Entrevista exclusiva com Gaybriel e Wan Lo: “nossa voz será ouvida!”

(Foto: Divulgação)

A galera tá ligada que a cultura brasileira, em todos os seus campos, está sendo pisoteada pela política do (des)governo nacional. Em meio a esse cenário sombrio e, por vezes, até assustador, o colorido da música LGBT pop maranhense vem ganhando destaque Brasil afora, não somente com a grande diva Pabllo Vittar, mas nomes como Enme Paixão (que ganhou o concurso de novos talentos do Festival Sons da Rua no fim do ano passado) e VINAA (que recentemente foi pré-selecionado pela Radio Rock pra tocar no palco do Lollapalooza Brasil 2020, inclusive votação tá rolando, então corre lá no @vinaadelmar).

Ambos estão despontando no cenário nacional, levando a representatividade não só da comunidade LGBT, mas da cultura maranhense. Vislumbrando o mesmo caminho de sucesso e fazendo da arte sua maior arma contra qualquer tipo de opressão, os cantores Gaybriel e Wan Lo estão lançando um single que promete agitar o Carnaval maranhense e conquistar o top hits da cena LGBT local.

Leia também | #EspecialBR135 | A visibilidade do movimento LGBTQI na música maranhense

Estive com eles num bate papo incrível e vou contar tudo aqui pra vocês que já estão ansiosas por um clipe de Molhadinha:

Alderico Segundo Santos Almeida: Antes de mais nada, quem é o Gaybriel e a Wan Lo?

Gaybriel – Todo mundo me faz essa pergunta, mas é uma coisa que eu também não sei, estou descobrindo a cada dia. É uma forma que busquei pra expressar minha arte. Eu como maranhense, negro, LGBT, expresso toda minha visão e meu processo criativo dessa forma mais leve, buscando essa coisa mais cômica. Então, esse é o Gaybriel, vamos descobrindo juntos…

Wan Lo Quando eu falo do meu nome artístico, o nome Wan vem de Wanessa, que é o nome da minha maior diva, Wanessa Camargo e isso que influenciou na escolha do meu nome retificado. O Lo de Wan Lo vem de Lobato, mas me inspirei no Lo de JLo e Tove Lo. Acho que a J.Lo ilustra mais… é como pegar o Wanessa Lobato e abreviar: Wan de Wanessa e Lo de Lobato. Adoro cantar! Mas o Lobato é meu mesmo, meu sobrenome de família. Carrego no meu nome a minha inspiração pop e identidade artística.

Alderico Segundo Santos Almeida: Como se dá a parceria entre vocês?

Gaybriel – Ela começou em 2017, a gente já se falava pela internet, se elogiava pelos nossos trabalhos independentes. E eu tinha já uma música que achei a cara dela, que é “Molhadinha”. A gente tá sempre junto, se ajudando e produzindo música juntos. Uma parceria que segue firme!

Wan Lo – A gente sempre teve uma conexão, somos muito parecidos. Sou feliz de ter encontrado na minha vida! Ele escreveu minha segunda música de trabalho.

Alderico Segundo Santos Almeida: Interessante perceber que vocês têm uma parceria e uma amizade muito forte. Como vocês avaliam o cenário nacional com esse total descaso com a cultura? Como vocês tem resistido?

Wan Lo e Gaybriel – É nítido que a gente tá passando por um momento muito difícil no campo político, socioeconômico, e no campo da cultura se torna muito mais difícil quando se é artista independente, principalmente com os cortes de incentivos que tínhamos antes que garantiam ao menos um começo de carreira. Mas nosso papel tem sido mostrar para as pessoas que a gente tá junto, que a gente não vai se entregar a pensamentos retrógrados e que a gente vai continuar lutando para assegurar que todas nossas conquistas LGBTs sejam mantidas, nenhum direito a menos! Então, a gente acaba levando nossa voz, por ter esse espaço público, fora da bolha da internet. Seja no palco, na rua, mas nossa voz será ouvida!

Leia também | Esquerda revolucionária! Não, pera…

Alderico Segundo Santos Almeida: Vamos falar um pouco sobre sexualidade? Então, Gaybriel, você se denomina pansexual, o que seria uma pessoa pansexual?

Gaybriel – Pra mim, dentro do meu contexto de vivências, ser gay na sociedade e sendo um homem cis, é mais do que se relacionar com a pessoa do mesmo gênero. Eu não me vejo me relacionando apenas com pessoas do mesmo gênero. Eu me sinto livre hoje para amar quem eu quiser, independentemente da identidade de gênero e orientação sexual. Tanto sexualmente quanto afetivamente. Esse processo de descoberta é muito novo pra mim, sair da “caixinha” é novo. Mas estou me abrindo pra um caminho muito mais livre do que a homossexualidade. Por isso me chamo encaixo na pansexualidade. Embora eu coloque “Gay” no meu nome, mas é uma forma artística de resistir contra a homofobia que sofri na infância.

Leia também | Enme, VINAA, Pabllo Vittar e outros grandes nomes da música maranhense

Alderico Segundo Santos Almeida: E você Wan Lo, qual a diferença entre a mulher trans e a drag queen?

Wan Lo – A arte drag é muito importante pra mim, desde criança. Eu lembro quando eu assistia o programa da Hebe com minha vó e via a Nanny People, que é uma mulher trans hoje, mas ela começou fazendo drag, além de Vera Verão […] Eu sou muito grata pela arte drag porque ela me possibilitou de explorar, de arriscar, de ter a coragem de ser a artista que sou hoje. Então, eu comecei como drag queen, fui me conhecendo como pessoa e como artista. Fui reconhecida nacionalmente pelo meu TCC sobre a arte drag, inclusive a Pabllo Vittar comentou a respeito, foi um momento incrível pra mim. Posteriormente, eu me vi, de fato, como uma mulher trans. Já estou há um ano na terapia hormonal, não foi algo repetino, veio aos poucos, mas no fundo já estava ali adormecida. Eu me lembro de várias vezes chegar em casa e não querer tirar a figura da drag queen do corpo, eu queria estar assim sempre. Foi então que me liguei que sou uma pessoa feminina que não se limita apenas na artista (drag), mas sou uma mulher a toda hora, a todo momento e quero ser tratada assim, como mulher que sou.

A arte de divulgação do single Molhadinha (Foto: Domingos Thiago/ Arte: Wan Lo).

Alderico Segundo Santos Almeida: Agora, vamos ao que interessa? (risos) Como tá a expectativa para o a música “Molhadinha”? Vai ter clipe? Podem dizer algum segredinho?

Wan Lo – Sim! Essa música tem 3 anos, mas somente agora gravamos e soltamos pra galera. Depois de Uma Mamada, a gente trabalhou juntos em músicas dele, e guardamos pro final, essa song incrível! Tá sendo muito bom, a gente tá gravando o vídeo clip, tem a participação da Dani Bee na música, que já era da cena LGBT como DJ e agora tá se lançando como cantora. Em breve, tem novidades da Dani!

A cantora e DJ Dani Bee (Foto: Divulgação).

Gaybriel – Tá sendo incrível tá aqui nesse espaço divulgando nosso trabalho. Se a gente que é artista independente tem a oportunidade de abrir espaço pra outros artistas, por que não chamar a Dani Bee? Eu quero ajudar outras pessoas com nosso trabalho.

Alderico Segundo Santos Almeida: Pra encerrar, quais os planos pro futuro? Qual recadinho deixam?

Wan Lo – Os meus planos é continuar cantando, fazendo minha arte, vem novidade por aí! Inclusive o Gaybriel tá junto, tá fazendo aí a direção e composição. O irmão dele Yhago Sebaz tá na produção musical. Vem algo surpreendente! E você vão ver muito a Wan Loo, bebê, por aí! (risos)

Gaybriel – Trabalhar, trabalhar e trabalhar! Recadinho? Bom: não seja seca! Seja molhadinha! (risos).

Como vocês leram, não conseguimos arrancar mais nenhum segredinho, tá tudo guardado a sete chaves, então, vamos acompanhar os próximos capítulos do que essa dupla maravilhosa vai aprontar. O mundo já é de vocês! Sucesso!


Nota editorial: o SobreOTatame.com é um site que produz conteúdos de cidadania, comportamento e cultura. Por meio dos conteúdos que publicamos, acreditamos na informação como força de educação e discernimento, desta maneira, abrimos espaço para profissionais que possam tratar de temas mais especificamente.

Alderico Segundo Santos Almeida é sociólogo, professor, mestrando em Educação, especialista em Gênero e Diversidade na Escola, poeta e escritor. Para conhecer mais do trabalho dele, pela @ do Instagram: @_aldericosegundo

VOCÊ TAMBÉM PODE GOSTAR

Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais recentes
mais antigos Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários