Milhares de estudantes e trabalhadores se juntaram no ato do dia 15 de maio na capital maranhense. (Foto: Jonas Sakamoto / Equipe SobreOTatame.com)
Texto escrito por Gustavo Sampaio e Larissa Abreu.
Cerca de 30 mil pessoas compareceram ao Centro Histórico de São Luís na última quarta-feira, dia 15 de maio, para participar da Greve Nacional. O ponto de encontro na capital maranhense foi a Praça Deodoro, no Centro da cidade.
Nossas ruas foram preenchidas por professores de todos os setores da educação, por alunos universitários e da educação básica, por artistas, sindicalistas e por participantes de movimentos sociais diversos.
Em questão, estavam as pautas: contingenciamento de 30% no orçamento das universidades e institutos federais; e a Reforma da Previdência.
Foi bonito de ver o engajamento dos ludovicenses nesse ato. Os cartazes estampavam os anseios de quem luta para que o direito à educação pública de qualidade seja respeitado, de quem luta por mais espaços em que as diferenças sejam acolhidas, de quem luta pelo reconhecimento dos trabalhadores, e de quem resiste às diversas mordaças ideológicas que nos querem implantar.
Participar desse ato para mim tem um peso além de político, afetivo. Sou professora da educação básica na rede pública há três anos, sou formada em instituição pública desde o ensino médio, e hoje estou retornando à UFMA através do mestrado. Ou seja, entre conclusão da minha formação básica até entrada na pós-graduação já somo 14 anos de história na educação pública, com muito orgulho, e ciência das glórias e fracassos que permeiam essas instituições.
O ato da última quarta-feira em São Luís foi muito bem organizado, cheio de respeito, cooperatividade, sintonia e clareza na defesa dos nossos ideais. A atmosfera não era de luto, pois não estamos tristes, estamos cheios de vida e de garra para lutar o quanto for necessário.
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Em meio àquela multidão eu vi reencontros emocionados entres colegas, entre professores e ex-alunos, entre amigos dos tempos de escola e de universidade. E vi na emoção dos reencontros o afeto que fortalece a nossa luta. Foi no afago de cada abraço, na emoção de cada reconhecimento no cartaz do outro, no grito de cada aluno ainda muito jovem mas ciente dos seus direitos, que pude plantar no meu peito a certeza de que a educação nunca morrerá, sempre seremos resistência!
A educação se mostrou fortalecida, aguerrida em suas forças múltiplas que se espalham nas vozes e braços de cada pessoa que se fez presente, que levou seus cartazes, seus painéis de pesquisas, seus gritos por melhorias reais.
O dia 15 foi definido pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) como um dia de jornada de luta, e como um prenúncio da greve geral de todas as categorias contra a Reforma da Previdência, já prevista para o próximo dia 14 de Junho.
O grande ato nacional já é um dia histórico para nosso país e é necessário que o levante contra políticas que precarizam a nossa educação seja cada dia mais fortalecido mediante a adesão de mais pessoas ao movimento.
O contingenciamento traz impactos severos para a educação de nível superior em nosso estado. Em entrevista coletiva dada pela Reitora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Nair Portela, no dia 16 de maio, foi explanado que o contingenciamento corresponde a, aproximadamente, 27 milhões do dinheiro destinado ao custeio e capital da UFMA, refletindo diretamente na capacidade de pagamento de contas de energia, água, telefone, vigilância, limpeza, aquisição e manutenção de equipamentos, livros e outros materiais, além da realização e continuidade de obras na instituição.
Na última década, a UFMA passou por um processo de expansão no qual dobrou o número de estudantes e o número de campus. Em dez anos, os investimentos e arrecadações saíram de R$ 58 milhões em 2008 para 175 milhões executados em 2013. Contudo, a partir de 2014, a UFMA recebeu cada vez menos verbas até chegar a uma previsão orçamentária de liberação de apenas R$ 57 milhões para 2019, ou seja, um orçamento próximo ao de 2008 quando a universidade ainda contava com apenas 4 campi (hoje são 9) e a metade do alunado que temos hoje.
Com o contingenciamento, esse orçamento previsto para 2019 ficou ainda menor, o que leva a possibilidade real de UFMA ter que parar o funcionamento a partir de setembro – leia mais clicando aqui.
Vale lembrar que o Governo Federal suspendeu bolsas de mestrado e doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) afetando as universidades de todo o país, incluindo a UFMA, que teve 21 bolsas de mestrado e seis de doutorado cortadas – números que afetam diretamente o andamento das pesquisas em todas as áreas de conhecimento desenvolvidas na instituição.
Diante de um cenário marcado pela instabilidade e pelo descrédito ao ensino público de qualidade, cabe perguntar: a educação ainda é prioridade neste país?
O Maranhão pelo menos tem se mostrado um ponto fora da curva no que tange aos cuidados com a educação, sobretudo na atenção à etapa da Educação Básica. Claro que ainda temos um longo caminho a percorrer, mas iniciativas de avaliação da qualidade do ensino público, do fomento de pesquisa e inovação, a preocupação com o desenho da carreira dos profissionais da educação, dentre outras ações, tem mostrado que pelo menos neste estado há alguma esperança.
O Ministério Público do Maranhão (MP-MA), por exemplo, tem se colocado de maneira atuante e atenta quanto às demandas educacionais no nosso estado, promovendo reuniões junto às secretarias de educação e aos sindicatos para discutir e avaliar os processos educativos em curso – mais aqui.
Além disso, o MP-MA também vem desenvolvendo projetos educativos em seu Centro Cultural em colaboração com a Secretaria Municipal de Educação (SEMED) e a Secretaria Estadual de Educação (SEDUC), a exemplo do Projeto Educação Patrimonial, que tem por objetivo discutir temas da história ludovicense junto a estudantes da rede pública de ensino.
Em uma das fases desse projeto, foram trabalhadas as Lendas da Manguda e da Serpente, O crime da baronesa e O Palácio das Lágrimas. Para essa etapa, a estratégia escolhida foi Formação em Cinema, englobando as etapas de História/ /Linguagem/Roteiro e Produção – mais aqui.
São iniciativas como essas que queremos ver cada vez mais por todo Brasil! Contudo, os tempos do nosso país estão cada vez mais contraditórios. Se por um lado o discurso é de melhorias e engrandecimento da nação a partir da educação, por outro, na prática, o que temos é o desmonte do ensino público, o não fomento da pesquisa, a ridicularização das ciências e a perseguição ideológica.
Os discursos inflamados sobre o poder transformador da educação, sobre o papel do ensino para um Brasil melhor no futuro, ancorado na igualdade, no respeito e no desenvolvimento social parecem não fazer sentido diante da realidade atual. Nossa luta precisa deixar claro que: a educação não tem preço, mas a ignorância cobra caro.