Nós e nossas mães: uma reflexão sobre a relação entre mãe e filhas

(Ilustração de Audrey Lee)

Desenvolvendo um novo olhar sobre nossas mães.

Estamos na segunda etapa do #ElaSoT deste ano e começaremos a produzir material para um novo tema. Desta vez, falaremos sobre maternidade. Tentaremos abarcar o máximo possível de perspectivas sobre este tema, que é muito amplo, afinal, assim como as mulheres não são iguais, tampouco a maternidade pode ser traduzida em poucas palavras genéricas. E, pra dar esse pontapé, eu proponho que a gente comece olhando para nossas próprias mães. Vamos focar na relação Mãe & Filha, mas você, homem, pode sentir-se inserido mesmo assim, pois é muito importante que você também avalie como enxerga sua própria mãe. Vamos lá?

Elas SobreOTatame: um espaço para a mulherada soltar a voz

É comum (ou pelo menos imagino) falarmos sobre o quanto a presença (e sua qualidade) ou ausência de uma figura paterna na vida de nós, mulheres, faz diferença em tudo: desde a forma como enxergamos os homens até a maneira como nos relacionamos com eles. Do outro lado, temos a figura materna, que parece ser de praxe imaginar como sempre muito bonita. Pelo menos é assim que a mídia pinta, não é mesmo? As propagandas são recheadas de abraços, amor e muita cumplicidade entre mãe e filhos. Entre mãe e filhas então, nem se fala! As filhas parecem miniaturas da mãe, são sempre melhores amigas, não é verdade?

Não. Não pra todo mundo.

Uma mulher em pé, de cabelo curto e óculos, brincos e colar, está posicionada em pé atrás de uma segunda mulher que tem cabelos amarrados para trás com um laço que está com as mãos no ombro de uma terceira mulher, sentada em sua frente, no chão, cabelo curto, solto.
Ilustração de Audrey Lee


Tem sido mais recorrente em minhas conversas ouvir de amigas e colegas reclamações sobre essa relação: o quanto algumas mães são agressivas, invasivas e injustas em alguns julgamentos ou o quanto elas são dependentes de nós e nos preocupam. Não é incomum inclusive ouvir como resposta: “mas você vai entender quando for mãe” (que eu acho que não é uma resposta muito agradável para todas). Dói ouvir alguns relatos, tento me colocar no lugar da filha que estou ouvindo e confesso, é um pouco difícil pra mim pois tenho um relação muito boa com a minha mãe – longe de ser perfeita, mas que vem sendo construída ao longo desses anos com certa tranquilidade.

Tão importante quanto a figura paterna, a mãe é também muito importante para nossa constituição como mulheres. Em geral, é a pessoa de quem esperamos receber um amor incondicional, toda a atenção, respeito e carinho do mundo. Mas isso nem sempre é natural: a relação mãe-filha nem sempre é fácil, podendo ser realmente dolorosa. Não pretendo neste texto tentar solucionar problemas familiares ou oferecer um conjunto de dicas de como ter uma melhor relação com sua mãe. Não é simples assim. O que posso oferecer aqui são reflexões que talvez nos ajude a compreender melhor nossa própria relação com nossa mãe e assim pensarmos na maternidade que queremos viver ou na maternidade de pessoas próximas a nós que estamos acompanhando.

Pare e se questione (ou questione sua mãe):

  • Com a minha chegada, de que coisas minha mãe abriu mão por mim?
  • O que ela desejava que eu fosse? Eu me tornei isso? Se não, como comuniquei a ela que seria outra coisa?
  • Como minha mãe vê a relação dela com minha avó?
  • Minha mãe queria ser mãe?
  • Minha mãe foi carinhosa comigo? E, independente da resposta anterior, eu sou carinhosa com a minha mãe?
  • Minha mãe participa das celebrações das minhas conquistas pessoais (grandes ou pequenas)?
  • Eu permito/convido a participação da minha mãe nas celebrações das minhas conquistas pessoais (grandes ou pequenas)?
  • Qual qualidade eu mais admiro na minha mãe? Eu tenho essa qualidade?
  • Qual defeito minha mãe tem? Eu tenho esse defeito? Como eu lido com isso?
  • O quanto minha mãe me influenciou e o quanto eu a influencio hoje?

As relações entre mães e filhas não são sempre fáceis como fazem parecer e essas são apenas algumas perguntas que me veem à cabeça como pontos de partida para começarmos a compreender que nossas mães são outras mulheres, são mulheres antes de serem mães, são outras mulheres depois da maternidade, pertencem a uma geração diferente da nossa. Também tiveram uma educação com suas qualidades e defeitos, também passaram e passam por altos e baixos como todas as mulheres. Elas têm dúvidas e desejos, são mulheres que talvez tiveram relações, ao longo de suas vidas, muito complicadas, quem sabe?

A partir do momento em que enxergamos nossas mães como outras pessoas, outras mulheres, podemos lidar com elas de maneiras diferentes e nos livrar da culpa por, às vezes, não respondermos ao que elas tanto quiseram pra nós e sermos mais pacientes e amorosas, além de, se necessário, impormos limites nessa relação, para o nosso próprio bem-estar e melhor harmonia possível na própria relação. Afinal, toda relação familiar pode fazer mal se esses limites e expectativas não forem bem colocados.

Diálogo, união e força no I Encontro Elas SobreOTatame

Há algum tempo, li um texto chamado Seu feminismo chega à sua mãe? (recomendo a leitura!), onde o seguinte trecho fez minha cabeça explodir:

Você vê sua mãe só como mãe ou você a enxerga também como um indivíduo? Um indivíduo que tem vontades próprias, sonhos próprios, traumas próprios, dificuldades próprias, gostos próprios, história própria? Ou você a enxerga como uma extensão de você, anterior a você, cuja identidade e subjetividade se resumem a isso — a ser sua mãe?

Proponho que a gente pense um pouco na nossa relação com nossas mães enxergando essas mulheres como outras pessoas que não estão diretamente ligada a nós o tempo todo. Talvez o princípio do conceito de sororidade (que não é universal) tenha que partir daqui: da primeira mulher com quem temos contato.

Você enxerga sua mãe como outra mulher?

Iniciativa Elas SobreOTatame

Por isso, lançamos o Elas SobreOTatame: o projeto que vai abordar temas do universo feminino ao longo do ano, em textos, podcasts, encontros presenciais e convidados especiais. Tudo isso sob o comando da mulherada do SoT. Fica de olho nas nossas redes sociais para acompanhar!

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Steffi de Castro é psicóloga. Atua em São Luís como designer instrucional e escritora. É redatora no SobreOTatame, escreve e estuda sobre música, feminismo e comportamento. É estudante de tarô, dançarina amadora, podcaster, adora ASMR e a vida offline.

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