Não sei vocês, mas quando eu era criança existia todo um mundo para ser desbravado e burlar um pouco as leis dos meus pais caracterizava-se como uma verdadeira aventura. Daquelas que tu elaboras o plano com o coleguinha, sai de casa com passos milimetricamente calculados e na sua mente toca uma trilha alá Missão Impossível. Essa trilha:
E o grande plano se configurava no simples: vamos jogar bola?
Bom, fato é que hoje na tão sinistra fase adulta, lembramos dessa fase com uma nostalgia enorme. Das brincadeiras, a inocência das coisas, amizades – umas que perpetuam até hoje – e até um amor juvenil.
Conversando com os amigos sobre essa época, lembramos de várias coisas:
Desenhos animados: TV Colosso e a tão querida TV Manchete resumem bem a aura que existia no mundo da fantasia dos desenhos. (Saudades!).
Jogos: desde os games como Super Mario, Donkey Kong e tantos outros que envolvia o ritual de assoprar a fita para funcionar. Ou a tensão quando você colocava o jogo no PlayStation enquanto carregava. Tipo isso:
https://www.youtube.com/watch?v=zIohSJb5K54
Brinquedos: o nostálgico Tazo, que proporcionava o furor quando vinha ele ou o cuidado que existia nas competições e histórias por trás daquele universo e o imponente Master Tazo. Além disso, quem nunca pirava no programa do Gugu aos domingo quando ele falava da linha de brinquedos dele. Ou os bonecos do Power Rangers, Legos, enfim.
Brincadeiras: Pique-esconde ou esconde-esconde, Gato Mia, Cai no Poço, Rouba Bandeira, Meu mestre mandou, Betty ou tacobol, queimado, amarelinha, brincar de porrada (Fight Club feelings), elástico, STOP e mais um monte.
Filmes: Space Jam, O Jardim Secreto, Os Batutinhas, Lagoa Azul, Os Fantasmas se Divertem, Street Fighter – O Filme, O Pestinha, Elvira e vários outros.
A atmosfera que compunha essa fase é de eterna descoberta, curiosidade e aventuras. Fazíamos muitas coisas sem entender absolutamente nada, mas íamos com a convicção de encontrar algum sentido naquilo tudo. Um beijo roubado daquela garota, a briga com o colega que não quis jogar no teu time ou o eterno sono que habitava a gente quando o assunto era levantar cedo para ir a aula.
Eu era milionário, bastava apenas fazer uma aposta valendo uma cifra milionária e ganhar para protagonizar tal feito entre os amigos e, quem sabe, surpreender aquela garota que eu estava afim. Funcionava? Ás vezes! Mas o que importava era a sensação de ser desafiado.
A mesma coisa acontecia quando, ao chegar da escola, almoçava e ficava martelando se depois dos exercícios, eu ia ou jogar bolar na rua ou ficava vendo desenho animado. Em que, além disso, a noite era uma afronta dormir depois das 20h. Por quê? Era MUITO tarde dormir as 22h.
Por falar em afronta, o título que leva esse post, traduz o que venho falando nas linhas acima. Quem nunca brincando na sua rua, por ordens dos pais, sentiu o gosto de aventura ao dobrar a esquina e descobrir um verdadeiro mundo além de lá?
Pois bem, não quero vir com uma reflexão ou algo similar, apenas um toque sobre o grande questionamento sobre se nós perdemos a aventura da infância a medida que mergulhamos em direção a fase adulta. Não que a inocência foi perdida, o amor platônico por alguém deixou o coração mais blindado ou descobriu que além da esquina existe outra rua igual a nossa. Mas sim questiono a respeito da sensação de tomar a frente mesmo das escolhas e consequências de querer viver algo novo em um lugar novo.
Porque melhor que descobrir novos lugares, novas pessoas, novas experiências, é descobrir que você voltou pra casa com um olhar diferente daquela história que nos originou.
É descobrir que existe um mundo além da esquina da rua e na base que criamos.
Sobre a lista lá em cima: quais foram as coisas que mais marcaram sua infância?
Caraca!!! Viajei muito lendo esse texto hahaha.
Outro dia mesmo eu estava pensando em como esse tempo era massa. Hoje em dia eu fico de férias e fico morgando em casa sem ter o que fazer. Há uns dez anos atrás isso era motivo de “agora posso passar o dia brincando no nosso clubinho”. O clubinho era coisa pra se fazer de manhã, porque a tarde a rua era nossa. Além das mil e uma brincadeiras de correr, outra grande alegria era encontrar giz pra desenhar no chão, nas paredes, nas calçadas…
As coisas vão mudando e a gente nem se dá conta. Hoje em dia a minha rua não tem mais aquele monte de guri correndo de um lado pro outro e pulando muro pra pegar a bola que havia caído na casa do vizinho. Uma galera se mudou, os outros já estudam ou trabalham e etc. O certo é que só nos restam boas lembranças e as lições que só uma boa brincadeira de rua nos ensina.