Em “Pandú”, Enme acerta com seu rap dançante, impactante e autêntico

Enme na capa de Pandú (Foto: Amanda Aramaki /Divulgação).

Ah, que bom momento para ser maranhense e acompanhar todos estes bons lançamentos das últimas semanas. A parceria especial de Zeca Baleiro com VINAA de um lado. Paulão e todo o seu Special Power de outro. Junto e misturado nisso tudo, a drag queen e cantora Enme Paixão – ou somente Enme – chega com o bastante anunciado Pandú, seu EP de estreia.

O EP, como diriam os próprios fãs da cantora, já nasceu aclamado: com um show especial no Centro Histórico de São Luís (cidade natal da artista), horas depois do lançamento oficial do disco nas plataformas digitais. Pandú, em um pouco mais de 100 horas depois do lançamento oficial, já contava com mais de 24.000 streams – já considerando o sucesso do single Juçara, lançado meses antes.

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Em Pandú, é bem claro que a rapper transborda sua personalidade a cada rima e batida, demonstrando uma autenticidade invejável. O que fica evidente nos segundos iniciais de Parem de nos Matar, faixa que abre o EP.

Com referência à black music da década passada (lembrando, em alguns momentos, músicas do Fabolous, Nas e Wale, por exemplo), Enme expõe seu lado sentimental e crítico, ao falar de racismo e preconceito (Fere o nosso orgulho antes de cicatrizar/ Apagam nossa história antes mesmo de contar/ Mais um de nós morre, mais um de nós some/ Chega, agora basta, parem de nos matar), resultando num pedido marcante no refrão.

Com Parem de nos Matar, Enme dá o tom do EP e prepara o ouvinte para o seu grito de resistência, marcado por uma experiência musical de reflexão social, regado a um pop visceral, explosivo e emocionante. Um começo promissor, que mantém a qualidade com Killa, a melhor faixa do disco – e o novo single da rapper.

Vem quebrando com Enme, quebrando com Enme“. O convite da cantora pra aura pop de Killa corresponde às expectativas: com sample de Bam Bam, da jamaicana Sister Nancy (uma dos reggaes mais sampleados da história), a festa de Pandú atinge seu ápice, apesar de ainda estarmos no começo dela.

Em Big Street, pulsa forte a influência da black music internacional das últimas décadas, misturada aos vários ritmos brasileiros encontrados na faixa – assim como as referências à São Luís e ao universo das Drag Queens.

Na faixa seguinte, Enme apresenta Maya Black em sua música de estreia. “O mundo precisava ouvir a voz dessa mulher”, comentou Enme em suas redes sociais sobre a participação da cantora em Neguinho. O feat. na música equilibra os dois vocais, mostrando na voz dos artistas a força da letra que versa sobre se manterem de pé e seguirem firmes na luta, apesar das dificuldades.

Sem esquecer as referências pop (Tipo Rihanna com amor na mente, é o meu diamante que me faz brilhar, uma clara referência a Diamonds, da Rihanna), Pandú apresenta Perfume, história de amor de um casal que se apaixonou após um amor em comum pelo filme homônimo à faixa. Perfume conta com a participação dos vocais de Samuel Rebouças (da banda Roqueville) no refrão, além de produção do DJ Fabregas, mesmo produtor de Kaya Conky e Danny Bond.

Pandú encerra com Juçara, o primeiro hit do EP, que reforçava o êxito da parceria entre Enme e o DJ Brunoso – um dos produtores do álbum. Aliás, o EP conta, ainda, com a produção de Sandoval Filho e Joe Joeezy, com mixagem e masterização da Sotaque (Angola).

Na infância de Enme, o Pandú de Juçara era uma refeição cotidiana, que perpetuou em sua família e, de forma simbólica, representa a conquista da mãe da rapper em ser a primeira da família a ter um diploma. Na juventude de Enme, Pandú se apresenta como a palavra certa para definir uma obra que faz da evolução, superação e mudança os ingredientes necessários para conquistar todo um novo universo. Avante, Enme!


Enme e o seu Pandú (Foto: Amanda Aramaki /Divulgação).

Curiosidade:

A letra de Parem de Nos Matar surgiu como um desabafo após a morte da estudante Matheusa Passarelli, assassinada no Morro do 18, em Água Santa, na Zona Norte do Rio, em abril de 2018. Reflexão sobre vidas interrompidas, a faixa remete, também, à morte do estudante Kevin Rodrigues Ribeiro, que foi encontrado morto em um banheiro da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Gustavo Sampaio é jornalista e radialista. Atua em São Luís como repórter, assessor de comunicação, produtor e editor. Já produziu conteúdo para Imirante.com, Rádio Educadora, O Imparcial, Volts, Governo do Maranhão. É editor-chefe do SobreOTatame.com, além de pesquisador musical e louco por animais.

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