 – As viagens que fiz
Nada no mundo se compara a uma viagem. É como se Deus tivesse espalhado pedaços nossos por aí, sabe? E é nosso dever encontrá-los e quando conseguirmos, estarmos abertos a conhecer (e aceitar) uma parte da gente que estava reservada: uma nova boa versão da gente. E lá voltamos nós, restaurados pela energia que somente o deslocamento é capaz de proporcionar. E uma vez deslocados, tudo ao redor precisa entrar em consonância com este novo estado. E é então que deslocamos o que havíamos deixado pra trás, inclusive o que há de mais escondido no nosso eu. E reiteramos o que jamais podemos esquecer: da vida, nada se sabe.
Essas cinco razões têm me mostrado que o mundo não cabe num potinho, que as pessoas não são desenháveis e que o que somos hoje nada mais é do que portfólio de tudo aquilo que escolhemos – inclusive o mundo no qual desejamos viver.
Traduziu em palavras tudo o que eu venho sentindo e descobrindo acerca desse mundão que vivemos e movemos! Sobre as viagens não posso afirmar muita coisa, mas a perspectiva sobre as outras 4 é a mesma! Gratidão!