O Mundo que o Youtube criou – O conteúdo

“Isso é muito Black Mirror”

“O Mundo que o Youtube Criou” é uma série de textos programados para saírem semanalmente, todas às quintas-feira, com o objetivo de explicar e refletir sobre uma das plataformas de maior acesso na internet: o YoutubeAqui, você irá encontrar o primeiro texto, que trata sobre o tipo de conteúdo que hoje é produzido no site e como os direitos autorais e a monetização agem sob esse conteúdo.

Epígrafe

Eu tô por lá desde 20 de outubro de 2007. Quando descobri essa ferramenta, eu era apenas uma criança de 11 anos. Lá, eu descobri coisas que, futuramente, com um estudo específico advindo do curso de Comunicação Social, me foram comprovadas, como: não tem como separar o que é do mundo real e o que é do mundo virtual.

No Youtube, eu aprendi também boa parte das habilidades que hoje me garantem um emprego. Foi lá também que conheci canais que posso afirmar com toda certeza que me ajudaram em vários momentos da minha vida. Eu vi provavelmente todos os layouts do site e vivi diariamente as mudanças que aconteceram na plataforma.

E a plataforma de vídeos começou simples, como tudo na vida. Foi comprado pelo Google e, com o tempo, se tornou uma realidade até mesmo profissional. Acho que o grande marco para plataforma aconteceu na virada da década. Por volta de 2010, conhecíamos figuras como PC Siqueira, Felipe Neto, Cauê Moura. Eles, falando para a câmera, sozinhos em seus quartos, conseguiram alcançar milhares de pessoas na época. Hoje, alcançam milhões.

A Era Youtube

Mudanças aconteceram por lá não só de design, mas também no seu público, no seu produtor e principalmente no seu algorítimo.

No começo, assim como boa parte da internet, o que funcionava no Youtube era a produção de vídeo virais. Naquela época, não se preocupava com aderência, ele só precisava de números expressivos. Assim, surgiram inúmeros casos que todos conhecemos: Keyboard Cat, Crazy Frog, Confissões de um Emo e vários outros.

Atualmente, o Youtube funciona querendo prender sua atenção e tempo. Ele precisa de você durante o maior espaço de tempo possível. Vídeos de 30 minutos, antes algo impensável para internet, se torna o formato que agrada ele próprio. Produzir vários vídeos semanalmente agrada o Youtube. E, acredite, é difícil agradar o Youtube. Os criadores, os tão famosos Youtubers, hoje se deparam com uma plataforma e um público que cobra demais.

Monetização para alguns, likes para todos.

O Youtube em 2006 foi comprado pela Google e começava a disponibilizar o hoje tão famoso Ad Sense para seus vídeos. O Ad Sense é muito simples de entender: o Youtube é uma vitrine; as pessoas produziam vídeos para o ele mesmo e tinham milhares de espectadores; patrocinadores queriam alcançar essas milhares de pessoas; ele recebia dinheiro para colocar esse patrocinador nos vídeos; e quase como uma esmola, o Youtube cedia alguns centavos de dólar para os produtores de vídeo.

A relação era muito simples: quanto mais views e likes, mais centavos de dólar você recebia. No começo, todos podiam monetizar seus vídeos, sem restrição. Mas, é lógico que isso não ia dar certo. Dentre várias problemas que poderiam existir num vídeo monetizado, como o material produzido ir contra as crenças e visões dos patrocinadores, ainda existia o que hoje se torna o mais agravante: o uso de direitos autorais.

Claro, a lei existe e realmente deve ser seguida. Mas a internet em 2010 ainda era um lugar vazio e gélido (hoje, acredito que é só gélido). As pessoas não entendiam a dimensão do uso dessa ferramenta na vida. O Youtube sempre suportou qualquer formato de vídeo e qualquer conteúdo, desde que não fosse contra as diretrizes do site. Mas quando se trata de material de terceiros, sempre houve um porém: os produtores de conteúdo sempre ficaram reféns dos direitos autorais, que corretamente são reivindicados.

Mas para quem produz conteúdo para a plataforma e recebe monetização, isso se torna um problema. Por quê? Porque tudo tem direitos autorais. E quando você tenta ganhar dinheiro em cima do conteúdo de terceiros, o Youtube suspende sua monetização, que passa a ser creditada para o detentor do conteúdo. Ta certo? Tá.

Mas vamos ver assim: se 99% do meu conteúdo é original e apenas um 1% é de conteúdo de terceiros, por que 100% da minha renda vai para terceiros? Hoje o buraco parece que está ficando bem mais fundo, graças ao Artigo 13. É um tema bastante complexo e que daria um outro texto, mas para quem quiser saber mais, indico o vídeo do canal Nostalgia, do Felipe Castanhari (inclusive, me apropriei do exemplo dele).

“Isso não dá Ad Sense

Sim, é bem complicado criar um conteúdo que não tem direitos autorais. Seja a música que você usa de fundo nos seus vídeos, ou um trecho de algum filme que você está comentando, etc. Acredito que boa parte do que aconteceu na plataforma desde então seja por conta disso também.

Vídeos como “Coloquei 50kg de Nutella na Banheira”, “Misturei 100 amoebas e olha no que deu”, “Como fazer o Slime Perfeito” se tornaram cada vez mais corriqueiros na home do Youtube. É difícil criar um conteúdo que seja 100% original. Talvez a máxima do Velho Guerreiro ainda funcione nos tempos digitais: “Na TV, nada se cria, tudo se copia”.

Esse tipo de conteúdo agrada alguns, agrada, principalmente, o Youtube e desagrada vários outros. Inclusive, a internet vive uma onda de ódio nos últimos anos que sem dúvida alguma tem afetado a vida de todos. Em um mundo onde Nando Moura e Olavo de Carvalho são guias de uma geração do YouTube, não era de se esperar o contrário. A plataforma vive uma zona de guerra e vamos discutir isso, na próxima semana.

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Começou na música, foi pra fotografia, fez um pouco de cinema e agora faz os três juntos. Consumidor compulsivo de Youtube e de café. Costuma falar coisas aleatórias mas que até fazem sentido, ama Foo Fighters e criou o projeto Monotonia.

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