Demonstre afeto pro seu amigo homem

Tu troca ideia com teus amigos sobre afeto, parça?

Vida adulta é foda né, uma correria só e se vacilarmos, não temos tempo pra mais nada e as coisas vão passando cada vez mais batidas. A breja fica mais difícil de marcar, os papos parecem ter mais continuidade nos aplicativos de mensagens e cada um segue seu corre. Mas e as relações presenciais? Será que a gente está esquecendo de aquecer o ombro amigo ou ouvir com o coração o brother na sua batalha pessoal? É sobre papo-reto, afeto e honestidade no mundo masculino que quero falar hoje.

Ontem, mais um amigo, de um grupo sólido de uns 8 caras, foi correr atrás dos seus sonhos e tentar a vida em outra cidade. Contando comigo, ele é o quarto a fazer esse movimento. Só que ontem foi diferente: o coração amoleceu, lágrimas escorreram, uma certa timidez pairou na hora da despedida e palavras de incentivo e boa sorte pro amigo que seguia rumo a nova etapa.

Um colocou uma sequência de fotos numa espécie de retrospectiva, o outro mensagem no grupo de WhatsApp misturando fé, sinceridade e foco. Mas teve um que mexeu com todos, ele misturou essas coisas todas que citei e trouxe à tona algo sobre a importância de demonstrar afeto sob um novo panorama de masculinidade. E isso tocou a todos, foi lindo (clica na seta pra ver todas as fotos do post dele):

https://www.instagram.com/p/Bl_7D8TlGic/?taken-by=gersonyramos

Gersony e Marvin, o amigo nosso que foi correr atrás do seu sonho em outra cidade. (Foto: Arquivo pessoal / Instagram)

Eu e Gersony nos conhecemos desde a infância, acho que é meu amigo mais antigo. E há um pouco mais de um ano, iniciamos uma nova etapa na nossa amizade: dialogar sobre masculinidades e como lidar com isso de ser homem. Fazemos isso trocando conteúdo sobre o assunto, com espiritualidade e muita, mas muita conversa.

Ver isso vindo de alguém próximo e que está disposto a se despir de velhos hábitos e ensinamentos que só provocam sofrimento a si e aos que tão a nossa volta é lindo, cara. E desperta, quem sabe, algo necessário para os dias de hoje. Chamaria, talvez, de uma masculinidade mais lúcida.

Fomos/somos educados de uma maneira errônea, autodestrutiva, tóxica e doentia. Jogamos desculpas na bebida e drogas ou vícios, usamos piadas pejorativas para sermos aceitos e não temos a devida responsabilidade com as mulheres com quem nos relacionamos, vomitando assim um comportamento egoísta que, talvez, demonstra na verdade uma fragilidade. Com isso, silenciamos o campo emocional, reproduzimos comportamos errôneos e viramos gradualmente uma bomba relógio e/ou uma panela de pressão.

Gerando assim um cenário propício para uma série de coisas negativas tanto pra quem protagoniza, quanto pra quem é alvo. Ou seja, todo mundo sai machucado nisso tudo.

Machismo machuca, também, o homem

É necessário alertar que o machismo machuca, também, o homem. Ele causa suicídios, homicídios, homofobia e o feminicídio.

Em um cenário em que todo mundo está em seu Modo de Defesa (o que é compreensível), abaixar a guarda pode ser um caminho numa busca por soluções de um problema que afeta a todos. Por isso é necessário dialogar como o machismo machuca ao forçar nós homens ao silenciar nossos sentimentos, fragilidades, medos, dúvidas e dilemas.

Machuca o pai de família que falta explodir e não tem com quem compartilhar a pressão da vida diária, a vida sexual com a companheira, se está sendo bom um pai, filho ou irmão companheiro e, também, se está cuidando da sua saúde.

Materiais e iniciativas

Existem alguns materiais que me ajudaram e ajudam bastante entender como lidar com o meu eu-machista e nessa desconstrução que já aceitei que vai durar o resto da vida.

Alguns deles foram/são:

The Mask Yout Live In

Sinopse: A crise das crianças americanas e como educar uma geração de homens saudáveis. Confira entrevistas com especialistas e acadêmicos. 

“Vira homem!”, “Isso é coisa de menina”, “Quem gosta disso é viado”, “Homem chão chora!”. Quantas vezes os homens ouvem isso ao longo da infância e adolescência, podando talentos e vontades para construir uma personalidade que se encaixe no padrão do que é ser masculino?

Jennifer Siebel Newsom, diretora do documentário Miss Representation, sobre a falta de representação das mulheres em posições de poder, lançou em 2015 The Mask You Live In (“A Máscara em que Você Vive”), trabalho em que aborda como a ideia do macho dominante afeta psicologicamente crianças, jovens e, no futuro, adultos nos Estados Unidos.

Disponível na Netflix e no YouTube.

Precisamos falar com os homens?

Sinopse: No âmbito do movimento #ElesPorElas (HeForShe – um movimento para a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres, cujo objetivo é engajar homens e meninos para novas relações de gênero sem atitudes e comportamentos machistas), o documentário “Precisamos falar com os homens? Uma jornada pela igualdade de gênero” procurará aproximar os homens desse tema tão importante. O objetivo é mostrar que a igualdade de gênero é uma questão que afeta a todos e todas e que, portanto, é benéfica a homens e mulheres. Nele investigamos como se formam, se sustentam e de que modo podemos desconstruir os estereótipos de gênero nocivos, que perpetuam o nosso cenário atual. O documentário é resultado de uma pesquisa qualitativa que rodou o Brasil e será complementado pela pesquisa quantitativa online ainda em curso.

A desigualdade de gênero é uma das violações mais persistentes de direitos humanos do nosso tempo. Ainda que estejamos caminhando para uma realidade mais igualitária entre homens e mulheres, ainda há muito a se construir.

Disponível no YouTube (link acima).

Vipassana – o caminho da libertação

Sinopse: O primeiro curso de meditação realizado em um presídio brasileiro. O documentário registra este fato inédito de uma experiência realizada anteriormente em países como Índia e Estados Unidos.

A técnica Vipassana foi ministrada durante 10 dias em um presídio em Ribeirão das Neves, MG.
De 18/04/2018 à 28/04/2018.

Disponível no YouTube e Vimeo (link acima)

Chega de Fiu Fiu

Sinopse: As cidades foram feitas para as mulheres? O filme Chega de Fiu Fiu narra a história de Raquel, Rosa e Teresa, moradoras de três cidades brasileiras, que, por meio de ativismo, arte e poesia resistem e propõem novas formas de (con)viver no espaço público.

Esse último pode não estar muito relacionado com o tema abordado aqui, mas compartilhei pelos seguintes motivos: além de mostrar o que as mulheres passam, existe um trecho que mostra uma roda de conversas feita apenas por homens e evidencia como podemos nos sensibilizar pelo o que as garotas passam. E o outro motivo é pelo qual eu tive a oportunidade de acompanhar numa exibição gratuita articulada por um grupo de amigas da Pedal das Minas. Em que, logo após a exibição, rolou um debate e alguns dos pontos levantados vai de encontro com o que estamos falando aqui, como:

– como lidar com o machista que é uma pessoa próxima como um melhor amigo, pai, irmão ou namorado?;

– como lidar com mulheres machistas (sim, isso existe);

– como lidar como a homofobia;

– como respeitar as mulheres fazendo o que elas querem sendo mulheres.

E, particularmente falando, foi uma grata surpresa a fala de algumas pessoas a respeito de olhar maneira acolhedora e não conflitante sobre como ajudar nós homens e propor soluções mediante a comportamentos, falas e atitudes que protagonizamos que machuque não apenas a outra pessoa, mas a si também.

Outro ponto que me chamou muita atenção foi a respeito da thread dessa garota no Twitter que traz uma leva de conteúdos sobre o assunto, principalmente sobre homens negros (algo que eu ainda não havia me atentado):

Além disso, existem iniciativas surgindo pelo Brasil e pelo mundo. Iniciativas essas como a discussão da figura paterna, rodas de conversa entre homens, encontros, discussões e ambientes acolhedores pra apresentar um norte a outros caras que, muitas das vezes, estão perdidos nesse cenário em que os grupos e as minorias estão legitimando seu lugar e espaço que lhe são de direito. Além das mulheres com o feminismo.

Por fim, deixo um exercício/recado inspirado nesse episódio de ontem da despedida desse amigo do nosso grupo: demonstre afeto pro seu amigo homem. Faça isso por meio de um abraço, numa conversa leve, num chopp ou orientando na busca de ajuda especializada em caso de alguma urgência de caráter psicológica.

E muito do que procurei abordar aqui, é justamente confrontando o meu eu-machista e por ser um homem hétero e privilegiado. Ou seja, o primeiro passo é, talvez, se reconhecer no meio desse cenário e aí sim aplicar formas de se ajudar e ajudar o próximo.

Eu sei, a estrada é longa, mas penso que juntos, podemos ir longe numa troca evolutiva e sincera. Aonde a responsabilidade cabe a nós de caminhar de maneira mais lúcida e coesa com a realidade que nos cerca.

Nota: há um pouco mais de um ano atrás, publicamos uma entrevista com o Guilherme Valadares do portal PapodeHomem sobre esse assunto, relembre a entrevista clicando aqui!

administrator
Jonas Sakamoto é jornalista e diretor de fotografia. Atua em São Luís como produtor audiovisual, diretor e editor. Já produziu conteúdo para Imirante.com, portal PapodeHomem e, atualmente, trabalha como repórter na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). É fundador e editor-chefe do SobreOTatame.com e viciado em ciclismo.

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