Entre ativismos e militâncias: qual seu processo de resistência?

(Arte: Banksy).

No Brasil, os Movimentos de 1970 e 1980 tiveram como oposição o regime militar e contribuíram para a conquista de vários direitos sociais novos que foram inscritos na Constituição Federal de 1988. A partir de 1990, surgem outras formas de organização popular, mais institucionalizadas, como a constituição de Fóruns Nacionais de Luta pela Moradia, Fórum Nacional de Participação Popular, entre outros. Nessa década, acontecem, também, várias parcerias entre a sociedade civil organizada e o poder público.

Aqui, podemos destacar as análises de Alain Touraine quando afirmou que os movimentos são o coração, o pulsar da sociedade. Eles expressam energias revitalizadas para a construção do novo.

De acordo com a professora Maria Gloria Gohn, os movimentos sociais podem serem vistos como ações sociais coletivas de caráter sócio-político e cultural, que viabilizam distintas formas da população em se organizar e expressar suas demandas. Ou seja, eis a principal característica de um movimento social, a coletividade.

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Eu, particularmente, não aprecio o termo militância, porque me remete a “militar”. Por motivos não tão óbvios para grande parte das pessoas, esse termo e suas derivações me causam medo, desconfiança e, sim, repulsa.

Portanto, numa tentativa de amenizar o impacto categórico que esta palavra causa, utilizo o termo ativismo, que vem de atividade, prática diária, cotidiana. Ativismo é entendido, por mim, como um processo de resistência, organizado por um projeto coletivo que tenha como critério a (re)construção da formação e atuação política e conhecimento de mundo.

Os movimentos sociais tradicionais como conhecemos, podem acontecer por meio de mobilizações, marchas, concentrações, passeatas, negociações e atos de desobediência civil em praças, parques, ou, na atualidade, utilizam-se as redes sociais – neste ponto, exercitam o que Habermas denominou como o agir comunicativo, o qual a criação e o desenvolvimento de novos saberes são produtos dessa comunicabilidade.

Sendo assim, o movimento social não tem hora, nem local, nem momento exato pra acontecer. Ele é permanente e contínuo. Padronizar, então, um tipo de militância ou ativismo é cair num discurso contraditório daquilo que se compreende como Movimento Social. Afinal, o que te faz militante ou ativista? Quem te define? Qual a intenção em se estabelecer militante ou ativista perante às pessoas? O que há por trás desse discurso?

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Nesse sentido, o movimento social, vai para além de palavras de ordens bonitas e de efeito moral. Estudar, pesquisar, ler, analisar, compreender e acolher o que as diferenças tem a nos dizer é fundamental! Ser movimento é o que nos torna pessoas em constante processo de construção, inclusive, de nosso próprio ativismo.

Temos, também, que estar atentEs de que nem todo movimento social luta contra o processo de exclusão e opressão causados pelo discurso conservador, opressor, fundamentalista religioso, xenofóbico, machista, misógino, patriarcal, LGBTfóbico, etc.

É claro que tem algumas pessoas que pegam “carona” nesse discurso do Movimento Social Progressista, entretanto, devemos perceber como os discursos são associados nas práticas para entender o que é inclusão ou exclusão. Lembrando que esses discursos e práticas se modificam a cada experiência de vida. Cuidado sempre com os julgamentos que tomamos pelo outrE!

Para essa construção de luta e pertencimento identitário acontecer, o empoderamento deve estar presente na pauta desse ativismo mais progressista. Para Joice Berth, o poder só existe de maneira justa quando é coletivo. Ou seja, o empoderamento deve buscar mudanças nas estruturas de poder, minimizar os efeitos da opressão. É isso, portanto, que o ativista faz, ele dialoga, ele educa sim!

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Seja em casa com sua família, na Escola com seus alunEs, seja nos grupos de pesquisa acadêmicos ou durante as compras no supermercado, nas rodas de conversa entre amiguEs, a postura em romper com as estruturas opressoras é o ponto chave para lutar pela inclusão coletiva das pessoas.

O importante é que haja troca de vivências e conhecimento entre as pessoas. Guardar o papel de bombom no bolso não salva o planeta da poluição se você não disser pras pessoas ao seu redor fazerem o mesmo, por exemplo. Nesse processo de construção da identidade militante ou ativista, expor suas atividades ou ser da “linha de frente”, também não te torna mais importante do que as pessoas que estão nos “bastidores”.

O corpo por si só traz marcas e se torna um instrumento de resistência e luta que não precisa ser dita, que não precisa “ser vista”, mas que nos identifica como pessoas repletas de estigmas e diferenças que alimentam todo tipo de discriminação e comportamento violento por parte de outrEs.

Minimizar o sofrimento e a realidade de outrE não é movimento social, é uma tentativa de manipulação social orquestrada por um discurso político cheio de intenções para separar aquelEs que tem poder de comando dos que devem obedecer. O que me parece bem militar – daí eu não gostar desse termo quando quero me referir à um discurso mais coletivo.

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Vejo o ativismo como uma vocação e não como uma imposição e isso precisa ser respeitado. Cada um sabe seu tempo em se colocar como tal. Impor que as pessoas sejam militantes ou ativistas não é o mesmo que dialogar sobre a importância delas refletirem sobre a realidade na qual estão inseridas.

Por vezes, é uma jornada “solitária” e dolorida, entretanto, para aquelEs que adotaram este caminho, é a missão de defender os direitos coletivos, mesmo daqueles que não se importam com nada disso. E tá tudo bem! Foi uma escolha, e devemos compreender as consequências desse caminho.

E independentemente de nossas escolhas, os movimentos sociais sempre existiram e vão sempre existir porque são um campo de atividades e de experimentação onde as forças sociais organizadas se aglutinam e nós não temos controle sobre isso, sobre o reclame das pessoas.

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Por fim, quero retomar um pensamento revolucionário de meu primeiro texto nesse canal, a ideia de que devemos nos unir refletindo: A) por que estamos lutando?; B) a favor de quem estamos lutando?; C) contra quem estamos lutando?.

Quando, coletivamente, respondermos a essas perguntas, acharemos as respostas para a construção de discursos ativistas mais acolhedores e que promovam uma educação para a diversidade.

Desistir jamais! Resistir sempre!

Alderico Segundo Santos Almeida é sociólogo, professor, mestrando em Educação, especialista em Gênero e Diversidade na Escola, poeta e escritor. Para conhecer mais do trabalho dele, pela @ do Instagram: @_aldericosegundo

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