Queria ser médico, não vai dar certo. Morar sozinho, dizem que isso é coisa de gente rebelde. Namorar, a moda é o desapego. Odeio esse emprego, mas paga bem. Só sexo, isso é coisa de mulher que não se valoriza. Queria chorar, homens tem que ser forte, porra!
Quem nunca esteve no lugar dos nossos exemplos, precisa voltar duas casas no jogo da busca pela autonomia das vontades. Já foi dito que o meio dita as regras, que estamos propensos e tendenciosos a realizar escolhas pensando muito mais no outro do que em nós mesmos. Pensamos nos julgamentos, nas consequências, naquele famoso “e se”. Travamos. Paramos. Seguimos o rio sem correnteza.
Pode ser um pouco assustador deixar correr solto, colar nas ideias mais loucas, começar um projeto em que só você acredita, viajar sozinho, escolher entre ter filhos ou só criar gatos. Em resumo, lidar com as angústias que diariamente nos rodeiam e requerem um posicionamento é aterrorizante. Mesmo. Isso porque não é fácil torna-se pessoa, construir-se como indivíduo singular, rodeado de plurais opiniosos e prontos a apontar o dedo ao menor sinal de fracasso. É um exercício que demanda ousadia.
Convenhamos, só entende de liberdade quem um dia teve a sua anulada. E nessa estrada sinuosa que a gente segue, em busca da terra prometida que é a evolução, acabamos sendo cortados e recortados em várias camadas. O que sobra desse processo, subjetivamente sanguinolento, é, muitas vezes, o que fizeram da gente e pouco do que gostaríamos de ser ou fazer. Então, pergunto: Qual a tua responsabilidade na desordem da qual você se queixa? – Valeu, Freud!
Se o que sobra é o que fizeram da gente, por que deixamos que o fizessem? Se minha vontade é outra, por que permito que ela seja anulada? Não estamos falando de egoísmo. Estamos falando de não terceirizar nosso crescimento e evolução. Não há como passar pela existência desviando à la matrix de todas as influências e opiniões, mas ao final, são os teus critérios que devem prevalecer e te guiar.
Quando chegarem os momentos “entre a cruz e a espada”, aqueles em que você precisa escolher uma direção, utilize-se daquele velho e bravo clichê: coloca o mundo no mudo – sem essa de seguir o coração, viu? –, analisa os teus critérios, as opções e os motivos. Joga tuas cartas na mesa e procura as tuas respostas.
Não é receita de bolo, e demora um pouquinho para aprendermos a identificar a nossa própria voz depois de ficarmos muito tempo expostos ao ruído. Mas olha, lembra quando você aprendeu a andar de bicicleta sozinho, sem o auxílio das rodinhas? Pensar e decidir por si mesmo é tão libertador quanto.
A gente se vê por aí nas estradas da vida, mais maduros, mais sábios.