Primeira viagem do ano, primeira vez que faríamos de outro lugar um lar temporário. Sentamos e conversamos com nossa jovenzinha interior e discorremos sobre os prós e os contras de se estar sozinha em outra cidade. A bichinha, tinhosa toda, teimou numa ansiedade sem fim até o dia de partir. Voamos, a menina e a mulher em uma só, e chegamos em Salvador, Bahia. Quem bem conhece a moça que escreve esse texto, sabe do chamego dela com essa terrinha baiana. Se apaixonou em 2015, quando cá esteve pela primeira vez, e mesmo em dois mil e dezessete, esse lugar ainda faz seu coração entrar em descompasso.
Salvador é um encanto. A cidade sozinha já nos deixa perdidos de amor, como bem cantou Edson Gomes. Foi a primeira capital do Brasil, e é capital do Estado com o mais extenso litoral do país – e um dos mais lindos, pessoalmente falando. Menina dos olhos de Caetano, rica em história, cultura e arte, tem Axé pro ano inteiro. Com a permissão do mestre Caymmi, reformulamos a pergunta e respondemos: O que é que Salvador tem?
Tem um povo educado e acolhedor, tem! Tem praias e um verão quente de dar gosto, tem! Tem religião e fé, tem! Tem diversidade, tem! Tem acarajé e abará, tem! Tem uma culinária maravilhosa, Tem! Tem jazz ao Pôr do sol, tem! Tem cervejinha gelada, tem! Tem história, tem! Tem cultura e arquitetura de dar inveja, tem! Tem amor, tem! Tem muito mais, tem. E não deixando de lhe fazer jus, completamos com o próprio Caymmi: Quem não tem balangandãs não vai ao Bonfim.
Não bastando ter tudo isso, a cidade quase rouba o coração dessa moça de vez. Agora, sem mais delongas, vamos aos lugares que quase nos convertem em uma Ludo-Soteropolitana.
Jam no MAM
Acontece aos sábados no Museu de Arte Moderna da Bahia. Chegando por volta das 17h30 dá pra ver o Pôr do Sol que, até o momento em que essas palavras tomaram vida, ainda não havia uma descrição forte o suficiente, mas aviso: é de fazer o coração balançar na hora. O Som começa às 18h, de frente pra Baía de Todos os Santos, e fica por conta da banda local Jam no MAM que leva o nome do projeto, no melhor estilo Jam Sessions. Os músicos presentes chegam junto, sem ensaio prévio e fazem aquela coisa gostosa do Jazz, tema e improvisação ecoando com o “sotaque baiano”. Baiano sabe produzir música boa, mas isso vocês já sabem.
Ô Pêlo, Ô Pelourinho!
Uma das vantagens de viajar sozinha é poder ter a chance de observar a cidade sob o teu próprio ângulo. Descer pelas ruas de Santo Antônio Além do Carmo até o Pelourinho e finalizar no Elevador Lacerda, foi uma experiência nova e engrandecedora, ao observar as pessoas, ruas, casas, igrejas e a dinâmica de uma cultura tão semelhante, mas sem deixar de ser singular. Descemos e imaginamos que, em cada canto, havia uma história. Foi maravilhoso!
Arriscando parecer muito de casa, vai uma dica de um lugar lindo por lá, pode ser pra almoçar, tomar uma cervejinha, um café ou um sorvete. É o Cafelier, que fica em Santo Antônio. Um mistura de café com ateliê, os móveis antigos, os quadros em exposição, as porcelanas e a vista garantem o charme e o deslumbre do visitante. Talvez a dúvida seja escolher entre o que é melhor: o café, o ambiente ou a vista para a Baía de Todos os Santos. Votamos nos três.
A Boêmia do Rio Vermelho
Nossa impressão do Rio Vermelho é que com tantas opções, acabamos por querer tudo. Imagine só, é verão em Salvador, o lugar tem vida própria durante a noite. Barraquinhas de acarajé, bares, restaurantes, pessoas e movimento constante. Pulsão!
Voltamos tentando responder ao Nelson Rodrigues: “Partiu daqui tão contente, por que razão quer voltar?”. Deve ser meu caro Nelson, porque das vezes em que lá estivemos só soubemos ser felizes, e felicidade nunca é demais. Na minha viagem anterior, em 2015, já havia conhecido o Espaço Cultural Casa da Mãe. Dessa vez, fui ao Chupito Bar e ouvimos de uma voz muito confiável que o pôr do sol da Torre do LaLá é sensacional – anotem as dicas e voem para minha Salvador .
Casa do Rio Vermelho – O Lar do Amor de Jorge Amado e Zélia Gattai
O lugar que mais cativou e nos fez suspirar. Andar pela casa foi como viver o romance dos dois de forma “presentificada”. Tudo simples, porém elegante e transpirando história até os poros. Um Templo, ousamos dizer.
Durante as horas que percorremos o lugar, imaginamos as reuniões entre amigos, pessoas que como Neruda, Saramago, Tom Jobim, Simone de Beauvoir, e naquele momento ansiamos por ter um “vira-tempo” e pela oportunidade de vivenciar esses momentos. A casa inteira é uma obra de arte, desde os azulejos pintados pelo artista plástico Carybé até os pratos da cozinha com poesias do músico Tom Zé.
Há tanta história, do Jorge, o militante, político, religioso. Da Zélia, mãe, corajosa, mulher, jornalista, bordadeira, fotografa, ocupante da Academia Brasileira de Letras como também foi o Jorge. Os dois estão descansando no jardim da casa, não imagino melhor lugar. O lugar vale um post exclusivo, por que não? Só não deixem de ir até lá.
Um amor chamado: Culinária Baiana
Já prendemos por demais a atenção do nosso leitor, mas aqui vai uma dica de um restaurante que elevou nosso paladar, além daquela coisa maravilhosa tipicamente baiana, também conhecida como acarajé.
O Paraiso Tropical, merecidamente premiado, sob o comando do Chef Beto Pimentel. Toda diferença está no preparo da comida que abre mão dos industrializados por itens naturais, extraídos do pomar do próprio restaurante. Na dúvida, peça a moqueca que é surrealmente maravilhosa. Uma das melhores que já provamos.
E tendo derramado amor nesse texto, logo a despedida bate à porta novamente e, dessa vez, vamos embora sem saber se ou quando voltaremos. Mas torcendo para que o universo conspire a favor e nossos caminhos se reencontrem.
Deixando um pedacinho do coração e levando um bocadinho dessa baianidade. Obrigada, Salvador, por todas as experiências, de 2015 a 2017. Muito axé pra ti, muito axé pra nós!