Necylia Monteiro e as reflexões sobre o amanhã da peça “O Rádio”, selecionada no Cenas em Confinamento

A atriz Necylia Monteiro (Foto: Beatriz Ceci).

Alguém, que pode ser qualquer um de nós, que está em casa e vê os dias passando em altos e baixos. É desta forma, refletindo sobre isolamento e confinamento em tempos de pandemia, que surgiu a peça O Rádio, escrita por Necylia Monteiro.

“(…) tentei não atribuir um gênero à personagem [na peça] pensando numa atuação mais aberta”, contou a autora, que é também atriz, malabarista, equilibrista e palhaça.

As cenas da peça são uma contagem dos dias mas sem a ordem cronológica afinal, o tempo tem sido relativo na quarentena, conta Necylia. “Há algo de absurdo no que vivemos, o texto traz um pouco desse absurdo”, acrescenta.

Leia também | “Memórias e Resistência de uma Escola de Teatro”: CACEM é tema de livro de Gilberto Martins

O Rádio está entre as 54 peças selecionadas no concurso de dramaturgia Cenas do Confinamento. Segundo a organização, a seleção foi uma estratégia para continuarem fazendo teatro apesar das circunstâncias, mantendo-o vivo mesmo em tempos tão adversos.

Capa de O Rádio, de Necylia Monteiro.

“O resultado reflete um momento de leitura, pontos de vista pessoais e, logicamente, não pretende ter a autoridade absoluta sobre a qualidade de todos os materiais recebidos”, afirma a organização. O concurso foi realizado apenas a partir da colaboração voluntária de cada pessoa – inscritos/as e leitoras/os – e sem recursos financeiros.

Necylia Monteiro afirmou que soube do concurso através do Facebook e já estava trabalhando no texto influenciada pela situação atípica da quarentena. “A pandemia tem nos trazido insatisfações, angústias e inseguranças com o amanhã, além de acentuar as desigualdades do nosso país”, desabafa a autora.

No último dia 2 de julho, foi realizada uma reunião virtual com os organizadores, autores e autoras selecionados. “Tiramos uma foto que será a capa do e-book, foi um momento ótimo para ver as caras atrás daqueles títulos que foram selecionados. Quando vi a lista percebi que era a única mulher do nordeste selecionada, isso é bastante sintomático pra mim. Não é de hoje que estou atenta às mulheres na escrita, principalmente na dramaturgia brasileira com histórico masculino concentrado principalmente no sudeste, eu sonho com um mundo em que mais mulheres sejam publicadas, mulheres no sentido mais plural possível, negras, trans, indígenas e LGBTQI+”, comentou Necylia.

Leia também | O espetáculo Maria Firmina dos Reis – Uma voz além do tempo

Necylia pontuou ainda sobre manter a dificuldade em manter processos criativos na quarentena e este desafio penoso que tem sido para artistas e projeto como a do concurso. “(…) iniciativas [como a do concurso Cenas do Confinamento] nos aproximam nesse momento de distância”, finalizou.

Necylia Monteiro

Performance O Anjo Infeliz, de Necylia Monteiro, no clipe Cosme Bento, da banda Cofo de Parafernalha (Foto: Reprodução/Facebook).

Artista maranhense de teatro e circo movida pela escrita, Necylia Monteiro é atriz no Grupo de Pesquisa Teatral Cena Aberta/MA desde 2014 e, ainda, malabarista, equilibrista e palhaça no Coletivo O circo tá na rua/MA atuando também como dramaturgista nos dois grupos.

É formada em Teatro Licenciatura pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Mestra em Artes da Cena pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em suas pesquisas, investiga narrativas autobiográficas, arquivos de criação, dramaturgia para infância e procedimentos de escrita a partir dos atores, dos diários, das cidades e da memória.

Leia também | Especial TEDxRuaPortugal: Donny dos Santos e o projeto “O Circo Tá na Rua”

“Atualmente, estou trabalhando num material autoficcional que parte das memórias da minha infância na Liberdade (bairro quilombo urbano de São Luís). Estou resgatando na escrita as histórias que meus avós me contavam, aventuras pelo bairro, lendas e até receitas da família de pratos típicos”, comentou Necylia ao SobreOTatame.

O livro será publicado no próximo semestre pela editora independente O Barong edições (Rio de Janeiro-São Paulo), num projeto editorial que reúne várias autoras ainda não publicadas.

Cenas do Confinamento

O concurso Cenas do Confinamento recebeu um total de 325 textos de autoras e autores das Américas e da Europa. O resultado foi publicado no livro eletrônico Cenas do Confinamento/ Escenas del Confinamiento, pelo selo editorial do Galpão Cine Horto (Belo Horizonte), ficando aberto para o acesso livre on-line.

Gustavo Sampaio é jornalista e radialista. Atua em São Luís como repórter, assessor de comunicação, produtor e editor. Já produziu conteúdo para Imirante.com, Rádio Educadora, O Imparcial, Volts, Governo do Maranhão. É editor-chefe do SobreOTatame.com, além de pesquisador musical e louco por animais.

VOCÊ TAMBÉM PODE GOSTAR

Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais recentes
mais antigos Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários