(Foto: Caio Marvão / Divulgação)
“Tudo o que você sonhou e não me contou/ eu estava lá pra ver acontecer/ O que você quiser é só eu te pertencer/ e te pertenço/ E vou fazendo planos pra você, que me esquece a cada amanhecer/ Não sou daqui, não sou dali, eu sou tudo o que eu canto pra você“. Com estes versos e a produção hipnotizante de Sandoval Filho (Bimbo, VINAA, Onze Andares), a cantora e compositora Ana Clara Oliveira inicia Cacos, seu EP de estreia, lançado no início deste ano.
À primeira vista, Cacos, o EP, lembra um pouco o álbum de estreia da cantora Maria Gadú, lançado há 10 anos. A semelhança se dá pela leveza que ambas as cantoras trazem na voz e na facilidade com que encantam e transmitem o sentimento proposto pelas letras. Estas similaridades ficam mais fortes na faixa-título, que diferente das demais, segue um formato mais intimista sem tanta influência da música pop.
Na estreia da maranhense, as letras ganham tons confessionais, lembrando de histórias vividas pela cantora. “No processo de gravação, eu vivi uma história muito intensa que começou com 1/3 e terminou com Cacos. (…) Eu decidi que eu queria eternizar essa história e comecei a gravar todas as musicas”, contou Ana Clara Oliveira ao SobreOTatame.
Apesar do EP ter sido lançado no começo deste ano, o processo de Cacos iniciou há alguns anos. “Eu comecei a tocar muito nova. Acompanhava meus pais nos bares e pedia pra fazer participações”, conta Ana Clara Oliveira, que começou a tocar oficialmente na noite de São Luís com 16 anos – atualmente, ela tem 20 anos.
Para a cantora, Cacos é a faixa principal porque representa “todo o sentimento que a gente tem dentro da gente, as coisas que a gente vive e não tem coragem de falar”, se revelando ser uma pessoa que não consegue falar abertamente sobre o que de fato sente. “[Cacos] é uma explosão de sentimentos. É uma marca dentro de mim que não sara e que as vezes volta pra assombrar um pouco”, acrescentou.
Gravado em um período de quatro meses no Blackroom por Sandoval Filho, o EP Cacos traz uma curiosidade: a faixa-título foi gravada apenas uma semana antes do lançamento do EP. “Eu precisava que ela estivesse presente pra encerrar um ciclo”, afirma Ana Clara.
Entretanto, foi há dois anos que o EP começou a ganhar vida. “Comecei a escrever músicas inspiradas em textos que eu fazia pra desabafar. (…) Peguei o violão e comecei a fazer umas letrinhas bestas pra brincar. Até que um dia, sem conseguir dormir, surgiu Insônia, em 2017. Foi a única música que nunca esqueci e decidi que ia ser a primeira a gravar. Com um incentivo de amigos e conhecidos, consegui levantar uma boa grana pra gravar”, acrescentou.
O incentivo deu certo: o EP conquistou o público ludovicense de cara. “Passei o Carnaval todo sendo parada na rua, a galera elogiando. Muita gente viciou e passou dias ouvindo. Já me colocaram até em sexlist [risos]”, brincou Ana Clara. A repercussão imediata do EP é sentida pela cantora até hoje, meses depois do lançamento nas plataformas. Segundo ela, o público não só já sabe as músicas, como pedem cifras e datas dos novos shows da cantora.
O acerto do EP dá-se justamente pelo estilo, que soube combinar as referências de MPB, como Elis Regina, Marisa Monte e Vanessa da Mata, por exemplo, com as influências de música pop, como Rihanna e Adele. No que depender de Ana Clara, o estilo adotado em sua estreia permanecerá nos seus próximos lançamentos. “Vou me manter nesse estilo. É um estilo diferente que eu me identifiquei muito. As novas composições já estão sendo pensadas nesse estilo”, pontuou.
Segundo Ana Clara, em breve será iniciada a produção dos videoclipes oficiais de Cacos, que devem ser lançados ainda em 2019. Para 2020, a promessa é de um novo EP, previsto para o primeiro semestre.
A mulher na cena de música independente de São Luís
Ana Clara Oliveira parece ter superado o desafio do material de estreia, após ter recebido vários elogios dos fãs e do público em geral. Porém, para ela, a parte mais difícil foi “mostrar que uma mulher poderia sim fazer músicas autorais e fazer tanto sucesso quanto qualquer outro artista”
“É muito difícil ser mulher e tocar na noite. As coisas que a gente vê escuta e tem que passar são absurdas. Então, quando teve o lançamento, que foi um sucesso e eu lancei de manhã as músicas e de noite todo mundo já tava sabendo todas as letras, foi uma surpresa absurda. Não esperava o hype que teve”, revelou.
A artista afirma que ainda falta muita união entre as mulheres na música maranhense, mas que tem interagido com algumas cantoras. “A Gabi Carvalho foi uma das primeiras a escutar meu som porque eu tava pedindo opiniões. A Samile, logo quando eu lancei [o EP], veio falar comigo. A gente foi se juntando e fazendo som, com planos pro futuro já rolando a mil”, contou.
Em um meio musical ainda dominado por homens, Ana Clara espera poder conquistar o próprio espaço e ter reconhecimento dentro do meio artístico. “Eu acho que a musica ludovicense é perfeita mas que tem muito o que crescer e a galera precisa se unir porque as panelinhas existem. Acho que independente de tudo somos artistas e quanto mais a gente se juntar é melhor”, concluiu.