Louíse Mendes e a Jamaica brasileira que brilhou na Vogue Itália

Foto: Louíse Mendes/Vogue Itália/Reprodução.

A maranhense Louíse Mendes é a fotógrafa que teve seu trabalho publicado no portfólio da Vogue Itália, uma das mais influentes e conceituadas revistas de moda do mundo.

A imagem que recebeu toda essa atenção tem como temática a moda inspirada nos aspectos culturais do Reggae, uma louvação à Jamaica Brasileira e à forte influência desse ritmo na identidade cultural da nossa ilha.

O ensaio Jamaica Brasileira que foi destaque na edição italiana da Vogue. Foto: Louíse Mendes.

Sob direção artística de Leandro Lima, produção de Leon Gaspar e modelado por Karla Pinheiro, a imagem é a prova de que é possível fazer moda á baixo custo sem perder nem um pouco da sofisticação.

Lembrando que São Luís é conhecida como a capital do Reggae, ritmo que enraizou em nossas terras por volta dos anos 70 e, desde então, compõe parte da nossa identidade cultural. Com características próprias, nossa ilha é o único lugar onde particularmente se dança o Reggae em dupla, o costumeiro “agarradinho”, como também é símbolo da luta contra o preconceito e o racismo.

Hoje em dia, o ritmo possui bases mais sólidas, resistiu ao tempo e às tentativas de apagamento de sua memória – essa trajetória é contada pelo Museu do Reggae, espaço destinado à memória do Reggae Maranhense que reúne em acervo, fotos, artefatos e homenagens aos artistas que aqui deixaram sua marca.

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O ensaio Jamaica Brasileira que foi destaque na edição italiana da Vogue. Foto: Louíse Mendes.

É com esse compromisso político e social que a fotografia de Louíse Mendes se destacou nas últimas semanas, por enaltecer as cores da Jamaica (verde, amarelo e vermelho) e o Reggae que até pouco tempo era marginalizado em nossa cidade, por se tratar de um ritmo abraçado pelas periferias.

Em entrevista ao Sobre o Tatame, Louíse nos conta um pouco sobre a sua trajetória como fotógrafa e nos falo a respeito do processo de produção da imagem aceita pela curadoria da Vogue It.

Louíse pontua: “Todas as produções buscam um cunho social e político e isso que me aproximou mais do lado social que, às vezes, passa despercebida. Dentro da arte não faz dança por dança, ou fotos por fotos, fazemos arte, pois é o que sentimos, que nós podemos mudar o mundo”.

“Estou muito feliz em poder partilhar com todas essas conquistas e agradeço o espaço do SobreOTatame que sempre apoia os artistas

Louíse Mendes.

Veja, abaixo, uma galeria com as fotos do ensaio Jamaica Brasileira:

Abaixo, uma entrevista rápida com a fotógrafa Louíse Mendes:

1-) SOT – Fale um pouco sobre você e sobre o seu trabalho na fotografia.

Louíse Mendes – Comecei a fotografar (…) há dois anos. Comprei uma câmera usada e me meti na prática. No começo, foi bem complicado, mas aprendi a base no YouTube. Tive a oportunidade de ser ouvinte em um curso de fotojornalismo na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), que foi um divisor de águas. Depois disso, trabalhei um tempo no Teatro Arthur Azevedo (TAA), lá comecei a fotografar palco e pude aprimorar algumas coisas em relação à técnica.

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Hoje, sou produtora e fotógrafa da Cia. Ateliê Contemporâneo, faço uma fotografia mais publicitária, em todos os aspectos. Estou na produção do espetáculo Frida e montei o conceito da identidade visual. É uma companhia teoricamente nova, mas com grande relevância e pioneirismo.

A fotógrafa Louíse Mendes. Foto: Divulgação.

2-) SOT – Sobre a fotografia que foi para o portfólio da Vogue It, como foi o processo de produção do conceito da imagem?

Louíse Mendes – A imagem que foi para o portfólio da Vogue It, o que foi maravilhoso pra mim, é intitulada de “Jamaica brasileira”, não só pelas cores, mas também pelo contexto da cidade.

A produção aconteceu na Hauss 337, uma casa de criação coletiva que fica no centro da cidade. O Leandro e eu somos amigos e já havíamos pensado em fazer algo juntos. Surgiu oportunidade no PixUp, que é um evento sobre fotografia no qual eu palestrei falando um pouco sobre marketing e branding.

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O bom desse reconhecimento é mostrar que estamos em São Luís do Maranhão. Carregar esse discurso na foto e dizer para muitas pessoas que podemos sim fazer coisa com pouca grana.

A Karla, modelo da foto, é incrível. Uma mulher negra, mãe e que tem sonhos como todos nós. Pra mim não são só as cores da Jamaica: trazemos uma carga de histórias que percorrem toda foto.

3-) SOT – O que essa conquista agrega em tua vida?

Louíse Mendes – Estar no portfólio da Vogue só me deu vontade de fazer mais, inclusive abri nas redes sociais umas enquetes e selecionei algumas pessoas, acho que umas 15, para impulsionarmos mais produções e movimentarmos a cidade.

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Acho que todo mundo deveria tentar fazer uma inscrição lá, é um processo fácil e on-line. A gente faz a inscrição e no final do dia recebemos a curadoria final. Podemos ter varias inspirações com fotógrafos do mundo todo que postam seus trabalhos lá.

Espero que a galera se interesse mais por produção fotográfica e entenda que fazer uma não é apenas escolher uma roupa e ir para o meio da rua. Existe todo um estudo e contexto que cada foto trás.

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Formada em Letras pela UFMA, tem se dedicado nos últimos anos a duas atividades: estudar a poesia de Hilda Hist; e a estudar e atuar na área da fotografia. “Aleatória” de natureza, gosta de café sem dispensar um chá. Tem vários gatos, mas também um cachorro e várias plantas. Gosta de literatura e cinema na mesma intensidade que gosta de aquarelas, modelagem e, claro, de viver.

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