Estocolmo virou Fortaleza (?!)

Cena do filme “Estocolmo“, estrelado por Ethan Hawke, Mark Strong e Noomi Rapace (Foto: Reprodução/Divulgação).

Por Manoel Júnior Ferreira Veloso, em colaboração ao SobreOTatame.

Estocolmo é uma cidade mundialmente famosa. Não somente por ser a capital da Suécia, a “Veneza do Norte”, ou referência em preservação de patrimônio e parques arborizados. Sua fama vem da década de 70, das consequências de um assalto que durou seis dias e cunhou uma síndrome que leva seu nome e foi estudada por muitos psicólogos no mundo inteiro.

A Síndrome de Estocolmo é o nome dado ao estado psicológico em que o indivíduo, submetido por tempo prolongado a uma situação de intimidação, passa a simpatizar – ou até mesmo amar – o seu agressor. O algoz se torna um amigo ou um porto seguro, como as vítimas daquele assalto em Estocolmo em 1973 passaram a defender seus sequestradores.

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Mentes abatidas pela síndrome permeiam muitos enredos. Em Jogos Mortais, Amanda passa a trabalhar pela continuidade do projeto de Jigsaw. Em Game of Thrones, Theon Greyjoy, após ser castrado e torturado, desenvolve um certo amor por Ramsay Bolton. E em La Casa de Papel, Monica se apaixona por Denver, do bando de criminosos que invade a Casa da Moeda espanhola.

Ethan Hawke é Lars Nystrom em “Estocolmo” (Foto: Reprodução/Divulgação).

Nessas histórias, o estresse físico e emocional extremo sofrido pelas personagens acarretou num complexo comportamento que mistura afetividade e ódio, como uma estratégia de sobrevivência das vítimas. O afastamento emocional da realidade violenta, numa espécie de torpor, fez com que as vítimas sobrevivessem às atrocidades que foram submetidos.

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A verdade é que não estamos muito distantes de Estocolmo. O Nordeste, acuado por todos os flancos, foi enamorado por promessas de mudanças que nunca acontecem.

O menor gesto gentil direcionado a nós é frequentemente amplificado, distorcendo nossa visão da realidade que estamos inseridos. Um chapéu de couro usado como adereço durante a inauguração de um aeroporto no sertão baiano fez com que esquecêssemos que “carros baianos vem com freio de mão puxado”. Que o Consórcio Nordeste foi chamado de separatista. Que somos todos paraíbas. Ou que “só falta a cabeça crescer mais para ser nordestino”.

Sem futuro os que servem
O chão do mundo os que não esperam
A vida usurpada é nossa simplesmente por que sim
A festa dos excluídos driblando a repressão
Em cada clichê racista somos máxima reação

Dead Fish – Nous Sommes Les Paraibes

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No mês passado, em 8 de outubro, comemoramos o nosso dia. O Dia do Nordestino foi criado como uma forma de homenagear a diversidade cultural de nossa região, cheia de musicalidade, belezas naturais, folclore, mentes brilhantes.

Ethan Hawke e Mark Strong em “Estocolmo” (Foto: Reprodução/Divulgação).

São tantas riquezas que os olhos marejam só de pensar. Não permitamos, portanto, que nossos olhos encham d’água para discursos vazios de quem pouco se importa com quem somos.

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Torço para que a chuva de honestidade que o Nordeste sempre precisou, de fato, chegue. E torço ainda mais para que sejamos capazes de, mesmo com a visão turva por essa chuva prometida, sejamos capazes de ver nosso algoz com clareza.

E assim, que a doença permaneça intitulada com o nome da capital sueca. Não podemos permitir que a Síndrome de Estocolmo passe a se chamar Síndrome de Fortaleza.

Obs: As imagens utilizadas neste post são referentes ao filme “Estocolmo”, dirigido pelo canadense Robert Budreau. O filme, que conta a história que deu origem ao termo Síndrome de Estocolmo, é de 2018 e ainda não ganhou data de estreia no Brasil.


Nota editorial: o SobreOTatame.com é um site que produz conteúdos de cidadania, comportamento e cultura. Por meio dos conteúdos que publicamos, acreditamos na informação como força de educação e discernimento, desta maneira, abrimos espaço para profissionais que possam tratar de temas mais especificamente.

Manoel Veloso é Mestrando em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Advogado. Para trocar uma ideia com ele, pelo e-mail: manoelfveloso@gmail.com.


Assista, abaixo, ao trailer de Estocolmo:

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