(Arte: Divulgação).
Quando penso nas palavras, a princípio não sei o que dizer
Deixo o sentimento me guiar e tudo parece florescer
O papel em branco já não é mais,
As palavras começam a se juntar
E o assunto parece se encaixar
Vou falar hoje de perseguição,
Nesse Estado que caça nosso coração
Arte e poesia parece ser a melhor solução
para o que vou falar
É o João que está na escola sendo chamado de” viadinho” pelos coleguinhas
É a Maria que gosta da Luiza, mas está presa no banheiro, agarrada por 4 meninos
é o Alexandre Ivo, que não teve tempo para correr e dizer adeus!
Somos mais de 49
É a Sabrina, Marta, Angélica, Suzanna, Bia, Monique, Carla,
monas, travestis, do pistão
Da solidão, do salão
Do agora parado coração
Sem sangue, sem vida
Somos mais de 49
É tanto corpo jogado no chão,
No mato, feito rato
A prótese arrancada,
Seu pênis? Jogado em meio a estrada
Seu cabelo cortado
É tanta voz silenciada
É tanta morte matada
Não dá tempo de correr!
Não dá tempo de gritar!
Somos mais de 49
É um filho que abraça o pai
É um uma lâmpada na cabeça
Um cicatriz que não se fecha
Por causa dos chutes, você pede pra que o dia amanheça
Estar vivo é a recompensa
Somos mais de 49
É a Amanda que saiu de casa
E esquecida,
Foi lá longe, tentar a vida
E se perdeu
Alguém acolheu, mas nada mudou
É o Lucas que gostava de boneca e lavar louça
Não teve tempo de ajudar mais a mãe
Seu pâncreas foi dilacerado
É o Arthur que defendeu seus pais
Seus dois pais
Mas não resistiu,
Somos mais de 49
É a bíblia que atira feito fuzil
São 318 em um ano no Brasil
É um paredão cheio de drags e afeminado
Que agora sem brilho e cor vestem listrado,
Em preto e branco
O arco íris está marcado!
Sou eu! Você!
Somos mais de 49
Nosso crime?
Amar!
Nosso destino?
Agonizar! Morrer!
Nossa vontade?
Sonhar! Existir! Viver!