“Uma música saiu no suspiro da outra”. Em entrevista à Folha de São Paulo, foi assim que o cantor e compositor baiano Russo Passapusso definiu o processo de criação do excelente Paraíso da Miragem, seu disco de solo de estreia, lançado em 2014.
“Vou te dar um bom motivo/ Vou te dar meu paraquedas/ Pra tu parar de guerra (guerra)/ Pra tu parar de dor (de dor)/ Pra tu parar de medo/ Pra tu pular de novo/ Se joga no chão“, versa o músico em Paraquedas, a faixa que abre o álbum.
Russo começa o disco mostrando que tem muito a falar, a comunicar. Essa urgência moderna cresce por todo o álbum. Em Remédios, é ainda mais explícito: “Porque calaram meu grito de amor (de amor)/ Calaram meu grito de dor (de dor)/ Aqui ninguém mais fala dos motivos de estarmos doentes (doentes)“.
Mas Russo sabe usar as palavras, os ritmos, as melodias e tudo caminha favoravelmente ao seu lado. Conheci o disco – e o artista – pela bela e necessária Flor de Plástico, uma crítica à preferência pela beleza externa (ou seria um desabafo da beleza interna procurando por atenção?), cheia de falsetes, com a linda voz de Anelis Assumpção.
As 12 faixas que compõem o disco mostram a inquietação de um artista sofrendo os males de uma sociedade falida e destruída.
Como Russo enfrenta a dura realidade? Como buscar um paraíso diante de uma miragem escancarada? Com poesia, sua melhor (e não única) arma.
A guerra encarada por Paraíso da Miragem se mistura ao samba, rap, brega, rock, soul, e traz um dos melhores discos da música brasileira desta década.
PS: Gostou de Paraíso da Miragem? Então ouça, também, os demais grupos que Russo participa (Baiana System, Bemba Trio e Ministereo Público) e Japan Pop Show, disco do Curumin, que é um dos produtores do álbum de estreia de Russo.