Lágrimas de Março: 1 ano da morte de Marielle Franco

Hoje faz um ano da morte de Marielle Franco. Lembro-me bem desse dia, porque aconteceu justamente no dia do meu aniversário. Sempre chove no dia do meu aniversário, é uma das minhas memórias mais fortes desde a minha infância. Não foi diferente ano passado, dia 14 de março de 2018. Aqui em São Luís, amanheceu chovendo, uma chuva forte, grossa… A água que caía do céu naquela manhã cinza, fria e úmida era como se fosse um prenúncio das lágrimas que, à noite, naquele mesmo dia, o Brasil inteiro derramaria ao saber do assassinato da vereadora.

Trio 123 e VINAA lançam ‘Cidade das Meninas’, canção inspirada em Marielle Franco

“São as águas de março fechando o verão…”

No mês da luta feminina, Marielle, saindo de um evento para falar justamente sobre isso, foi assassinada covardemente, junto com seu motorista, Anderson. Ambos apenas faziam seu trabalho e morreram por causa disso. Marielle foi assassinada. Assassinada porque fazia seu trabalho, porque vivia o que acreditava e lutava por isso.

Eu confesso: não conhecia a Marielle Franco, sua história e sua luta, não fazia parte da minha realidade local, embora, depois de conhecê-la, perceber o quanto ela lutava por cada brasileiro, e brasileira! Cria da favela da Maré, mulher, negra, homossexual, mãe, socióloga, política, feminista e defensora dos direitos humanos: quem não se sentisse representado por ela, que tinha em si todas as minorias (a maioria no Brasil), certamente faz parte de uma classe mais do que privilegiada no Brasil. Acredito que milhões de brasileiros também não a conheciam até aquele dia, mas foi impossível, para esses milhões, não se comover ou não se assustar com o que aconteceu.

Ilustração de Feppa Rodrigues

Mas, na voz de Elis Regina (que, inclusive, aniversaria no mês da mulher, dia 17/03!), a canção continua na minha cabeça:

“São as águas de março fechando o verão, é a promessa de vida no teu coração”

A partida de Marielle fechou nosso verão com lágrimas, num dia chuvoso. Mas sua memória e luta são a promessa de vida no coração de tantas outras mulheres, de tantas outras mulheres negras, de tantos brasileiros que desejam justiça social e paz. Sua morte, além de fazer chorar pessoas do Brasil inteiro, num sentimento coletivo de desespero, medo e indignação, precisa agora ser ressignificada, jamais esquecida, jamais distorcida. Choramos pela morte de Marielle, mas não queremos chorar de medo, talvez de saudade, talvez por indignação, talvez de emoção por lembrar de sua história, mas medo não! Marielle é a representação da força que queremos ter. E é isso que este dia representa.

A morte de uma mulher negra bem no mês das mulheres, de uma mulher negra que lutava por justiça social, de uma mulher negra que acabava de sair de um evento sobre direitos da mulheres, é mais do que trágica, não é um fato corriqueiro, é simbólica! É pra sempre nos lembrar que estamos longe de sermos tratadas com o respeito que merecemos, é para lembrar que o pobre está longe de ser reconhecido, é para lembrar que os negros no Brasil ainda são os que mais morrem.

Ontem (13/03/19), jovens morreram em uma escola, em um atentado, assassinados por outros jovens. Não estamos em condições, no momento, de responsabilizar ninguém, tudo está muito recente. Agora choramos por isso também. Não queremos usar a morte desses jovens como “bandeira política” (até porque acontecimentos como esses já aconteceram antes mesmo do atual presidente no poder) mas este ocorrido, justo agora, somado à morte de Marielle, só ressalta que estamos vivendo em um contexto onde o discurso de violência está crescendo e agora vem sendo legitimado por um chefe de Estado – e isso é preocupante.

O discurso de ódio ensina a matar e motiva morrer. Não queremos que mais crianças morram inocentemente, não queremos exemplos violentos para nossos filhos, não queremos que mais representantes populares paguem com a própria vida o preço da luta, não queremos que isso aconteça nunca mais.

O dia 14 de Março, dia do assassinato de Marielle, passa a ser, no Brasil, dia de lembrar da luta. Luta constante por paz, justiça social, respeito e amor. A morte de Marielle, é, como diz a canção: promessa de vida. Marielle estará presente. Sempre.

Steffi de Castro é psicóloga. Atua em São Luís como designer instrucional e escritora. É redatora no SobreOTatame, escreve e estuda sobre música, feminismo e comportamento. É estudante de tarô, dançarina amadora, podcaster, adora ASMR e a vida offline.

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