(Foto: Jonas Sakamoto / Equipe SobreOTatame.com)
A todo instante estamos nos movimentando e estabelecendo conexões com o lugar em que vivemos e com as pessoas com as quais nos relacionamos, essa diversa teia de trocas, compõe uma imensa colcha de retalhos, que chamamos Cidades. Agora, imagine, qual seria a sua cidade possível, qual seria a cidade ideal? Foram essas instigações que estiveram presentes no Seminário Cidades Inteligentes para a Sustentabilidade, ocorrido nos últimos 18 e 19 de outubro em São Luís, promovido pelo Instituto Maranhão Sustentável, em parceria com o Instituto Alaschaster e apoio institucional da Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão e ONU-Habitat.
Refletir sobre cidades inteligentes para a sustentabilidade é, sobretudo, um exercício de descolonização e abertura para as múltiplas inteligências, relações e nuances que compõe o aspecto vibrante e difuso das cidades. Hoje, a maior parte da população brasileira vive em áreas urbanas, segundo dados do último censo do Instituto Brasileiro de Estatística (IBGE), e as regiões metropolitanas tendem a crescer, a de São Luís é composta por 13 (treze) municípios e no seminário estavam presentes alguns deles, como, São Luís, Raposa e Alcântara.
Estive presente no seminário que teve inicio na sexta-feira (18), no auditório Neiva Moreira, na Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão e que teve em um primeiro momento a apresentação do painel sobre múltiplas visões para uma cidade inteligente, com mediação de Luzenice Macedo, do Instituto Maranhão Sustentável.
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Algumas experiências foram compartilhadas, práticas concretas e possibilidades para a construção de cidades inteligentes. Além disso, foram apresentadas pautas como empreendedorismo social, políticas públicas de cultura e apresentação do programa “nosso” centro pelo Secretário de Estado das Cidades e Desenvolvimento Urbano (SECID), Rubens Pereira Junior, fomentaram os debates, contudo, tão importante quanto compreender as dimensões coletivas de uma cidade, se faz necessário resgatar que a apropriação do espaço público e o sentido de pertencimento a uma cidade, perpassa primeiramente pelo aspecto interior das identificações.
Logo, como bem salientou, André Lobão, Consultor em Economia Criativa do Sebrae e também integrante deste painel, “é imprescindível haver um resgate da nossa ancestralidade, para que possamos reaprender com os seus ensinamentos”.
O ato de reaprender com a ancestralidade nos diz sobre a reconhecida insustentabilidade da vida em cidades como conhecemos atualmente, e do urgente clamor, por repensarmos nossas relações com as pessoas e com o meio, para assim chegarmos a uma Cidade Encantada, com espaços que sejam convidativos ao apreciar e contemplar, com praças em bom estado, com ruas que sejam um chamado ao caminhar a pé e andar de bicicleta, que respeita seu povo e suas memórias, mantendo firme por exemplo terreiros de religiões de matriz Africana. Isto sim, é uma cidade que acolhe as humanidades pungentes e se colore de incontáveis inteligências.
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A grande provocação do Seminário era que a partir de uma reflexão pessoal nos levasse a pensar: “Qual o meu desafio para a construção de uma Cidade Inteligente?” e “Qual o cenário ideal, o cenário de sonho, para que ela se manifeste?”, esse foi o mote que permeou o segundo momento do encontro na sexta-feira (18), a partir da metodologia de fluxograma 4D, idealizada por Lala Deheinzelin, que nos levou a refletir a partir do que temos e do que precisamos para tornar essa cidade possível. Os desdobramentos dessa reflexão se intensificaram na imersão ocorrido no sábado (19).
O mito da sustentabilidade
Voltando ao título, há muito reflito sobre essa tão propagada sustentabilidade, ou melhor mito da sustentabilidade, da qual, compartilho das ideias de Ailton Krenak, “o mito da sustentabilidade, inventado pelas corporações para justificar o assalto que fazem à nossa ideia de natureza”, e nos força a pensar que existe um nós e a Terra, distantes, e incomunicáveis, da mesma forma que Krenak, entendo que tudo é natureza, não há separação entre nós e o Cosmo, logo, uma Cidade para a Sustentabilidade, é uma cidade que se compreende una com a Natureza, e não tenta fazer Dela submissa.
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Após tantas ideias de Cidades possíveis a imersão no sábado (19), que ocorreu na sede do Instituto Maranhão Sustentável, situado na Raposa, trouxe um panorama para a materialização dos discursos levantados, utilizando a metodologia de laboratório e circuito. Conforme as suas vocações, as pessoas escolheram livremente em qual cenário gostariam de contribuir.
O laboratório pensou a partir dos talentos que ali estavam e como cada um poderia contribuir com seus dons para essa cidade e o circuito refletiu a partir da perspectiva de tornar realidade o que fora pensando no laboratório.
O Seminário foi uma oportunidade de encontro de diversos grupos, coletivos, projetos e empresas, que pensam e agem nesse organismo vivo que é a Cidade: Curiá Construções Sustentáveis, Instituto Maranhão Sustentável, Casa D’Arte Centro de Cultura, Demodê, Ecosound, OCA Maranhão, Projeto Rumbora se Amostrar, Reocupa e Conecta Oceano, são exemplos de algumas iniciativas que estavam presentes e que a partir de incontáveis perspectivas contribuem para a construção de uma cidade mais humanizada.
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E assim à sombra de uma mangueira demos o primeiro passo em conjunto para multiplicar as iniciativas e ampliar a rede de conexões que pensam e atuam nas cidades.
Por fim, ao pensar sobre cidade inteligente penso que é aquela que tem por prioridade às pessoas, uma cidade que se orienta pela vida, que se nutre no afeto, onde as pessoas se reconhecem e se percebem integrantes de um tecido social e assim compartilham seus talentos com a comunidade, pensando no bem comum para o bem viver.
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E para você que chegou até aqui nessa tear de palavras, o que seria uma cidade inteligente? Qual o seu sonho possível para ela? Se quiser continuar inteirado das próximas ações e se juntar a esse diverso grupo que está pensando as cidades, continue acompanhando o www.maranhaosustentavel.org.br/cidades-inteligentes e @maranhaosustentavel para maiores informações.
Texto feito pelo jornalista Gustavo Sampaio, em colaboração com a advogada Marcella Medeiros.
Nota editorial: o SobreOTatame.com é um site que produz conteúdos de cidadania, comportamento e cultura. Por meio dos conteúdos que publicamos, acreditamos na informação como força de educação e discernimento, desta maneira, abrimos espaço para profissionais que possam tratar de temas mais especificamente.