Ainda Escuto Álbuns #4: o talento “Special Power” de Paulão num presente só!

Capa do EP Special Power, de Paulão. (Arte: Brenda Maciel/Divulgação).

Há quase uns 15 dias, eu estava conversando com Paulão sobre música e ele gentil e carinhoso me mandou o EP que já estava pronto pra ouvir e, olha a honra, falar o que achei. Fiquei lisonjeada e passei, sem nenhuma mentira, dois dias seguidos ouvindo sem parar.

Depois disso, não tive outra atitude a não ser a de exaltar Paulão, esperar ansiosamente pela liberação de alguns singles nas plataformas de streaming e compartilhar tudo o que saísse com o máximo de pessoas possível. Porque, olha, realmente está muito bom.

No primeiro álbum de Paulão, de 2016, chamado Faz escuro mas eu canto (ouça aqui), já é possível sentir a malemolência brasileira em algumas faixas, mas só agora, com o EP Special Power, posso dizer que de fato estou conhecendo quem é Paulão de verdade, afinal,o trabalho é praticamente 100% autoral: Paulão é produtor das faixas, compositor e o intérprete, que já conhecemos.

Com uma presença de palco enorme, não só pelo seu tamanho (que não tem como não citar, ainda mais eu, com meus míseros 1,53cm), mas principalmente porque ele faz o público crescer junto, cantando e dançando o que cria. Eu tenho a tendência de medir um artista pela balbúrdia que ele causa no público e Paulão faz isso naturalmente.

Publicamente, já foram feitos agradecimentos à presença da Casa Loca, na figura de Adnon Soares, na produção tanto de Faz escuro mas eu canto como em Special Power, só que desta vez a contribuição foi mais numa perspectiva de afinação do que Paulão já tinha trabalhado. Ou seja, temos um Paulão in natura, meus queridos (literalmente, pois a produção feita em casa, a casa onde cresceu, traz à tona um artista focado em si mesmo e em suas referências pessoais).

Autenticidade é isso: quando a gente é o que é, de verdade, o que é pra ser nosso, vem e o que é pra ficar bom, fica. Sem mais.


Pra quem não lembra, Special Power, lançado ainda ano passado, foi o primeiro single desse EP, com direito a um clipe maravilhoso, onde a cultura maranhense transborda por meio de texturas, imagens, pessoas e danças captadas pelas lentes e olhos sensíveis de duas mulheres incríveis da nossa cidade: Ingrid Barros e Dani Lopes.

Depois da faixa-título, o single seguinte a ser divulgado foi Bateku, com participação mais que especial de VINAA, que vem movimentando o cenário musical (e de produção musical também, importante ressaltar) em São Luís tanto com seu trabalho autoral quanto cantando no Bloco de Carnaval Escangalhada, que ouso dizer que já não mais se resume a isso e promete ter atuação durante o ano inteiro (o que ninguém vai reclamar, obviamente)!

Conheçam o Paulão e suas várias facetas em Special Power. Ouça abaixo:


Faixa a faixa em poucas palavras

Primeiro, quero dizer que conversei brevemente com Paulão sobre a produção do EP, mas em nenhum momento sobre as músicas em si. Portanto, aqui vão minhas próprias elucubrações, dignas de correção, obviamente.

Lágrima Luz: a melodia é dançante e até mesmo sensual, mas a letra me mostra alguém incomodado, alguém que se denomina como “uma ausência cordial, angústia que arde em mim” não deve estar tão contente com sua inaptidão para reagir de maneira diferente e mais leve diante de uma explosão de sentimentos. Novas paixões fazem a gente querer repensar nossos caminhos de amar, não é?

Leve Como Breve: tem a participação de Jessica Góis, parceira de Paulão há algum tempo, com quem dividiu o palco na querida Pedeginja (que falta temos dela!). Foi a primeira música que ouvi do EP completo e, de primeira, me remeteu ao Jorge Ben Jor mais recente. A música, como diz seu próprio título, é leve, tranquila e fala também de uma presença leve e pacífica, de alguém “que das miudezas brotam tuas belezas, custo a acreditar como é bonita, sem promessas prontas teu tempo presente já me satisfaz”. É basicamente: vivendo o hoje, sem grandes pretensões.

Special Power: em tempos de ódio e intolerância, Paulão nos presenteiam com uma música para dançar e cantar com todo fôlego o quanto ainda são as pequenas coisas as que são mais poderosas e transgressoras: o amor, o abraço e os laços. E aos que tentam impedir que isso aconteça: “ -Fora !,não passarão nessa praça -Fora!, não calarão nossa graça”.

Bateku: fale o que quiser, mas ninguém se segura quando escuta a batida de um funk, de um forró desgraçado, de um brega lascado, de um bateku. “As forças normativas” piram, porque não são tão fortes assim diante de um bateku! E eu mesma já aceitei isso.

TQT: sigla para Tô que Tô, conhecida como um forró na voz do Tiago Máci (ou seria um xote? me perdoem que ainda preciso estudar mais pra saber diferenciar numa batida só xote, forró e baião! haha), aqui ganha o ritmo do reggae, consagrada na jamaica brasileira. E fala basicamente sobre aquela paixão desenfreada e as fraquejadas da carne.

Steffi de Castro é psicóloga. Atua em São Luís como designer instrucional e escritora. É redatora no SobreOTatame, escreve e estuda sobre música, feminismo e comportamento. É estudante de tarô, dançarina amadora, podcaster, adora ASMR e a vida offline.

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