Como diz meu brother Fred Mattos: “Papo-reto, afeto e honestidade!” (Foto: Fábio Matta / Na Fonte)
Apesar de ter um conhecimento e atenção sobre masculinidade há pelo menos uns sete anos, o máximo que pude ter em contato sobre a temática mais de perto foi com amigos que estão dispostos a falar sobre suas vivências e experiências e, também, de um convite para participar de uma roda de conversa sobre o documentário “Precisamos falar com os homens” e no TEDxRuaPortugal, que co-organizei e trouxe o Guilherme Valadares, do PapoDeHomem (PdH), pra falar sobre o tema (em 2017).
Daí, no último fim de semana, tive uma oportunidade, junto com dois colegas de equipe, o Rick Ramos e o Gersony Ramos, de ouro de participar de um encontro presencial cheio de afeto, escuta e ajuda sobre essa jornada do que é ser homem.
Organizado pelo espaço Nafonte Coworking, o Entre Homens traçou um objetivo bem simples: assistirmos ao documentário O Silêncio dos Homens, do colegas do PdH, e conversarmos a partir de perguntas que estavam numa caixinha. Falaria quem sentisse vontade, mas quem optaria apenas por ouvir, poderia sem problema algum.
O que tivemos foram trocas fortes, sinceras e choro. Penso que tudo isso trouxe um sentimento libertador pra mim e para os caras que estavam ali falando de seus dilemas pra uma dúzia e meia de desconhecidos.
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Na roda, tivemos relatos sobre o impacto da figura do pai na vida do homem, como nós lidamos com questões relacionadas a saúde mental como ansiedade e depressão, a sensação de estar perdido, o estresse, o machismo, hiperssexualização do homem negro, o homem LGBTQ+, entre outros. Isso logo após a exibição do documentário que, por si só, mexeu com os homens ali presentes.
Apesar de uma caixa cheia de perguntas que foi trazida pelo mediador Fábio Matta, o encontro se fez por essas duas perguntas que nos trouxe reflexões profundas e que estamos todos nesse barco à deriva. Perdidos, com receios, medos, mas cientes dos desafios dessa jornada do homem.
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Houve relato de um colega que é negro e lida, com a força que ele não sabe de onde tem, porque ele já nasce em “desvantagem” se comparado ao homem branco, além da hiperssexualização e fragilidade que ele tem. Teve o relato de dois homens gays e sua jornada com a saúde mental e o outro com sua orientação e as diferentes reações do núcleo família. E vários sobre o “rancor” e a ausência de abertura com a figura paterna.
O fundo do poço e a busca por ajuda
Algumas das contribuições que procurei compartilhar foi justamente o que acontece com os homens: é preciso, quase sempre, chegar ao fundo do poço pra reconhecer que precisa de ajuda. Infelizmente.
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Por sermos condicionados desde a infância que homem:
- homem não chora;
- homem tem que aguentar tudo,
- buscar soluções;
- ter sucesso em o máximo níveis e camadas da vida;
- reprimir os sentimentos e emoções;
- ter um porte físico forte;
- ter um ótimo desempenho sexual;
- não brochar;
- e várias outras coisas.
Nós acabamos adotando, inconscientemente, uma postura autodestrutiva e que nos tornamos uma bomba-relógio.
O “fundo do poço” pode ser retratado num término de um relacionamento, uma demissão, discussão com a companheira (o), a sensação de estar perdido, sintomas relacionados à saúde mental, insegurança, vida sexual, violência, etc.
Comigo o processo se deu a partir de o rompimento de um relacionamento, o qual atravessei etapas com bebidas, vida financeira desregulada, procrastinação, insegurança, medo, busca por um corpo ideal, comportamentos machistas, etc.
E, pouco a pouco, passei a ter um olhar mais atencioso, fui me redescobrindo e, a trancos e barrancos, fui tentando domar o eu-machista que habita em mim e a coleção de comportamentos autodestrutivos que tinha e ainda tenho. Claramente existem episódios que me envergonho, mas existem aquele momentos mais lúcidos e que ajudaram a ressignificar relações e maneiras de lidar com questionamentos e partes envolvidas.
A consciência de privilégios, caminhos possíveis e a busca por soluções
Outro ponto que busquei enfatizar é durante a roda foi: por ser hétero, branco e privilegiado, a minha busca de masculinidade é totalmente diferente do homem negro e do gay, por exemplo. E isso não significa que você tem que buscar apenas a sua, mas sim ter clareza que outro homem está passando por dilemas de acordo com a realidade dele. Que a masculinidade atravessa cada um de uma maneira e, uma vez consciente disso, podemos deixar as coisas um pouco mais justas e fáceis pra si e pro outro.
A busca por soluções é como o que vivi nesta tarde de trocas, com escuta atenta e compartilhamento de vivências sobre o assunto. Ou saber orientar o amigo com sintomas de ansiedade a buscar terapia, é ouvir o outro colega que está passando por um término o que ele tem pra dizer ao invés de incentivá-lo a beber e pegar mulher, é apresentar os diferentes caminhos pra lidar com suas questões sobre o que é ser homem.
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A tarde deste sábado foi sobre isso: sentar em círculo, olhar no olho, abraçar o colega e sentir que existe isso caminhos possíveis pra trabalharmos nosso processo que é de construção e desconstrução.
Longe do papo de desconstruidão e a coisa toda, uma roda de conversa como essa é a possibilidade de navegar em caminhos até desconfortáveis, mas necessários para tentarmos construir pontes e relações mais saudáveis, leves e de constante aprendizado. É a possibilidade de viver algo sincero, sem jogos ou artimanhas, com peito aberto e coragem na mão.
Porque ser homem é um processo e nunca um produto pronto ou finalizado. É se observar de forma corajosa e provocativa. Pois já dizia Black Alien: “Meu pior inimigo sou eu, disso eu sei bem, mas você quer, saber melhor amigo também!”.
E você, já participou de uma roda de conversa? Tem vontade? Vamos conversar nos comentários!