Dê livros de presente: Dez livros para presentear alguém

Os livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas. – Mario Quintana.

Sinceramente, essa é uma das citações mais potentes do poeta Mario Quintana, um poder simbólico imensurável.  Porque, veja só, um livro pode conter as portas que abrem o pensamento, que expandem os horizontes, que permite a crítica, o contrapor. A leitura é, inclusive, um ato político, por nos tornar questionadores. E questionar é preciso, pois, do contrário, qualquer inverdade pode tornar-se verdade absoluta.

Uma mente necessita de livros da mesma forma que uma espada necessita de uma pedra de amolar se quisermos que se mantenha afiada. – George R. R. Martin

A leitura nos ajuda a enfrentar melhor a existência, a compreender a história, a ser empático. Mas acontece que ainda temos lido pouco. A pesquisa Retratos da leitura no Brasil aponta que 44% dos brasileiros não lê e que 30% nunca comprou um livro. O levantamento é de 2015 e, em 2018, o cenário é ainda mais preocupante, pois temos a crise do mercado editorial.

Nós lemos para saber que não estamos sozinhos. – C.S Lewis

Na era das redes sociais, com tudo e todos ao alcance de um clique e notícias fragmentadas na timeline, é difícil convencer essa geração hiper-conectada a desacelerar e ir ler um livro.

Esta matéria é um manifesto em prol da leitura e nós fizemos o dever de casa. Neste fim de ano, dê livros de presente!

Alguns dos nossos colunistas e amigos indicaram seus livros favoritos. Então, aqui vai uma lista com dez livros para você presentear alguém:

#1 Um Coração Ardente – Ligya Fagundes Telles

A Lygia Fagundes Telles é uma das minhas escritoras brasileiras favoritas. Não perco a oportunidade de comprar um livro seu e super recomendo para quem gosta de contos. A sensação que eu tenho sempre que leio qualquer conto da Lygia quando ele chega ao fim é de uma falta de ar: os personagens que ela cria são sempre fortes, ainda quando singelos.

Nesse livro, Lygia fala sobre amor, sobre mulheres, sobre o contraste entre a pobreza e a riqueza e tudo tem um aspecto mágico, com momentos em que você não consegue definir se tudo é uma fantasia do personagem ou se de fato aconteceu. Ler a Lygia te dá a experiência do “não saber” e, ainda assim, a sensação de compreender tudo por se ver em cada conto.

Dica da Teffi de Castro, Colunista do SobreOTatame.

#2 Furacão Elis – Regina Echeverria

Elis Regina é ainda uma das vozes mais importantes do Brasil. A voz poderosa desta mulher é só um reflexo da força interior que ela tinha, literalmente um furacão de emoções. Essa biografia é riquíssima, cheia de detalhes e com participações de pessoas incríveis do cenário musical brasileiro, como Gilberto Gil, por exemplo.

Eu sempre fui apaixonada pela Elis Regina (pisciana como eu, com seus 1,53m como eu rs), mas depois desta biografia eu fiquei completamente encantada com a grandeza dela! Viveu tanto em tão pouco tempo. Regina Echeverria escreve tão bem que em vários momentos você sente que quer brigar com a Elis ou simplesmente abraçá-la. Conhecer a história desta mulher é conhecer boa parte da história da Bossa Nova, da MPB e do Brasil.  A autora escreveu sobre Elis: [ela] “rompeu com a prudência e se atirou ágil e rapidamente em seus desejos. Superou acusações, rótulos, cobranças.”

#3 A Metamorfose – Franz Kafka

“Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso”. Assim começa uma das obras mais famosas desse escritor austro-húngaro, grande expoente do realismo fantástico. Escrito originalmente em 1912, mas só publicado em 1915, o livro (curto e conciso) parte de uma premissa absurda, sem grandes floreios, e constrói ao redor dela um relato verossímil, assombroso e cruel sobre a natureza humana.

Gregor Samsa, o caixeiro-viajante que antes sustentava toda a sua parentela, ainda consegue manter a sua consciência, embora tenha se tornado um monstro. E ao longo de toda a obra sofre uma constante desumanização imposta pelo seu estado e uma certa coisificação por parte de sua família. O livro permite uma experiência de reflexão única e necessária a respeito do nosso egoísmo, nossa realidade e a banalização de crueldades. Sem dúvida alguma uma obra capaz de gerar inúmeras interpretações e que influenciou diversos escritores.

Dica do Danilo Batista, Escritor e Criador do grupo de leitura e escrita Os Tinteiros.

#4 Alice no país das maravilhas – Lewis Carroll

Uma lagarta fumando um narguilé, um gato que fala por enigmas, um chá bizarro com a Lebre de Março e o Chapeleiro Maluco, uma rainha alucinada por rosas vermelhas ou mesmo alimentos com instruções no imperativo. A obra de Lewis Carroll, um dos pais do nonsense, apresenta características de um conto de fadas, mas embaralha as bases e as premissas, além de indiretamente criticar as rígidas regras vitorianas e a incongruência de certos comportamentos aceitos na sociedade da época.

O livro flerta e alia-se ao absurdo, à polifonia, à ressignificação de ideias, à subversão de conceitos e à comédia, criando um mundo fascinante e cheio de personagens singulares. Alice, personagem do título, reflete ao longo das situações mais loucas, buscando lógicas e se descobrindo em meio a aventura e ao fantástico.

O uso da ironia, alegorias e metáforas é comum na intricada narrativa deste clássico da literatura mundial, que encantou e continua a encantar gerações e gerações de jovens, crianças e adultos. Livro de leitura rápida e cheia de diversão!

#5 Uma História de Amor e TOC – Corey Ann Haydu

De amores e dores, todo mundo tem um pouco. E alguns demônios passageiros também. Uma história de amor com Transtorno Obsessivo Compulsivo [TOC] narra a adolescência aflita de Bea e Beck, um casal de jovens envoltos à nuvem negra e sufocante do TOC e todas as perdas e ganhos que esse embate psicológico pode acarretar à mente, ao corpo, as relações humanas e ao convívio social.

Haydu nos denuncia o quanto somos frágeis. Quebráveis. Sensíveis. Vulneráveis. Acidentais. E vítimas de pequenas aflições acidentais.

Dica da Vanessa Cristina, professora e clubista do Clube do livro de São Luís.

#6 Litania da Velha – Arlete Nogueira da Cruz

Escrito no século passado, o poema narrativo traz uma São Luís enigmática, porém decrépita.

Profundo, Litania da velha expõe todas as nossas rachaduras guardadas em nossas bonitezas.

#7 No seu Pescoço – Chimamanda Ngozi Adichie

Chimamamda é uma autora nigeriana de escrita cheia de sensibilidade e crítica social. Esse livro é uma reunião de vários contos da autora que tratam sobre temáticas diversas, como imigração, relações afetivas, discriminação e conflitos religiosos. Ler Chimamamda é um dos gritos libertários que podemos dar nestes tempos de retrocesso.

Primeiro porque é uma leitura riquíssima do ponto de vista literário, tendo em vista a habilidade de escrita da escritora, que nos captura em cada parágrafo! Segundo, porque que é uma leitura que nos apresenta o mundo a partir de um viés distinto da enxurrada dos olhares costumazes dos eurocentrismos e androcentrismos.

Chimamanda é uma mulher, negra, africana, e feminista, e que escreve a partir do seu lugar, das suas vivências, das suas formas de lidar com o mundo, e de como o mundo lida com quem ocupa lugares semelhantes ao dela. Ver uma brecha do mundo através das janelas que Chimamanda nos abre é um exercício político necessário.

Dica da Larissa Abreu, Colunista do SobreOTatame.

#8 Da Poesia – Hilda Hilst

A Companhia das Letras conseguiu juntar toda a produção poética da autora, contista, ficcionista, dramaturga (essa mulher é tudo) e poeta, a paulista Hilda Hilst, em um exemplar que, como ela mesma dizia, “num volume que pare em pé”.

A obra conta com poemas de toda uma carreira e vida, ilustrações da própria Hilst, além de alguns poemas inéditos que estavam na Casa do Sol e na Unicamp. A poesia de Hilda Hilst é transgressora, única, explora os desejos femininos, o amor e o erótico, o sagrado profano, além de lidar com temas como a morte, a solidão, a loucura e o misticismo.

Dica da Thaisa Viegas, Colunista do SobreOTatame.

#9 Meus desacontecimentos – Eliane Brum

Meus Desacontecimentos é uma autobiografia. Pelo percurso de 142 páginas, Eliane Brum narra a sua história com as palavras, a forma como a escrita à atravessou. Com a escrita, ela conseguiu dar um sentido e um significado à sua existência, ao seu corpo. É um desafio construir uma existência com significado. Talvez tenha sido esse o ponto em que esse livro me atravessou: todos nós estamos buscando um sentido para o existir.  É um livro que conta uma história de dentro para dentro, por isso tão marcante. Eliane passeia por sua história com fluidez e maestria.

“Como contadora de histórias reais, a pergunta que me move é como cada um cria sentido para os dias, quase nu e com tão pouco. Como cada um habita-se”, diz. E conclui: “esta é a minha memória. Dela, eu sou aquela que nasce, mas também sou a parteira”.

#10 Mulheres, Raça e Classe –  Angela Davis

Angela Davis é uma potência. Negra. Ativista. Mulher. Feminista. Davis está na lista das minhas leituras mais recentes e necessárias. Em Mulheres, Raça e Classe ela destrincha o feminismo interseccional e faz uma análise de como funciona o entrelaçamento histórico de questões relacionadas às estruturas racistas, sexistas e classistas, tão inerentes a nossa o sociedade.

É um livro forte, às vezes doloroso, mas extremamente necessário.

 

 

 

 

E essas são as nossas dicas de livros. Dos vícios que podemos ter, a leitura está na lista dos que não devem ser evitados.

Tem alguma outra dica que não está nessa lista? Conta pra gente e deixa nos comentários.

Boa leitura!

 

Joceline Conrado é psicóloga de orientação psicanalítica. Atua em São Luís como psicóloga clínica e no terceiro setor, na gestão e implementação de projetos sociais. É redatora e da área de planejamento no SobreOTatame. Se interessa por temas relacionados a gênero, psicanálise e questões raciais. Gateira e leitora compulsiva.

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