Essa é a foto feita pelo ex-integrante da equipe do SOT e amigo da vida, Pedro Henrique, que foi destaque no portfólio da Vogue Itália (Foto: Pedro Henrique/Reprodução).
Comprei minha câmera por amor à arte, quase da mesma forma que fiz com minha guitarra e com minhas canetas bico de pena.
Nenhuma dessas ferramentas são obrigações diárias, tem dia que levanto e finjo que não as tenho, tem dia que cabe um acorde, ou um retrato da lua no vazio do meu peito. Sim, para mim, a literatura, a música e a fotografia são o Prozac do existir, mesmo sabendo que qualquer definição beira o abismo da pretensão; excessos têm seus charmes, mas muito excesso é sobra, e só.
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Aguardei as férias para descansar, coloquei a câmera nas costas e fui ver o mar. Não fui só, de vez em quando gosto de endereçar convites para pessoas dispostas a modelar em ensaios de última hora. Não recomendo a ninguém…
Ainda que eu reconheça que morre um metódico para cada ensaio não planejado, de última hora, arrisquei alguns cliques. Não pensei em quase nada neste dia, e carreguei, no bolso, apenas algumas poses experimentais que não costumo tentar em ensaios comerciais. Quando tentávamos uma que ornou com o cenário, lembro de eu ter gritado para modelo: “pára, não respira, é isso aí”.
Passei despercebido do registro, fui dar conta quando, uma semana depois, iniciei a edição. Neste processo, há algo curioso, eu crio um padrão para todas as fotos e, mesmo assim, acabo por gostar mais da primeira. Não sei se é o cansaço que vai me ganhando, ou se há algo mais passional na escolha inicial. A primeira foto sempre fica com um ar diferente.
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Depois que terminei a edição, fiquei meio bobo olhando a foto, como quem termina de compor e se embala com a canção.
Poderia ser a capa de uma revista? Talvez sim. Apesar de que acho que as fotos encaixam melhor em molduras e paspatur.
Por falar em revistas, outrora, eu já havia tentado submeter uma foto ao site da Vogue Itália, como não obtive sucesso, foi um ótimo motivo para minha auto estima eliminar qualquer nova tentativa. Mas meu lado persistente me deu uma rasteira, antes que eu pudesse acionar o botão do medo.
Upload concluído.
Os 10 minutos mais demorados da minha vida profissional como fotógrafo.
Meu lado incrédulo gritava: eles vão descartar outra foto que tu passou horas editando.
Meu lado otimista dizia: é hoje, meu filho, teu momento de brilhar chegou.
Minha esperança, que morre com um sopro, não morreu. Meu perfil tinha uma foto, eu não queria acreditar. Comecei a tremer, a Vogue tinha aceitado uma submissão minha.
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Plantei uma árvore.
Comecei a escrever um livro.
Tinha uma foto minha no Portfólio da Vogue.
Fiquei com a sensação de que se eu fizesse um filho, poderia morrer em paz.
Mas logo agora? Agora não.
O sentimento de ser reconhecido profissionalmente por curadores de uma das maiores revistas de moda deve ser parecido com o desempatar do final do campeonato aos quarenta e cinco do segundo tempo no Maracanã, mesmo para quem fez gol contra. A glória nem sempre entra pela porta da frente.
Alguns amigos perguntaram: e agora, tu vai embora, vai ficar rico?
Não, apesar de que eu não acharia uma má ideia.
Tem gente que emplaca foto toda semana e continua sussa. Eu ainda estou surtado, sempre me empolgo com pequenas vitórias no dia a dia. E é aí que eu acho a graça das coisas.
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O que de fato importa aqui, é que num clique coube amor, leveza, paz, expectativas, planos e sonhos. Assim também, como já vi caber uma tonelada de frustração.
Pode parecer piegas, mas os nossos ídolos já pensaram em desistir mais de uma vez. Faz parte do processo, a gente é que só quer vê o meio do caminho. Ignoramos a “ralação” e a dor porque é cômodo acreditar que cada um segue predestinado a brilhar em alguma coisa. E isto pode até ser uma verdade, mas o caminho do aprendizado está aí para todo mundo.
Hoje, eu pisei nos primeiros degraus da jornada depois de alguns tombos, espero que eu siga lutando neste caminho até quando tudo isso fizer sentido para mim.
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Para vocês que sonham, eu deixo um abraço e o incentivo de um outro sonhador.
Agora, deixem que eu volte para a realidade.
Câmbio, desligo.
Ps¹: que a leveza deste dia seja o motivo da nossa ligação. Obrigado, Ju, pela companhia deste dia.
PS²: aqui o vídeo de como foi a tarde que resultou na foto e no relato acima: