Esquerda revolucionária! Não, pera…

(Foto: Reprodução)

Estive em um debate muito proveitoso em uma universidade privada de São Luís (MA), sobre o (documentário) O Silêncio dos Homens.

E entre tantas questões levantadas em quase quatro horas de um rico bate-papo com as pessoas presentes naquele espaço, me veio nossa primeira reflexão a qual me predisponho nesse canal: o que estamos fazendo para causar uma revolução que mude tudo o que há de ruim no nosso país, caracterizado por ser composto por uma sociedade escravocrata-racista, elitista-embranquecida, patriarcal-machista, misógina e LGBTfóbica?

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Para tentar responder essa reflexão, precisamos refletir sobre o que entendemos por revolução.

Bom, entendo que o primeiro ponto está no entendimento da pessoa em se reconhecer como sujeito oprimido e de privilégio (ou opressor) em relação ao outro e a outra, ou seja, entender que as diferenças entre nós causam uma hierarquia do preconceito e da discriminação.

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Por exemplo: as mulheres sofrem muito mais do que os homens; as/os transexuais tem muito mais dificuldade de acesso a uma educação superior do que mulheres lésbicas e homens gays; lembrar que os jovens homens negros correm maior risco com a polícia do que brancos, entre outros infinitos casos.

O segundo ponto é ter em mente que a opressão é o que nos une em nossas diferenças. Portanto, observo que é chegado a hora de esquecermos nossas (in)diferenças e lutar contra quem nos faz oprimido.

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Já peguei muita gente negra ou LGBT ou mulher falando “bandido bom é bandido morto”. Putz! Por que, então, não mataram os políticos que afundam nosso país na m…. (lama)? Quer bandido melhor do que esse pra tá morto? Já se perguntaram quem está nos presídios brasileiros? Eu respondo: em sua maioria, pessoas negras e LGBTs (com recorte para travestis que são recrutadas pelo tráfico, o motivo é a falta de acesso à educação como falei antes).

Parem de dizer que as pessoas não deram certo porque elas não se esforçaram: isso é discurso de meritocracia! E eu vou te explicar o que significa isso. Se você entrar no curso de medicina de qualquer faculdade, procure um negro ou uma negra. Confira quantos tem. Já percebeu que menos da metade dos estudantes são negros? Porque isso é diferente nos cursos de Licenciatura?

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Se você ver uma travesti terminar o ensino médio sem nunca ter reprovado ou abandonado a escola, isso não é regra, é exceção. Já se perguntaram por que as mulheres ocupam em massa a educação infantil e na medida em que o nível de ensino vai aumentando, são os homens que ocupam “majoritariamente” esses espaços, como nos mestrados e doutorados.

Portanto, a questão não tá no esforço, mas na facilidade de acesso que essas pessoas tem. E quem facilita esse acesso?

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Esse é o terceiro ponto da ideia de revolução: entender quem é o nosso grande inimigo. Você é capaz de dizer agora? Nosso inimigo é a TV Globo? É a barbie? É o vizinho chato? É a Igreja? Bom, nosso inimigo se resume, pra mim, em uma só palavra: SISTEMA! Mas qual sistema? O sistema corrompido pelo capitalismo, neoliberal.

Esse sistema que me parece estar perdendo força, mas creio que talvez não seja possível nossa geração vive para desfrutar do próximo que está surgindo, que não tem nome, ainda. Mas é possível verificar o início de uma grande transformação no que aí está, por meio dos Movimentos Sociais que estão acontecendo na América Latina e alguns países nortistas e europeus.

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Mas nós, brasileiros/as, maranhenses, estamos fazendo revolução? Não! Estamos inertes diante de um cenário que nos obriga a “fazer alguma coisa”, mas não me refiro apenas a palestras pontuais como nessa roda de conversa que participei, nem oficinas em escolas. Pra mim, isso não é suficiente se não for contínuo. Às vezes, esses momentos podem ser muito mais perigosos do que ajudantes, pois deixa ainda mais dúvida na plateia que não tem tempo de assimilar tantas informações em poucas horas de debate, principalmente jovens adolescentes.

(Ilustração por NaLu)

É preciso mais do que isso. É preciso que entendamos o que nos move enquanto seres revolucionários – e eu acredito que a opressão é o grande motivo de todos nós (negros, LGBTs, mulheres, índios, campestres, povos de rios, etc.) nos unirmos contra o Sistema. Como uma grande Irmandade, entender que o “ninguém solta a mão de ninguém” não deve ser romantizado, mas que essa frase seja inspirada nas lutas revolucionárias da década de 1960 do século passado, onde ninguém soltava a mão de ninguém, mesmo com bombas e balas em direção às pessoas. A ideia é que a gente se proteja e lute contra o inimigo, que me parece ser comum a todos nós!

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Parece que estou aqui incitando a violência, mas toda revolução tem seu lado violento, mesmo que não haja armas em nossas mãos, o Sistema sempre reage. E nós temos sempre, então, que resistir!! De que maneira essa resistência acontece? Bom, isso fica a critério de cada um (teatro, música, dança, poesia, literatura, etc.), mas é preciso, antes de mais nada, sair da nossa zona de conforto e privilégio, ocupar os espaços periféricos que necessitam desses debates.

É preciso que a escola e a universidade se reinvente também, a gente tem que convidar as famílias pra conversar sobre muita coisa, é preciso de alguma maneira, também, pressionar o Estado que controla esse Sistema, ocupar as casas legislativas (congresso, assembleia ou câmara), fiscalizar e cobrar ações do sistema jurídico para que ele não seja seletivo e que não haja peso em sua balança de modo a pender sempre pro lado mais “fraco”. É preciso agir!!

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Por fim, quero parafrasear uma chamada clássica do Karl Marx: Transsexuais, Travestis, Bichas, Sapatões, Feministas, Pretas/os, Índias/os, Povos do Campo, Povos Ribeirinhos e do Mar, Refugiadas/os e, também, homens cis héteros (que não sejam tóxicos) de todo o mundo,

Uni-vos!!


Nota editorial: o SobreOTatame.com é um site que produz conteúdos de cidadania, comportamento e cultura. Por meio dos conteúdos que publicamos, acreditamos na informação como força de educação e discernimento, desta maneira, abrimos espaço para profissionais que possam tratar de temas mais especificamente.

Alderico Segundo Santos Almeida é sociólogo, professor, mestrando em Educação, especialista em Gênero e Diversidade na Escola, poeta e escritor. Para conhecer mais do trabalho dele, pela @ do Instagram: @_aldericosegundo

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