Um álbum para trazer à tona as sensações que não sabemos nominar.
Conheci O Terno em 2015 ou 2016, não me lembro muito bem. Fui a um show deles aqui em São Luís (que inclusive talvez tenha sido um dos mais “estranhos” pra eles, rs). Foi fantástico. Tenho vontade de vê-los novamente.
O penúltimo álbum lançado, Melhor do que Parece (2016), já traz um pouquinho dessa sensação estranha que acho que é típica dos nossos dias. Depois disso a banda deu uma leve pausa para o Tim produzir seu álbum solo, que inclusive também super recomendo (com lencinhos, por favor).
Agora, em <atrás/além>, a banda vem com músicas amarradinhas, basicamente todas falam de conflitos existenciais, não necessariamente por amor (como foi mais marcante para mim no trabalho solo de Tim, Recomeçar, e em Melhor do que Parece), mas por um sentimento de não encaixe, de mudanças, de uma vontade gigante de sair, de se mover, mas também de descansar, meditar e mudar.
Algumas músicas inclusive transmitem essa sensação de contrários por meio dos títulos, uma vibe meio Paulinho Moska, o rei dos contrários rs: Atrás/Além, Passado/Futuro, Profundo/Superficial, Nada/Tudo e até Pra sempre será, que tem “sempre” no título, fala um pouco também do fim e do que resta dos fins.
Ouvi os dois primeiros singles lançados antes do álbum e era como se falasse comigo: o jovem que está quase nos seus 30, ou já nos 30. Hoje em dia, o que são os 30? Não somos tão jovens, mas não somos velhos. Temos lembranças de Sandy & Junior e BackStreetBoys, mas também gostamos de Belchior e sentimos falta dele, somos viciados em Caetano e Gilberto Gil, que conseguem respirar e respeitar muito bem nosso tempo ao se comunicarem conosco por meio das redes sociais e de uma produção constante e sólida.
O <atrás/além> desperta em mim esses sentimentos: de que estamos em um ponto da história e das nossas vidas, nesta geração, onde nem sempre conseguimos nos definir, e isso cansa, inclusive.
Ouvindo, parece que estou vendo o meu feed no Instagram: mensagens e mais mensagens me indicando meditação, autoconhecimento, autocuidado… Ao lado de tantas outras mensagens e mensagens gritando em meu ouvido “Vá atrás! Não fique parado!”.
Faixa a Faixa em Poucas Palavras
Tudo Que Eu Não Fiz: Tim Bernardes fala sobre os tantos começos e recomeços que temos ao longo da vida e no trecho “Eu tive tudo, e não parei/ Talvez, no fundo, eu goste mais de procurar” o que de mais precioso existe na vida aparece: o desejo. É o desejo que faz a gente continuar querendo viver, a gente não consegue ficar preso em um final feliz, enjoa. Não sei se isso é geracional, mas é real. Pra uma pessoa com sagitário predominante no mundo, é muito verdadeiro cantar a plenos pulmões: “Eu quero ficar velho, eu quero tudo o que eu não fiz!”
Pegando Leve: não são poucas palavras, escrevi um texto outro dia só sobre essa música, assim que ela foi lançada no spotify: https://medium.com/@steffidecastro/n%C3%A3o-t%C3%B4-pegando-leve-f63ed643413c Inclusive, esta já tem clipe no YouTube, que está muito bonito!
Eu vou: a gente tá vivendo o boom da depressão, cada vez mais jovens se suicidando, estamos vendo nossos ídolos da música morrerem, a política ruindo o país, as universidades em crise: não tá fácil. O mínimo que a gente pode fazer por nós mesmos é, por mais clichê que seja, tentar um pouco de pensamento positivo (na moral, surte efeito sim). “Eu vou” é uma canção tão simples, quase de ninar, que nos ensina a celebrar essa incerteza da vida, a vida por ela mesma, apesar de tudo, “Eu vou comemorar/A vida, a morte, o tempo e o sonho/Vou em paz, tudo termina e recomeça/O tempo é firme e segue em frente/Quero mais, pois só sonhando a gente inventa/E sai com algo diferente”.
Atrás/Além: a música que dá nome ao álbum, um movimento de olhar para trás, lembrar do que aconteceu, reconhecer a importância do passado e de saber olhar pra frente, vendo mais além. Talvez seja uma música que fale da importância de às vezes termos que nos desprender daquilo que parece ser muito certo, uma relação, por exemplo, pra irmos em frente ver o que a gente pode ser sem tudo isso que a gente já tem e que nos acomodamos a ter… “Milhas e milhas distante/Anos e anos depois/Muita, mas, muita esperança/Você tenta?/Você tenta também?”
Nada/Tudo: esta também foi uma das músicas lançadas antes do álbum completo. O trecho “Nesses tempos de chegada, nesses tempos de partida/Aceitar a caminhada, não temer a despedida” meio que me diz aquilo que precisamos tanto aprender: deixar fluir. Nada de criar tantas expectativas, idealizar tanto… Mas também nada de fugir do que se sente: aceitar a caminhada, não temer a despedida.
Pra Sempre Será: como eu falei, mesmo quando fala do “sempre”, fala também do fim. Aqui a letra fala daquele amor que talvez alguns de nós já tenham vivido, e mesmo findado, existente ainda. “Mas quando é pra sempre, pra sempre será/Mesmo que acabe, não vai terminar/Pois no final, na conclusão/É bom ter tido um amor de verdade/Que bom ter tido um amor de verdade/Levar comigo um amor de verdade/Correr perigo, amar de verdade”. Já tive essa honra de viver isso. Ainda vivo, afinal, não acaba, que bom ter tido um amor de verdade.
Volta e Meia: parece até que ele tá falando de mim ouvindo as músicas desse álbum, pois “ Quando o rádio toca uma música de amor/Penso que é comigo que conversa o cantor/Como ele sabe tudo o que me aconteceu?/Mudo de estação, também sou eu.” Volta e Meia fala de um pobre rapaz apaixonado, mas tão complicado quanto qualquer outro jovem nos seus 20 e poucos anos quase 30: “Dou meia volta e volto meio incerto do que eu vou fazer”.
Bielzinho/Bielzinho: uma clara homenagem ao baterista da banda, Biel Basile, que de vez em quando toca com o pai do Tim Bernardes, o amoroso e maravilhoso Maurício Pereira. E por que duas vezes o nome com essa separação por uma barra? Talvez uma questão estética pra compor a imagem total do álbum, mas talvez também represente esse tanto de Biel que tem no Biel.
O Bilhete: talvez todas as músicas desse álbum, em algum momento, falem um pouco de amor. Junto com Volta e Meia, O Bilhete é a outra música onde isso fica mais claro. Aqui a gente ouve uma historinha, O Terno sem música-história não seria O Terno! Aqui, fazendo parte desse quebra cabeça todo, também temos uma música que fala de algo que não é mais, que mudou, que acabou, “Do moço antigo, ela quase esqueceu/Era preciso esquecer para poder prosseguir”.
Profundo/Superficial: em Eu Vou, vemos uma mensagem mais positiva, é como se a gente tivesse acordado num daqueles dias onde tudo parece ser mais bonito e promissor e nos sentimos fortes e dispostos, em “Profundo/Superficial” o que a gente escuta são os muitos lamentos que existem antes desse dia “alegre” chegar. Profundo/Superficial é a perfeita contradição de Eu Vou, mas, as duas juntas, são exatamente que vivemos: dias de luta, dias de glória — e olhe lá!
Passado/Futuro: de todas as músicas, essa talvez foi a mais difícil para eu interpretar… Não sei falar muito sobre, mas, saca só: “Derrubar o muro, bagunçar com tudo/Nostalgia da novidade, saudades do futuro”… Essa frase fala muito da gente, não é? Que nostalgia da novidade, que saudades do futuro.
E no final: fala sobre o final, ué. As coisas mudam, tudo tem um fim, “Velhos amigos, tempos bons que já não cabem mais/Poder mudar e assumir para deixar pra trás”. Uma sensação um pouco sufocante, de como as coisas parecem ficar sem sentido, de como tudo pode acabar e de como não temos controle sobre essas coisas.