Alderico Segundo faz sua estreia com poesias no SOT em “Hoje, resolvi escrever diferente” (Arte: Divulgação).
Muitas pessoas sabem que eu escrevo há algum tempo, mas poucas sabem que eu me debruço na poesia desde os meus 8 anos de idade. A influência pelo gosto da leitura e por gostar de escrever vem de casa.
Minha mãe, professora de língua portuguesa, uma linguista nata que estuda constantemente as transformações das Letras e Literatura. Meu pai, sociólogo e professor de sociologia, poeta e compositor. Ambos apaixonados pela Arte, seja na dança, música, pintura, escultura, cinema ou teatro. Ambos, também, viajantes do mundo, gostam dessas trocas culturais em qualquer lugar por onde passam, em alguns desses momentos, eu estive presente.
Esse é meu capital cultural, presente em alguns de meus textos, em depoimentos de vida pessoal, intelectual e político. Não costumava dividir minhas poesias com as pessoas, mas fui convencido pelo namorado há um ano em publicá-las em minhas redes sociais. Para minha agradável surpresa, as pessoas passaram a ver um novo escritor que há em mim, pois não tenho, ainda, a arrogância de me colocar como poeta.
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A poesia sem dúvida nos causa um estado sobrenatural de experiência consigo e com os outrEs. E nesse dia também, tão símbolo para as mulheres lésbicas. E, também, à todas as mulheres que por séculos são retratadas pelos poetas para falar de ternura, doçura, vida materna e beleza. Mas, nesse poema, eu falo sobre nós, pessoas LGBTQIA+, porque somos todas associadas ao feminino, e tudo aquilo que é associado ao feminino é motivo de chacota, dor, tristeza, solidão e justificativa para morte.
Tudo começou numa tarde chuvosa quando, logo que a chuva passou, já no fim da tarde, apareceu um lindo sol com arco-íris e então…
Hoje resolvi escrever diferente
Contar sobre minha gente
Cansada de sofrer!
Sentado na varanda
olho para os meus filhos
e os vejo crescer.
Ouço da Esperança
um canto de ciranda,
acalanto de prazer.
Uma família diferente
que não é feita só de gente,
mas que tem paz e sossego
e não deixa o medo
permanecer…
Hoje fiz diferente.
Num dia cinza de chuva,
em minhas mãos pus a luva
e comecei a escrever,
falando de minha gente,
cansada de sofrer…
Música no celular
me deu inspiração.
E, agora, sem tristeza, nem solidão
nada vai me fazer chorar,
nem me fazer sofrer,
porque eu tenho vida dentro de mim.
E quem disse que tem que ser assim?
Que minha gente tem que morrer?
Hoje fiz diferente.
Olhei para o lado, sorridente,
e o assustador passado,
não se faz presente.
E agradeço imensamente
aos seres de luz,
pedindo humildemente
“Proteja minha gente!”
Faço o sinal da cruz.
E, a exemplo de Jesus,
tento acolher toda essa minha gente
cansada de sofrer…
A chuva começou a cair.
Então, me vejo a refletir:
“E quem não tem pra onde ir?”
Sinto o meu privilégio.
É quase um sacrilégio
ter tudo à disposição.
Enquanto escrevo no terraço
me dói o coração!
Saber que, em meio à minha gente,
Não sou regra, mas exceção…
Olho para o céu.
As nuvens se abrindo.
O Sol surgindo,
trazendo algo colorido da tempestade.
E, de repente,
me sinto contente
com o calor que me invade.
Fecho os olhos e encontro minha razão
que é falar de minha gente.
Essa gente resistente
que faz da alegria uma missão,
da criatividade sua paixão.
E, agora, no final,
percebo que, assim como minha gente,
cansada de sofrer,
não fiz tão diferente.
Transformei dor em amor
para ser resistente
e seguir em frente!
Mas estarei por aqui,
quando minha gente precisar.
Mesmo que seja difícil sorrir,
a gente vai dar um jeitinho,
com afeto e carinho
de juntos caminhar…