Desenvolvendo um novo olhar sobre nossas mães.
Estamos na segunda etapa do #ElaSoT deste ano e começaremos a produzir material para um novo tema. Desta vez, falaremos sobre maternidade. Tentaremos abarcar o máximo possível de perspectivas sobre este tema, que é muito amplo, afinal, assim como as mulheres não são iguais, tampouco a maternidade pode ser traduzida em poucas palavras genéricas. E, pra dar esse pontapé, eu proponho que a gente comece olhando para nossas próprias mães. Vamos focar na relação Mãe & Filha, mas você, homem, pode sentir-se inserido mesmo assim, pois é muito importante que você também avalie como enxerga sua própria mãe. Vamos lá?
Elas SobreOTatame: um espaço para a mulherada soltar a voz
É comum (ou pelo menos imagino) falarmos sobre o quanto a presença (e sua qualidade) ou ausência de uma figura paterna na vida de nós, mulheres, faz diferença em tudo: desde a forma como enxergamos os homens até a maneira como nos relacionamos com eles. Do outro lado, temos a figura materna, que parece ser de praxe imaginar como sempre muito bonita. Pelo menos é assim que a mídia pinta, não é mesmo? As propagandas são recheadas de abraços, amor e muita cumplicidade entre mãe e filhos. Entre mãe e filhas então, nem se fala! As filhas parecem miniaturas da mãe, são sempre melhores amigas, não é verdade?
Não. Não pra todo mundo.
Tem sido mais recorrente em minhas conversas ouvir de amigas e colegas reclamações sobre essa relação: o quanto algumas mães são agressivas, invasivas e injustas em alguns julgamentos ou o quanto elas são dependentes de nós e nos preocupam. Não é incomum inclusive ouvir como resposta: “mas você vai entender quando for mãe” (que eu acho que não é uma resposta muito agradável para todas). Dói ouvir alguns relatos, tento me colocar no lugar da filha que estou ouvindo e confesso, é um pouco difícil pra mim pois tenho um relação muito boa com a minha mãe – longe de ser perfeita, mas que vem sendo construída ao longo desses anos com certa tranquilidade.
Tão importante quanto a figura paterna, a mãe é também muito importante para nossa constituição como mulheres. Em geral, é a pessoa de quem esperamos receber um amor incondicional, toda a atenção, respeito e carinho do mundo. Mas isso nem sempre é natural: a relação mãe-filha nem sempre é fácil, podendo ser realmente dolorosa. Não pretendo neste texto tentar solucionar problemas familiares ou oferecer um conjunto de dicas de como ter uma melhor relação com sua mãe. Não é simples assim. O que posso oferecer aqui são reflexões que talvez nos ajude a compreender melhor nossa própria relação com nossa mãe e assim pensarmos na maternidade que queremos viver ou na maternidade de pessoas próximas a nós que estamos acompanhando.
Pare e se questione (ou questione sua mãe):
- Com a minha chegada, de que coisas minha mãe abriu mão por mim?
- O que ela desejava que eu fosse? Eu me tornei isso? Se não, como comuniquei a ela que seria outra coisa?
- Como minha mãe vê a relação dela com minha avó?
- Minha mãe queria ser mãe?
- Minha mãe foi carinhosa comigo? E, independente da resposta anterior, eu sou carinhosa com a minha mãe?
- Minha mãe participa das celebrações das minhas conquistas pessoais (grandes ou pequenas)?
- Eu permito/convido a participação da minha mãe nas celebrações das minhas conquistas pessoais (grandes ou pequenas)?
- Qual qualidade eu mais admiro na minha mãe? Eu tenho essa qualidade?
- Qual defeito minha mãe tem? Eu tenho esse defeito? Como eu lido com isso?
- O quanto minha mãe me influenciou e o quanto eu a influencio hoje?
As relações entre mães e filhas não são sempre fáceis como fazem parecer e essas são apenas algumas perguntas que me veem à cabeça como pontos de partida para começarmos a compreender que nossas mães são outras mulheres, são mulheres antes de serem mães, são outras mulheres depois da maternidade, pertencem a uma geração diferente da nossa. Também tiveram uma educação com suas qualidades e defeitos, também passaram e passam por altos e baixos como todas as mulheres. Elas têm dúvidas e desejos, são mulheres que talvez tiveram relações, ao longo de suas vidas, muito complicadas, quem sabe?
A partir do momento em que enxergamos nossas mães como outras pessoas, outras mulheres, podemos lidar com elas de maneiras diferentes e nos livrar da culpa por, às vezes, não respondermos ao que elas tanto quiseram pra nós e sermos mais pacientes e amorosas, além de, se necessário, impormos limites nessa relação, para o nosso próprio bem-estar e melhor harmonia possível na própria relação. Afinal, toda relação familiar pode fazer mal se esses limites e expectativas não forem bem colocados.
Diálogo, união e força no I Encontro Elas SobreOTatame
Há algum tempo, li um texto chamado Seu feminismo chega à sua mãe? (recomendo a leitura!), onde o seguinte trecho fez minha cabeça explodir:
Você vê sua mãe só como mãe ou você a enxerga também como um indivíduo? Um indivíduo que tem vontades próprias, sonhos próprios, traumas próprios, dificuldades próprias, gostos próprios, história própria? Ou você a enxerga como uma extensão de você, anterior a você, cuja identidade e subjetividade se resumem a isso — a ser sua mãe?
Proponho que a gente pense um pouco na nossa relação com nossas mães enxergando essas mulheres como outras pessoas que não estão diretamente ligada a nós o tempo todo. Talvez o princípio do conceito de sororidade (que não é universal) tenha que partir daqui: da primeira mulher com quem temos contato.
Você enxerga sua mãe como outra mulher?
Iniciativa Elas SobreOTatame
Por isso, lançamos o Elas SobreOTatame: o projeto que vai abordar temas do universo feminino ao longo do ano, em textos, podcasts, encontros presenciais e convidados especiais. Tudo isso sob o comando da mulherada do SoT. Fica de olho nas nossas redes sociais para acompanhar!