“Fadem-se os contos, por favor
Sereia, andorinha, flor no começo do caminho certo
A seguir, quando setembro chegar
Os corações vão florescer só pra depois despetalar”
Vrummm…
Enfim, voltei.
Andei em outro mundo, mas dessa vez fui a pé. Deixei o Fusca na garagem e o coração a sete chaves debaixo do colchão.
Como andam as coisas por aqui? Senti falta de vocês. Mas dos outros motivos, papearemos numa mesa de bar ao som de um samba de raiz. Mesmo sem um gole de uma gota de álcool da minha parte, faço questão que os encontros sejam menos digitais e menos digitáveis.
Tenho outra coisa para confessar, esta coluna do Sobre o Tatame não leva só o meu nome, por trás, tem muita gente que me manda sugestões de música, em especial, um amigo que desenvolveu a ideia de misturar ronco de motor com batimentos assimétricos de sons alternativos. Escrevo esse texto no dia do seu aniversário, muito embora, ele será publicado em outra data e talvez leve consigo uma outra frequência. A você eu deixo aqui meu singelo Parabéns, Danilo Palavra. Ah! E claro, a incrível equipe do Sobre o Tatame, meu muito obrigado.
Era uma noite dessas quaisquer, que eu ficava madrugada invertida a dentro, papeando no meio dos trabalhos e prazos impossíveis. Era tudo para ontem. Na mesma velocidade que eu desejava fugir do mundo das responsabilidades, digitava do outro lado um amigo maranhense que estava em Curitiba. Danilo sempre teve ótimas ideias, mas o que estava por vir mudaria a remada de um velejador perdido.
À deriva. (Parte 1).
Danilo Palavra: – Pedro, por que você não tenta misturar as idas e vindas por aí no Fusca, e tudo que você gosta de ouvir? Ficaria algo muito mais interessante do que simplesmente falar de música. Não que vá ser algo jogado, sem apreciar as técnicas, mas não precisamente falar do que sai dos dedos de um guitarrista, e sim, por que sai.
Pedro: – Tu fala sobre escrever algo na pegada de uma crônica?
Danilo Palavra: – Sim, tudo junto e misturado.
Eu acredito na física quântica e acredito no semáforo, como na música do Vanguart. E sempre que lembro das conversas que tive com meus amigos, parece que a minha outra frequência, a parte ociosa e enraizada de mim, pega o trem para o outro mundo. É bem aqui que acontece a mágica.
Terra a Vista. De volta a ilha de São Luís (Parte 2).
Dan: – Eu não tenho problemas com esses caras, só acho que é muito “amorzinho” e não parece muito com a galera daqui.
Pedro: – Dan, cara. Eu até gosto, mas já que tu problematizou, o que tu me sugere?
Dan: – Já ouviu François Muleka?
Agora eu pergunto a vocês: já ouviram o François?
Para esta noite eu separei palavras delicadas, mais que o de costume
Pr’uma mão vir me proteger feito um guarda-chuva
Parece bobo ou louco, eu sei, falar do terno azul que usou meu pai
Mas pode ser que o amor me agarre pela gola
Pode ser que eu tire a blusa
Pode ser que o amor me tape com uma burca
Pode ser que eu fique nua
Fazia tempo que uma onda simétrica não parecia tão perfeita. Parece que eu andei surdo até outro dia. Os ouvidos abrem os poros. Os poucos motivos de sorrir vira o muito que se pede todo dia de manhã. François tem tanta emoção numa levada tão calma que parece um mantra. E todo mantra precisa ser exercitado. É como o pão com café ou o chá verde de todo os dias às 6 da manhã.
Pequena nota esclarecedora: François Muleka nasceu na cidade de São Paulo e foi benzido na Bahia, nas águas do Rio de Contas. Filho de pais congoleses do Kasai (África), os professores universitários Múleka Ditoka (compositor e multi-instrumentista) e Mwewa Lumbwe (cantora e dançarina). Na década de 1990 seus pais realizaram um trabalho de divulgação da cultura africana pelo Brasil intitulado “Fiesta Africae”, com isso passou por diversas cidades brasileiras. Cursou Letras-Alemão na Universidade de Santa Catarina (USC) e Pedagogia na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). (Fonte: Dicionário MPB)
François faz jus a mistura que o trouxe a vida. Ele é multi-sons, ele é o reflexo da nossa cultura e da nossa origem traduzida em muitas notas, em inversões de baixos e dissonantes. Grandes possibilidades. É possível que ele seja o próximo grande artista que a gente vê o espelho. É possível que ele fique guardado apenas no favorito do navegador. Mas a única certeza que tenho desse encontro é que jamais passará despercebida uma única melodia natural, o canto dos pássaros numa mangueira perto tua casa, vai parecer parte do próximo EP, quando, em sincronia, soarem. O som é simplesmente Genial.
Léo Fressato e François Muleka
E assim, eu fico por aqui…
É importante espaço para tempo, é necessário tempo para tão pouco espaço. Que o som seja um guia para o que vocês procuram, ou seja o momento de que nada mais importa.
Parafraseando Sfânio: Sentir é foda né?
Cambio, Desligo
Namastê
PS¹.: Texto escrito em homenagem a Danilo Palavra, um dos idealizadores do Som que Rola Agora no Fusca 86.
Dan te desejo as melhores ideias e notas possíveis. Tu és um grande amigo e pessoa que eu muito admiro. Que teus dias sejam repletos de Luz. Obrigado pela ideia do blog, e pela amizade!
PS²: Aproveito para deixar os meus parabéns para os amigos Jaca e Carlos que completam mais uma primavera por essas bandas de abril.
Que os melhores ventos os guiem. Força fé e luz para vocês, gurizada!