Menstruação: tabu em pleno século XXI

(Foto: Divulgação / The Pad Project)

“Agora queremos que as mulheres voem”, diz uma das entrevistadas, que trabalha com a produção dos absorventes Fly, em uma área rural da Índia. A instalação da fábrica, o trabalho das mulheres frente à produção e a venda dos absorventes são retratados no documentário indiano Period. End of Sentence. (conhecido no Brasil como Absorvendo o Tabu), já disponível na Netflix.

Vencedor de 12 prêmios, incluindo um Oscar de Melhor Curta Documentário, a produção, de 2018, foi dirigida por Rayka Zehtabchi. Mais do que a rotina da nova fábrica de absorventes, o documentário mostra o tabu que ainda existe no local acerca da menstruação. O preconceito e a completa ignorância com relação à saúde feminina, tanto por parte das mulheres quanto dos homens, fazem do fluxo de sangue periódico um impedimento de frequentar templos, estudar, ter carreiras e seguir sonhos.

Por isso, o simples nome Fly não poderia ser mais adequado e simbólico para esses absorventes de baixo custo. Declarações como: “Ganhei respeito do meu marido depois que comecei a trabalhar” e “Somos as criadoras do universo”, mostram o paulatino empoderamento das mulheres cujo cotidiano foi alterado pelo simples acesso a um absorvente.

Ao assistir esse documentário, hoje, momentos da minha própria formação enquanto mulher e da relação estabelecida com a menstruação vieram como um flashback. Não é só na Índia que a menstruação é um tabu. Lembro, até hoje, da primeira frase que disse pra minha mãe, na minha menarca: “Eu não quero!”. Recordo, também, da revolta em saber que ali, não havia querer. A pressão social por me considerar, aos 12 anos, uma “mocinha” e o quanto tudo isso me irritava e envergonhava a ponto de esconder o absorvente no meião do uniforme, pra ninguém vê-lo sendo tirado da bolsa, no colégio.

(Fotos: Divulgação / The Pad Project)

De um modo geral, a sociedade está muito longe de absorver a menstruação como algo natural, cada lugar com as suas devidas especificidades. Uma demonstração disso é que, enquanto em alguns lugares um simples absorvente é libertador, em outros, já se discute o uso de materiais como coletores e absorventes de pano, mais ecologicamente corretos. Recentemente, comprei um coletor e que diferença imensa isso fez na minha vida. E fiquei realmente surpresa em descobrir que a estadunidense Leona Chalmers inventou e patenteou, no ano de 1937, o primeiro copo menstrual comercial. Quanto tempo não levou para que eu tivesse acesso a isso? Claro que tenho ciência do aprimoramento da tecnologia, dos materiais, mas soa, no mínimo, como um descaso que, em 2019, muitas mulheres ainda tenham como única opção o absorvente descartável e outras nem mesmo isso.

Calhou de, no Dia Internacional da Mulher, eu assistir esse documentário, que me fez recordar e refletir sobre o ser mulher e o cuidado (ou a falta dele), que é dispensado a nós pela sociedade patriarcal.

Mulheres sangram e, apenas nesse caso, isso é natural e positivo.

E caso queira conhecer o projeto e doar, confira o site www.thepadproject.org ou nas redes sociais como Facebook e Instagram.

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Jornalista por paixão e formação; doutoranda em Jornalismo, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); e mestre em Ciências Sociais, pela Universidade Federal do Maranhão (UFSC). Fascinada por imagens, lugares e pessoas. Feminista desde criancinha!

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