O Boi da Maioba em apresentação no Centro Histórico de São Luís (Foto: Divulgação).
Com fundação oficial em 1897, o Boi da Maioba é um dos mais antigos grupos de bumba-meu-boi maranhense em atividade ainda hoje. Pelo grupo, passaram emblemáticas personalidades desta manifestação cultural, como Luís Danavó, João Chiador, que foi amo do Boi durante 32 anos, e Chagas.
Atualmente. o grupo tem como principais cantadores Marcos, Darlan e Júnior da Maioba. O grupo tem como presidente José Inaldo Ferreira, ou também conhecido como “Zé Inaldo”, que herdou a brincadeira de seus pais e avós, com quem conversamos para este especial.
“A Maioba, ela na verdade, é, para nós, essa grande riqueza cultural. É a nossa verdadeira paixão”.
José Inaldo Ferreira, presidente do Boi da Maioba.
Zé Inaldo explica que o São João é vivido pelo grupo não só no mês de junho, mas o ano inteiro. “Nós não fazemos o boi em temporada junina. Nós vivenciamos e trabalhamos no Boi da Maioba o ano inteiro”, comenta. Por isso, o momento da pandemia tem sido sofrido e nostálgico. “Não poderia não ser nostálgica a dor, muito grande, por não poder conviver com nossos amigos, nossos companheiros, nossos companheiros de luta, que nos ajudam fazer dessa constelação Maioba esse grande tesouro encantado”, acrescenta o presidente.
Ele destaca, ainda, que no mês junino a dor aumenta, pois é quando o grupo está em maior atividade, realizando uma média de 60 brincadas ao longo da temporada. “Sou muito religioso. Eu confio no meu Deus, confio nas minhas orações, no Glorioso São João, que há de fazer com que venha né aquela ventania para levar essa praga para a lei e nos deixar livre com saúde para […] também poder reunir o nosso batalhão e brincar um bumba-meu-boi”, ressalta o também brincante do Boi.
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Como parte dos grupos que estão aderindo à onda digital, o Boi da Maioba tem realizado movimentações on-line. Zé Inaldo comenta que as primeiras duas lives realizadas no Instagram do grupo atingiram, somadas, mais de cinco mil pessoas. Para o mês de junho, o grupo já está com várias lives agendadas.
“No dia 13, né, vamos fazer uma live documental para o São João do Nordeste, em parceria com a TV Cidade. […] Também fomos convidados pelo Grupo Mirante para fazer uma live solidária, que ocorre no dia 20. E através dessa parceria, a gente quer arrecadar o máximo possível para transformar essa arrecadação de alimento e distribuir para as pessoas que mais precisam. E, de modo, que estamos engajados para fazer esse trabalho com muita responsabilidade”, pontua Zé Inaldo.
A cerimônia do batizado acontecerá e será transmitida via internet, porém de maneira diferente. “Quando eu cheguei eu já encontrei essa tradição, através do meu pai, do meu avô, e a gente mantém essa tradição de fazer no batismo do boi no dia 23, na véspera de São João. Porém, o Boi não vai estar no terreiro, porque precisamos estar distanciados um do outro. Mas temos levado a mensagem através da rede social e o público têm entendido compreendido perfeitamente que não podemos fazer aglomeração. Mas o ato religioso vai acontecer lá na igreja, na capela de São João e de modo que também faremos esse documentário transformado em live para que todos possam, de suas casas, assistirem esse grande momento”, acrescenta o presidente do Boi da Maioba.
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Zé Inaldo afirma que, assim que possível, com a redução de casos e controle da pandemia, um São João fora de época possa ocorrer em algum momento. “Para reunir o nosso povo, reunir o nosso Batalhão, reunir a sociedade e os turistas para conhecer a grande riqueza que o Maranhão tem que é o bumba-meu-boi”, diz.
O brincante se mostra otimista também com a tramitação do Projeto de Lei 1.075/2020 – Lei de Emergência Cultural, também chamada de Lei Aldir Blanc, que visa fornecer apoio emergencial ao setor cultural do país no momento da pandemia. O projeto já foi aprovado na Câmara e no Senado, e agora o texto depende da aprovação do Presidente da República para ser sancionado.
“Nós estamos trabalhando. Tá faltando é grana para poder pagar quem está trabalhando, os nossos artesãos que estão trabalhando. Porque a cadeia produtiva da cultura popular é muito forte, é muito grande: ela envolve social, financeiro, cultural, e, enfim todo o segmento que o ser humano precisa para sobrevivência. Então, nós entendemos que o Governo do Estado e o Governo Federal tenham consciência de fazer a sua parte. Nós estamos aqui pronto para atender a chama dentro quando for necessário”, finaliza Zé Inaldo.
Mais do São João do Maranhão
Durante o mês inteiro de junho, traremos um material especial sobre o São João do Maranhão. O objetivo do SobreOTatame é trazer à memória os dias alegres que já vivemos e ainda viveremos, dar voz aos principais atores e atrizes dessa época e alimentar o nosso amor por essa festa.
Abaixo, alguns dos materiais produzidos: