Texto de Carolina Maria Bruzaca, em colaboração ao SobreOTatame.com (Foto: Divulgação).
1º de Janeiro de 2020, Madre Deus. Pela tarde deste dia, ”Madre Deus” apareceu nos trending topics do Twitter, na localização de São Luís (MA).
Um internauta diz: quer dizer que todo mundo vai pra Madre Deus hoje? Outros não celebravam a ”novidade”, relembrando que por décadas o bairro comemora o primeiro grito de carnaval do ano que estreia.
Na década em que os quase milenials farão 30 anos, é curioso o espanto da novidade com um evento que ganhou força nos anos 90, tempo esse que muitos ludovicenses brincaram seus primeiros carnavais.
A juventude dos anos 2020s tem onde se divertir? O Centro Hystérico está fechado pra balanço.
A falta de um circuito popular de lazer mais o tédio das férias resultaram num Largo do Caroçudo polarizado: de um lado o samba e do outro um paredão de som que tocava para todos os gêneros. A rua inchada, nem parecia dia de ressaca. Os mais antigos do bairro apontam que os paredões atrapalham o curso dos blocos tradicionais, houve até mobilização para proibi-los.
A Madre Deus é uma senhora na melhor idade. A graça de quem resiste ao tempo é carregar consigo inúmeras manifestações de tantas épocas, e, ainda sim, alcançar as novas gerações.
O carnaval de rua nas últimas décadas tornou a ganhar força, porém esse movimento é controversamente ignorado pela mídia e pelas gestões governamentais. Quem tem medo do Carnaval de rua? E de onde vem a motivação desse medo? Festejar também é um ato político e as multidões reunidas assustam…
Quem não conhece o circuito cultural da sua cidade tende a andar sempre nos mesmos lugares. Existe um Carnaval maranhense que precisa ser redescoberto pelas novas gerações.
Apesar do Largo do Caroçudo lotado, pelas travessas da Madre Deus ouviam-se outros blocos tradicionais que seguiam com seu trio. Sem multidões. Crianças, idosos e adultos tocando suas cabaças no ritmo. Entre a Praça da Saudade e a Rua das Cajazeiras existe mais festa do que se imagina.
Tem quem guarde tal memória fotográfica-afetiva: passar por cada esquina, da Rua do Passeio até a Rua São Pantaleão, encarando aqueles arcos ornamentados pelo artista plástico Miguel Veiga. Caretas gigantes, arlequins e fofões: quem já foi criança talvez recorde da sensação de encantamento que era vislumbrar aqueles portais.
Os arcos na esquina das Cajazeiras que se cruzam com a São Pantaleão não existem mais. Quem toma de conta agora do cruzamento é o Circuito dos Blocos Afros. Os espaços da cidade são imortais. O que muda é a forma como o bloco passa.
O primeiro grito da festa havia sido dado. Fica aqui um convite que se destina aos que não perdem um ensaio de Carnaval: acompanhe esta série de devaneios sobre cultura, política e história da maior festa popular do Brasil.
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Passeando por décadas, cenários e personagens se convoca a pensar sobre qual é a cara do folião maranhense.
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Carolina Maria é documentarista e amante da cultura maranhense. Para conhecer mais do trabalho dela, pela @ do Instagram: @negramelodia.