Kriptonita Nunca Mais!

“Eu tenho o mundo inteiro pra salvar”, canta Vanessa Krongold, nos versos de Kriptonita – faixa de sucesso do Ludov há uma década. Dez anos e algumas coisas não mudaram. Ou melhor, algumas as vejo agora com outro sentido. Em referência a esta canção, em mais um diálogo com a mesma pessoa que inspirou outro texto, me peguei pensando nos motivos pelos quais atribuo “estar sem foco”. Foram vários pensamentos até chegar nas atividades que mais tenho prazer em fazer atualmente. Entre elas, ajudar – seja ela com uma conversa, uma visita ou um texto. Ajudar não é tarefa fácil. Não para quem se dedica.

Decidi tirar os últimos três dias para olhar o que minha vida se tornou depois de vários anos em um relacionamento. Percebi que muitas práticas ou foram extintas ou entraram em um hiato que dificilmente se retomarão. A ausência delas em minha vida provavelmente se dê pela necessidade que temos em substituir coisas por outras e, assim, iniciar ou transformar o seu caminho. Transformei o meu. Várias vezes até.

Até chegar no seguinte cenário: eu amo ajudar. Parece bobo, né? Na conversa citada anteriormente, a outra pessoa também concordou. E ficamos pensando se esta é uma função a ser seguida atualmente. Ajudar não dá retorno financeiro, às vezes nem retorno sentimental – em alguns (muitos) casos, a tão esperada via de mão dupla parece uma estrada de filme de terror sem volta. Ajudar demanda tempo. Ajudar demanda ter paciência. Ajudar demanda até um desapego de si para buscar o próximo independente de qualquer coisa. É, ajudar dá trabalho.

Ajudar, porém, não demanda capacitação, mas em uma breve conversa ontem, percebi que ela, sem querer, “exige” condição: que você conheça a si mesmo, antes de acalantar quem quer que seja com palavras, versos e ombros.

A nossa maior kriptonita é o fato de que pouco saibamos sobre nós antes de dar exemplos de superação a quem precisa de nós, por exemplo. Fica fácil escolher palavras, repeti-las, e até imergir-se nos problemas alheios, mas é o que vivemos e a forma como buscamos nos conhecer que dita mais o conselho que iremos dar.

Nós temos o mundo inteiro para salvar. E, às vezes, parecemos querer cobrir todo ele, agindo de uma forma até egocêntrica de achar que todos precisam dos nossos conselhos ou de nós mesmos para estabelecer suas sobrevivências. Calma lá, Superman. “Conhece-te a ti mesmo”. Depois, viva.

 

P.s: o título do post faz referência a HQ homônima do Superman, escrita por Denny O’Neil, Curt Swan e Murphy Anderson, entre 1970 e 1971.

P.s2: A frase “conhece-te a ti mesmo” – normalmente atribuída ao filósofo grego Sócrates (479-399 a.C.) – é, na verdade, a inscrição que se via na entrada do Oráculo de Delfos, local onde buscava-se o conhecimento do presente e do futuro por meio de sacerdotisas.

Gustavo Sampaio é jornalista e radialista. Atua em São Luís como repórter, assessor de comunicação, produtor e editor. Já produziu conteúdo para Imirante.com, Rádio Educadora, O Imparcial, Volts, Governo do Maranhão. É editor-chefe do SobreOTatame.com, além de pesquisador musical e louco por animais.

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Lari Reis
9 anos atrás

Eu gosto muito de ajudar. De verdade. Muitas vezes, as pessoas não entendem e nem valorizam isso, mas não faz mal. Acho que o mal pode, na verdade, estar escondido justamente na ideia de que temos um mundo para salvar. Não gosto de pensar assim, apesar de entender da onde vem essa inspiração. Mas, é preciso cuidado…